Tecnologia

Stories do Instagram dizem mais sobre você do que você pensa

Um monte de screenshots do Spotify? A gente entendeu que você gosta de música. A gente também gosta de música, viu.
Daisy Jones
London, GB
MP
ilustração por Marta Parszeniew
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Instagram Stories Followers Aesthetic Identity VICE Personality Type
Colagem por Marta Parszeniew.

Ah, os stories do Instagram. Aqueles videozinhos que postamos sobre nós mesmos. Seu próprio mini reality show. A janela para sua alma. O veículo através do qual as pessoas te assistem, e você as assiste te assistindo, e elas te assistem sabendo que você está assistindo, o que significa que todo mundo sabe quem está assistindo quem. Não lembro como chegamos neste ponto, mas estamos aqui e isso está acontecendo.

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Tem muitos motivos pra postar stories no IG. Você pode estar se sentindo bem com seu corpo e precisa compartilhar seu rosto com make perfeito para os outros. Talvez você seja contratado de alguma empresa e precisa conseguir um número de pessoas assistindo para uma loja de fast fashion onde você nunca realmente comprou nada. Talvez você esteja alimentando um animal fofinho, e acha que é uma boa ideia compartilhar a experiência. Ou talvez você queira ver se uma pessoa que você pegou recentemente ainda está interessada, então posta um meme qualquer e fica esperando para ver se o nome dela aparece na lista.

Mas sério – como suas roupas e seu corte de cabelo – stories do IG são uma extensão da sua identidade. Elas deixam os outros saberem exatamente que tipo de pessoa você é; o que você faz nas internas, como são seus amigos, que tipo de comida você come, o que você acha engraçado. Aqui vai quem todo mundo é no insta:

Screenshots constantes de músicas do Spotify

“Guilty pleasure!” você escreve com uma fonte néon, com uns emojis de mãos levantadas, num screenshot de “Circles” do Post Malone. “Subestimado demais!” você escreve no próximo post, de um álbum de hardcore americano de 2005. “FINALMENTE!!!” você coloca em caps numa música da Cardi B que acabou de sair. Pare de tirar screenshots do Spotify por um segundo e vai lá escutar a porra da música. Também: filmagens tremidas de um show de longe em cinco vídeos em que as pessoas precisam clicar.

Na cama com uma máscara facial, dando um zoom na sua cara

“Não é depressão, é autocuidado!” você pensa, depois de cinco noites consecutivas na cama com uma máscara de beleza, só pausando os testes do Buzzfeed e a leitura do horóscopo para postar outro vídeo da sua cara no vácuo da câmera. Pena que você não prestou atenção na lista de ingredientes pra saber que colocar perfume e ácido glicólico na cara por cinco dias seguidos vai foder com a sua pele por uma semana.

Fotos de férias de praias ensolaradas, um boomerang de você segurando um drinque em algum lugar (Itália?), fotos de janela de avião

Você tem 20, 30 e poucos anos. Você tem uma carreira, talvez um cachorro. Você parece feliz, quase como… se estivesse com a vida ganha? Não tem outra explicação para usar as stories do Insta do mesmo jeito que as gerações passadas usavam câmeras descartáveis.

Um meme atrás do outro

O que isso diz sobre você depende muito da qualidade do meme. Se você só está postando qualquer coisa que o @poundlandbandit fez naquele dia, tudo bem, sim, você também gosta de dar risada. Se você está postando meme atrás de meme de material de nicho sobre depressão, astrologia e/ou Comunismo, você é obviamente uma lenda e a única razão para eu não ter jogado meu celular pela janela.

Fotos sensuais

Tem vários tipos de fotos sensuais. Aquelas com maquiagem perfeita. Aquelas casuais, antes de dormir, com um pedacinho do peito aparecendo. Aquelas que você tira no espelho antes de sair. Qualquer que seja o caso, fotos sensuais são o melhor tipo de stories, onde você está basicamente dizendo “olha como sou gostoso/a, me dê biscoito”, e esse é um jeito existencialmente radical de se comportar num mundo que constantemente faz você se sentir um merda.

Exposição de arte, plantas que parecem saudáveis, café preto casualmente do lado do livro Argonautas da Meggie Nelson

Você é basicamente quem eu poderia ser se não estivesse sempre sem grana, fosse alcoólatra limítrofe e desse a mínima pra vida.

What Your Instagram Stories Say About You Screenshot
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Falando demais de sexo, drogas, saúde mental, dinheiro e família

“Estou transando com esse cara e ele literalmente me mandou mensagem pra dizer que tem herpes, mesmo que a gente não seja poliamoroso??” você escreve em cima de um close da sua cara, depois posta screenshots da conversa do Whatsapp, com anotações. Quando as pessoas respondem, você posta as respostas também, com emojis de palmas. Você foi assim a vida inteira, a única diferença aqui é que a tecnologia evoluiu o suficiente pra você fazer isso constantemente, sem parar, pra sempre.

Bagulhos aleatórios, tipo um close de um limão ou um carrinho de bebê abandonado na beira da estrada

Entendi. Você fez curso de artes e não gosta de pessoas.

Parece que você está sempre na balada

Essas stories sempre começam inocentes. Amigos tomando cerveja num sofá. Talvez alguém dançando Lizzo numa cadeira na cozinha enquanto chega a meia-noite. Seis horas depois e a barra de stories no topo parece uma pequena fileira de formigas. Todo vídeo é de corpos na pista de dança, com música dance bombando no fundo. Mas são os vídeos finais que perturbam. Uma foto borrada do seu amigo sem camisa. Essa é de alguém cheirando pó “2 horas” atrás? São 9h12 da manhã. Não sei como você consegue manter um emprego pra poder sair três vezes por semana, no mínimo.

Só fotos e vídeos do seu cachorro

Você é uma rara alma pura que não precisa de validação para se sentir bem – você usa stories do IG pra compartilhar o que ama, que é o seu cachorro. Às vezes você posta uma foto do prato que você cozinhou com “Nham!” escrito em cima, ou umas conchas legais que você achou na praia. É um pouco irritante ter que assistir mais um vídeo de você jogando a bolinha para sua pequena besta babona, mas aí lembro que o mundo está morrendo e você está aqui, só curtindo os prazeres simples da vida.

@daisythejones / @m.parszeniew

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