O ano em que militares brasileiros investigaram OVNIs na Amazônia

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O ano em que militares brasileiros investigaram OVNIs na Amazônia

Em 1977, muito antes de Varginha ficar famosa, cidadezinhas do Norte e Nordeste do país contavam com avistamentos de objetos luminosos inexplicáveis.

Há 40 anos o Brasil parecia pertencer a outra dimensão. Ainda tínhamos uma seleção de futebol que encantava o mundo, vivíamos sob uma triste ditadura militar que dava discretos sinais de abertura e, como muitos não sabem, havia um monte de avistamentos de objetos voadores não identificados — nossos queridos OVNIs.

Apesar de muita gente não levar o assunto a sério hoje em dia, naquela época era tema de debates técnicos e acalorados entre autoridades nacionais. Chegou ao ponto da Força Aérea Brasileira (FAB) conduzir uma operação para entender por que tanta gente relatava avistamentos nas regiões Norte e Nordeste do país. Chamada de Operação Prato, a missão foi iniciada em outubro de 1977 e é ainda hoje, exatos quarenta anos depois, tido como o principal caso ufológico ocorrido no Brasil.

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As histórias de contatos com possíveis seres extraterrestres no Brasil não eram novidade quando a operação teve seu início. O país já havia apresentado outros casos estranhos que ficaram famosos. Alguns eram mais caricatos como o caso Villas-Boas, de 1957, em que um agricultor afirmou ter mantido relações sexuais com uma mulher durante sua suposta abdução. Um pouco menos controverso, no ano seguinte tivemos o caso da ilha de Trindade, no litoral do Espírito Santo, onde um OVNI foi avistado pela embarcação "Almirante Saldanha".

As Forças Armadas entraram em cena oficialmente apenas dez anos mais tarde, quando a FAB fundou seu primeiro órgão para pesquisar os avistamentos, o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI). Entre 1968 e 1972, o órgão atuou na coleta de evidências e relatos sobre a atividade de OVNIs no espaço aéreo brasileiro.

Formatos de OVNIs catalogados pelo SIOANI anos antes do inicio da Operação Prato. Crédito:Arquivo Nacional

Apesar do encerramento das operações do SIOANI, os relatos de avistamento de objetos chamaram, anos mais tarde, a atenção da imprensa nos estados do Pará e Maranhão. No início do segundo semestre de 1977, jornais como O Liberal e O Estado do Pará relataram objetos estranhos e luminosos aparecendo no céu. "Luz misteriosa apavora Viseu" e "Objeto voador chupa sangue das vítimas" são os títulos de algumas das matérias que estamparam as edições da época.

Segundo informou o Coronel Uyrangê Hollanda — responsável pelo comando da Operação Prato — em entrevista concedida em 1997 à revista UFO, estes fenômenos já estavam sendo pesquisados pela Aeronáutica, mas foi apenas no mês de outubro daquela ano que a operação começou para valer.

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A ilha de Colares, no norte do Pará, foi o local para onde o coronel junto de outros quatro militares se dirigiram para realizar a investigação. O local hoje é uma pequena cidade localizada no litoral paraense a pouco mais de 100 km de Belém e com população inferior a 12 mil habitantes, segundo a estimativa populacional divulgada neste ano pelo IBGE. Na época, era pouco mais que uma vila de pescadores.

As investigações dos militares tiveram início em 20 de outubro, quando passaram por diversos povoados da região coletando depoimentos e fazendo estudos do céu. Conforme o relatado nos documentos da missão, chegaram à ilha no dia 26 daquele mesmo mês.

Segundo o relato do coronel, a cidadezinha de Colares e o município vizinho de Vigia enviaram um ofício para o COMAR (Comando Aéreo Regional) que cuidava da área pedindo ajuda com a situação que se desenrolava por ali. O medo que o povoado sentia do aparecimento dos OVNIs levava os moradores "à noite acender fogueiras e soltar fogos de São João" para espantá-los.

Como foi divulgado nos relatórios oficiais da primeira missão da operação, foram colhidos diversos relatos de moradores da região. Eles afirmaram que foram atacados pelo que ficou conhecido como "Chupa-Chupa", ou como foi divulgado em reportagens da época, "a luz vampira".

Ainda segundo o relato do coronel, as pessoas atingidas acreditavam que as aparições estavam sugando seu sangue. "As mulheres exibiam no seio esquerdo marcas de duas agulhas com mancha castanha no entorno, como uma queimadura por iodo", disse.

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A maioria dos casos, de fato, envolvia mulheres. Segundo o coronel, "cerca de 8 a 10 mulheres para cada homem". Os militares não foram os únicos a coletar tal informação. No dia 19 de novembro de 1977, o jornal A Província do Pará publicou a manchete "'Vampiro interplanetário' só gosta de mulher".

Apesar de não terem relatado nenhum "ataque" sofrido pelas luzes, os cinco militares da operação afirmaram em seus relatórios avistar corpos luminosos fazendo movimentos estranhos em diversos momentos. O próprio coronel afirmou, em outra ocasião, que detectou várias formas de objetos. "Sondas, naves, disco voadores e a maior de todas que a gente viu tinha a forma de uma bola de futebol americano", falou.

Este último objeto faz parte do relato mais impressionante feito pelo militar durante a segunda missão da operação. Ele afirmou ver um objeto com cerca de 100 metros de comprimento a cerca de 70 metros de distância da embarcação onde estava, a Baía do Sol, a sul do povoado de Colares. "Pareciam ter absoluta certeza de onde estávamos, eles pareciam saber com segurança o que estávamos fazendo e onde estávamos", comentou Uyrangê.

Poucos dias depois, em 5 de dezembro daquele ano, em reunião com seu superior, o coronel relatou o avistamento daquele "troço enorme" visto dias antes. Pela primeira vez abandonara sua postura cética em relação aos discos voadores. Diante do relato do militar, o brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira cancelou a operação. Até hoje a decisão permanece um mistério.

Apesar da magnitude e do tempo despendido na pesquisa durante a operação, Raphael Pinho, um dos responsáveis pelo site dedicado à investigação dos fenômenos estudados pela aeronáutica, afirma que os avistamentos continuaram pelo país. "Operação Prato investigou apenas uma parte de um fenômeno maior, que se iniciou no estado do Maranhão, nas imediações da Baixada Maranhense, nos primeiros meses de 1977 e, após migrar vagarosamente ao longo dos meses, atingiu seu ápice no último trimestre desse mesmo ano, em localidades próximas da Baía de Marajó", afirmou

Segundo o pesquisador amador, o fenômeno conhecido como "Chupa-Chupa" atingiu seu ápice durante o período da investigação militar. "Apesar da perda de intensidade ao longo do ano de 1978, o fenômeno permaneceu apresentando alguma atividade durante grande parte do ano", diz.

Boa parte do material que hoje está disponível sobre esta operação foi divulgado no ano de 2010, quando a Aeronáutica liberou seus arquivos sobre avistamentos de OVNIs. Eles estão disponíveis no site do Arquivo Nacional. Para acessá-los é necessário efetuar um cadastro. O que dificulta maiores esclarecimentos é que todos os envolvidos diretamente na operação já faleceram. Grande parte investigação, então, seguirá como misteriosa e sem respostas científicas.

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