Apesar do Ryan Gosling, ‘Blade Runner 2049’ bateu bem
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Apesar do Ryan Gosling, ‘Blade Runner 2049’ bateu bem

Nem a atuação sofrida do ator conseguiu estragar a sequência mais esperada do cinema em 2017.

Sei muito bem que uma parte aí dentro de você não queria que Blade Runner, clássico sci-fi baseado no conto de Phillip K. Dick, ganhasse uma sequência. O filme original já era perfeito, pra quê uma sequência? Já não temos decepções o suficiente como Tron: Legacy, a ridícula continuação de Indiana Jones e mais um monte de exemplos horríveis? Pois bem, trago boas notícias: o filme é bom.

A história é centralizada no Policial K (Ryan Gosling) da Polícia de Los Angeles em — duh — 2049. K faz parte de uma nova geração de biorobôs obedientes reintegrados à sociedade para cumprirem tarefas que ninguém deseja fazer (trabalho sexual é uma delas, claro). K é um novo blade runner que caça androides de modelos anteriores para aposentá-los. Nisso, o policial descobre um mistério que pode ameaçar a ordem da sociedade moderna o levando até Rick Deckard (Harrison Ford), escondido nos escombros do que antes era a cidade de Las Vegas.

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Denis Villeneuve, diretor do longa, pegou uma bomba-relógio nas mãos: ou ele fazia uma belíssima continuação de um clássico de 35 anos atrás ou ele destruiria tudo pela frente, enfurecendo fãs e estragando infâncias alheias de espectadores mais sensíveis. Saíram resenhas antes mesmo da estreia do filme antecipando um fiasco possível.

Uma continuação para Blade Runner já era discutida desde 1999, quando um autor escreveu uma sequência do filme e se arrastou longamente até 2015, quando Villeneuve foi confirmado como diretor e Ridley Scott como produtor, Ford no elenco e até Hampton Fancher, roteirista do primeiro longa para essa continuação.

Esse resgate às raízes do clássico deu certo. O filme é visualmente maravilhoso e graças à tecnologia atual tudo que não era possível em termos de efeitos especiais no primeiro longa foi executado com muito sucesso em 2049. Desde a Los Angeles futurística, suja e colorida, até os figurinos impecáveis.

A tempestade incessante que perdura durante as cenas de LA também conseguiu manter aquele climão de filme noir que vimos no primeiro longa, além das mudanças climáticas inseridas nos cenários. Infelizmente não dá para se aprofundar mais no enredo sem entregar os pontos do longa, mas a história prende e se apega até em aspectos comuns de narrativas típicas de romances policiais: não acredite em nada que parece ser óbvio demais.

Assim como A Chegada, a direção de Villeneuve parece se apegar em um protagonista que leva o filme junto com o espectador. No caso de Ryan Gosling, ficou um pouco sofrível acompanha-lo durante duas horas e meia de longa. O ator galã-canastrão parece não conseguir de forma alguma mudar a expressão facial, o que me leva a concluir que Gosling é o Murilo Benício de Hollywood. O Policial K é um ótimo personagem, mas em alguns momentos parece que o ator se confunde e de repente começou a atuar como o piloto de fuga de Drive. OK, ele é um androide, então tudo bem não ter muitas expressões faciais.

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Ainda bem que o filme conseguiu ser maior do que o protagonista. Inclusive a escolha de Robin Wright como a chefe de polícia e a atriz holandesa Sylvia Hoeks no papel da androide Luv agradou bastante no decorrer da história. Até a breve participação do Jared Leto no longa (ele aparece em duas cenas no máximo) não foi tão ruim. Se ele aparecesse mais até estragaria.

A subtrama de 2049 que ficou chata. Forçaram uma história de amor entre o Policial K e Joi (Ana de Armas), sua namorada-holograma aka waifu que o acompanha durante uma parte considerável do filme. O que poderia levantar algo mais complexo a ser explorado, como se existiria um sentimento real entre um biorobô e um holograma, mas ficou parecendo uma fanfic que você acha em algum chan da vida sobre um cara solitário que ama sua namorada tirada de um anime hentai: constrangedor.

O par romântico não segue naquele esquema de amor predatório muito presente em quase todos os filmes de aventura estrelados pelo Harrison Ford, o que é bom. Porém, toda presença de Joi é algo completamente dispensável. Sério, a personagem é tão qualquer coisa que parece que foi colocada só para cumprir a cota de mulher-bonita-que-mostra-os-peitos. Não chegou a me enfurecer ver nessa altura do campeonato uma personagem feminina malfeita em 2017, mas poderiam ter amarrado melhor o roteiro para inserir o tão amado nu feminino nas cenas sem zombar da inteligência do espectador.

Veredito final? Vale pagar pelo ingresso superfaturado pra ver no cinema. A história é bem escrita, a fotografia é impecável e há alguns momentos que resgatam passagens do primeiro filme que me causaram um comecinho de choro. A infância de todo mundo continua intacta com Blade Runner 2049. Porém, saibam que sempre há a chance de ter um terceiro filme para cagar tudo de vez.

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