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O Silva quer deixar sua vida mais leve em meio à crise política

Músico capixaba lançou seu quinto álbum, 'Brasileiro'.
Foto: Wilmore Oliveira/Divulgação

Durante o auge da greve de caminhoneiros, na última quinta (24), o cantor e multi-instrumentalista capixaba Silva lançou seu quinto álbum de estúdio, Brasileiro, com participações ilustres de Anitta e o letrista do Clube da Esquina, Ronaldo Bastos. Na festa em São Paulo, onde a imprensa e convidados ouviram o disco pela primeira vez, a voz suave do artista natural de Vitória combinada ao pop gringo mainstream contrastou com a pequena agonia de todos presentes se conseguiram voltar para casa ou não por causa da falta de combustível. Na hora de ser entrevistado pelo Noisey, Silva até brincou sobre a situação. "Não sei se volto para casa amanhã."

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Para embalar a audição, Silva chamou a Larissa Zaidan, fotógrafa grelo duro da VICE Brasil, para expor uma série de fotografias tiradas durante sua viagem em Belém do Pará. “Quem me apresentou o trabalho dela foi o André Paste, o curador da minha vida (risos),” conta. “O jeito que ela fotografa as coisas tão reais, brasileiras e com tanto respeito e sem ser aquela pobreza demagógica. Ela capta com muito carinho, com muita naturalidade essas situações e sem ser invasiva.”

Assim como as fotografias de Zaidan, Silva também pegou aspectos da identidade e a “mistura maluca” do Brasil para criar seu novo disco, e especialmente se inspirou na sua cidade de origem. “Sempre me associaram a filho de rico porque eu toco violino (risos), mas fui criado na Consolação, bairro na periferia de Vitória. Minha casa ficava no pé do morro e meus vizinhos iam desde o pessoal de escola de samba, dos terreiros de candomblé até o pessoal evangélico”, explica.

A escolha também em trazer a cidade de Vitória nas suas músicas veio da falta de reconhecimento que o artista sente que existe em outros artistas capixabas. “Na minha cidade não tem nem elite cultural, porque a galera vai embora o quanto antes”, critica. “Eu sou muito apaixonado por Vitória e já ouvi muita gente falando que não conhecem nada de lá. Sinto que seja por causa de artistas grandes do passado, que não vou falar nomes (risos), que não falavam de lá. Tem um certo ranço com as suas origens que não sei qual. Eu acho legal mostrar de onde eu venho, especialmente porque a cidade não é nem mencionada na previsão do tempo (risos).”

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O canceriano de 29 anos também conta que se abriu musicalmente para coroar essa nova fase do Brasileiro. A delicadeza e o otimismo já conhecidos do cantor ainda estão presentes nas letras e melodias do seu quinto álbum, mas também há um mergulho do popzão mainstream que todo mundo gosta (mas finge que não) em algumas músicas e também o inevitável flerte com pontos de umbanda. “Eu nunca gostei dessa divisão erudita da música, tenho pavor disso aliás. Apesar de minha mãe ser evangélica, ela nunca teve preconceito com música. Sempre ouvi música brasileira abertamente e fui me aprofundando para fazer esse disco”, conta.

Apesar do título e vibe geral do álbum dar um certo tom de crítica social foda, Silva abordou o ethos do brasileiro atual sem precisar espirrar bordões batidos contra políticos. “Eu sei que a gente tá num momento super denso e esquisito no Brasil. Já tive amigos músicas me cobrando para fazer coisas mais fortes e políticas, mas eu acho que como músico você pode escolher vários caminhos. Eu quero contribuir para as coisas ficarem mais leves, ter mais esperança. Eu tenho TV e internet em casa, sei o que está acontecendo, mas não quero pesar mais. O disco vem com uma leveza que eu espero para o futuro. Eu sei que tudo vai passar e a música vai ficar. Tem críticas no disco, mas com sutileza. Quem tá nesse momento vai ouvir e entender e espero que quem ouvir depois entenda também sobre esse momento.”

O álbum Brasileiro já está disponível em todas as plataformas digitais.

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