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'Custo por hora' é uma péssima maneira de se avaliar games

A revendedora digital de games Green Man Gaming analisa jogos de acordo com seu valor por hora jogada.
'Journey'. Imagem: Sony/Divulgação.

Confesso que antes de começar a jogar um game, verifico o tempo necessário para zerá-lo. Será que o RPG que tenho em mente é um épico de 50 horas pra jogar pelos próximos dois meses ou algo que posso matar em uns poucos finais de semana? Ter esse tipo de dado em mãos me ajuda a lidar com expectativas: tem momentos em que busco algo curto e em outros busco algo mais extenso.

O que não me interessa, porém, é avaliar o valor de um jogo com base nas horas que passarei jogando ele. Não preciso saber quanto cada hora de conteúdo irá me custar. A Green Man Gaming — uma loja digital de games — acredita que os jogadores gostariam sim de saber isso.

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Como apontado por Mike Rose, fundador da publisher de games No More Robots, no Twitter, a Green Man Gaming publica dados e fatos sortidos sobre os títulos que vende, que podem incluir informações como quantos usuários da plataforma compraram aquele jogo, o tempo médio jogado e o custo médio por cada hora de jogo. Just Cause 3, por exemplo, costa cerca de 1,68 dólar por hora, já Pillars of Eternity chega na casa dos 2,02 dólares.

Rose não ficou muito feliz com a ideia e escreveu que a Green Man Gaming estaria “ajudando a perpetuar a noção perigosa de que o preço de um game deva se basear nas horas que você aproveita dele”.

Gamers há muito vem empregando o custo por hora como medida de qualidade para jogos. A GameSpot costumava dar uma nota no quesito "valor" de um jogo, ao lado de categorias como “gráficos” e “jogabilidade”. Não é uma ideia das mais ridículas, se você for ver, levando em conta que um game custa em média 60 dólares nos dias de hoje e consigo entender bem o caso de alguém que só pode comprar um ou dois jogos ao ano acabar se frustrando ao perceber que já fez de tudo no título em umas poucas horas. Mas este é um jeito antiquado de julgar quanto um game realmente vale.

“É nojento”, disse Rose via email. “É algo que muitos desenvolvedores tem combatido há um bom tempo — esta ideia terrível de que um jogo só tem valor se te rende tantas horas de jogatina”.

Eu já me senti roubado ao pagar o preço integral de um game curto, veja bem. Até hoje não perdoei a Square Enix por The Bouncer. Mas também já me peguei jogando games curtos que eram maravilhosos: Firewatch e Journey são dois títulos ótimos com algumas poucas horas de duração. Firewatch mesmo se viu às voltas com fãs que adoraram o jogo, mas pensaram em pedir um reembolso por entender que seu desenvolvedor havia cobrado muito caro por pouco conteúdo.

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"Pra gente, os games nunca foram tão bons e se tornaram parte do entretenimento popular. Visto que a indústria do entretenimento global fatura 215 bilhões de dólares anuais e os games correspondem a um terço disso, há muita competição pelo tempo do consumidor", disse Paul Sulyok, CEO e fundador da Green Man Gaming, em um email pra Motherboard. "Há tantas escolhas pra se entreter que o consumidor precisam fazer escolhas bem informadas sobre onde ele gasta o seu tempo livre, seja indo pro cinema, assistindo a uma stream ou jogando games."

Sulyok disse que a Green Man Gaming acredita que jogar é uma "forma de entretenimento de bom custo/benefício" e que os valores de custo por hora permitem que a comunidade faça essas escolhas bem informadas para decidir como melhor gastar o seu tempo e dinheiro. "Essa estatística foi apresentada para responder a uma demanda da nossa comunidade que estava buscando novas maneiras de investir o seu dinheiro, e isso não está diretamente ligado ao valor ou à experiência do jogo", afirmou.

Rose comentou ainda que outros formatos não sofrem com este problema. “Você vê gente comentando que só vai assistir o próximo filme dos Vingadores se for mais longo que o anterior?”, comentou. “Claro que não, então por que temos isso nos games?”.

Imagem: Green Man Gaming

De acordo com Rose, este tipo de pensamento acaba afetando negativamente desenvolvedores. “Se serve de algo, é gerar jogos piores”, disse. “Os desenvolvedores acabam se sentindo pressionados a inflarem seus jogos de forma a torná-lo mais atraente para jogadores — coisas como enfiar mais duas horas de cutscenes ou aumentar a dificuldade de maneira artificial de forma a agregar valor. É uma péssima maneira de encarar o meio e precisamos nos afastar dela o quanto antes”.

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Muitos jogos de mundo aberto, como Ghost Recon Wildlands e Far Cry 5, estão lotados de tarefas repetitivas que estão ali só pra aumentar o tempo do jogo, sem adicionar nada ao enredo ou experiência. Pior ainda, não há como gerar dados precisos que reflitam o custo de um game por hora.

Não está claro como a Green Man Gaming chega a estes números. “Um antigo funcionário de lá me disse que estes dados não são nada precisos”, comentou Rose. “Quando as pessoas ligam seu perfil do Steam à Green Man Gaming, a loja acaba por obter dados como tempo de jogo e tira uma média com base nisso, o que é besteira pura por diversos motivos.”

Sulyok disse que esses números na verdade são precisos, e são calculados cruzando duas bases de dados distintas: "O número total de tempo de jogo da nossa comunidade e o preço de venda realmente são o que aparecem na loja", ele disse. "Esses dados são baseados na nossa comunidade, que fomentamos desde quando compramos a Playfire [antiga loja digital] em 2012."

A dica é: compre games que te interessem, não se preocupe com o tal valor por hora. É uma merda pagar caro por um game ruim, mas dados como esses não vão te impedir de pegar um jogo horrível. Não importa o preço, uma hora de algo especial vale bem mais que 100 horas de lixo.

Matéria originalmente publicada na Motherboard US.
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