A evolução do funk putaria em 15 sons
MC Livinho. Foto: Felipe Larozza/VICE

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Noisey

A evolução do funk putaria em 15 sons

Selecionamos as músicas essenciais pra contar a história de uma das vertentes mais longevas do funk.

A história do funk putaria, para os desavisados (ou jovens), começa por volta de 2013 com os sons tanto eróticos quanto cômicos de artistas como MC Livinho e MC Pedrinho, entre outros. Entre hits como "Dom Dom Dom" e "Pepeca do Mal", foi essa galera quem deu uma segunda onda de gás ao funk ostentação e fez o funk paulista voar ainda mais alto, se tornando unanimidade no país todo. Se uma galera como MC Fioti e MC Don Juan estão bombando hoje, é muito graças a esses precursores do funk putaria em São Paulo.

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Mas essa história não começa na capital paulista, muito menos nos anos 2010. Lá pro fim dos anos 90, começo dos 2000, o funk carioca já se apoiava em temáticas sexuais em meio aos proibidões e conscientes — não esqueçamos que a própria origem do funk é o miami bass, gênero do electro que já tinha muito conteúdo sexualmente explícito.

Assim como quase todo o conteúdo que envolve sexo, o funk putaria é alvo de críticas ferrenhas e moralistas, e as referências explícitas são normalmente a desculpa para a censura (não à toa a tão popular sugestão legislativa de criminalização do funk que foi discutida na Câmara de Direitos Humanos no ano passado sugeria que o gênero incentivava "orgia e exploração sexual, estupro e sexo grupal entre crianças e adolescentes"). No artigo Mora na filosofia: Putaria é lixo, porém, o pesquisador Carlos Palombini explica que a putaria é, antes de tudo, ficção:

A Putaria toma arquétipos sexuais, por definição sexistas, que são representados e reprocessados por DJs, MCs, dançarinos e ouvintes. Mas o sentido da Putaria não está nos arquétipos, e sim nos usos que se faz deles. Ele só pode ser entendido com referência a situações concretas em contextos específicos. A sexualidade mirabolante do funk carioca é uma fantasia, tão mais efetiva quanto mais distante da realidade, quanto mais derivativo e musical o sentido que lhe seja atribuído.

Pra começar, então, a contar o funk putaria do começo, o Noisey juntou quinze sons que resumem a história do gênero e sua evolução histórica e geográfica ao longo das últimas duas décadas. Acompanhe abaixo.

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Antecedentes

Bonde do Tigrão - "Cerol na Mão" (2000)

A união sinistra do tamborzão com o miami bass favoreceu a putaria no funk carioca desde muito cedo: lá em 2000, na segunda coletânea Tornado Muito Nervoso da Furacão 2000, o Bonde do Tigrão chega com "Cerol Na Mão", um dos mais famosos nessa época. Eles também lançaram "Me Usa" nessa mesma linha. É provável que a influência tenha vindo do axé e do forró que, com essa maior popularização do funk, começaram a dividir seu espaço com o gênero e serviram de inspiração para os MCs.

Deize Tigrona - "Injeção" (2004)

A muito notória Deize Tigrona também curtia umas referências explícitas a sexo (como em "Sadomasoquista") ou trocadilhos, como em "Injeção", o hit que foi sampleado por M.I.A e Diplo em "Bucky Done Gun".

Bola de Fogo e Tati Quebra Barraco - " Atoladinha" (2008)

Esse clássico da Tati com o Bola de Fogo é só um nos quais ela também usava do trocadilho; não esqueçamos nunca do "Fogão Dako". Diferente do que rolou depois com o funk paulista, a putaria carioca sempre contou com a perspectiva feminina: além de Tati e Deize, Valesca Popozuda, MC Carol e MC Kátia também investiam no gênero.

Os Hawaianos - "ABCdário da Putaria" (2009)

Também tinha "É o Pente".

V alesca Popozuda e MC Catra - "Tô com o cu pegando fogo" (2010)

É até óbvio falar de Valesca Popozuda e MC Catra na categoria funk putaria — é o próprio, afinal, quem começava seus shows com um grito de "vai começar a putaria!" e tem clássicos como "Adultério". Valesca e sua gaiola, por sua vez, popularizou sons como "Agora Virei Puta" e "Hoje Eu Não Vou Dar, Vou Distribuir". Com "Tô Com o Cu Pegando Fogo" (e a versão clean "Tô Que Tô Pegando Fogo"), os dois titãs do funk carioca ajudaram a popularizar ainda mais a putaria para que, anos depois, ela viesse dar as caras em São Paulo.

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Começo e expansão

MC Magrinho - "Senta ni Mim Xerecão" (2013)

Quando se fala em funk putaria como ele veio a se popularizar nos anos 2010, uma característica não pode faltar: a comédia. A abordagem que esses sons tem do sexo é um pouco diferente das referências explícitas que aparecem nos dos cariocas e conta com uma descrição escrachada da transa (tudo bem pau-na-buceta, sem muita conversa), geralmente por cima de um sample mais melódico. O primeiro desses a estourar, porém, estava ainda no Rio: "Senta Ni Mim Xerecão", do MC Magrinho.

MC Livinho - "Pepeca do Mal"/"Mulher Kamasutra"/"Picada Fatal" (2014)

Nos anos seguintes, a coisa pegou em São Paulo e aí não teve quem segurasse. O Livinho surgiu nessa época com três hits diferentes, "Pepeca do Mal", "Mulher Kamasutra" e "Picada Fatal", e foi lançado ao estrelato imediatamente, ganhando o papel de primeiro funkeiro-galã entre as minas.

MC Pedrinho - "Dom Dom Dom" (2014)

Quem acompanhou a polêmica com MC Doguinha e MC Loma no começo desse ano deve ter se lembrado das inúmeras polêmicas de crianças com o funk putaria nessa época: além do Pedrinho, que surgiu aos 11 anos com "Dom Dom Dom", também teve a ascensão de Boladinho ("Que Popô é Esse?"), Brinquedo e Pikachu.

MC Brinquedo - "Roça Roça" (2014)

Uma força importante de propulsão do funk putaria em São Paulo foi a KL Produtora, casa inicial de MC Brinquedo, MC Bin Laden, Os Cretinos, MC 2K, MC Pikachu. Impossível esquecer da clássica Semana Maluca de 2014, que nos proporcionou sons como "Nova Brincadeira" e a versão original de "Roça Roça", do Brinquedo, que mais tarde estouraria pra bem além da KL.

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Tati Zaqui - "Parara Tim Bum" (2014)

A contribuição das mulheres pra putaria de São Paulo se materializou em "Parara Tim Bum", da Tati Zaqui, que se envolveu até em treta com a Disney por usar um sample de um som da trilha sonora de Branca de Neve. Outro notório hit de mulheres na putaria paulista da época é "Toma Bumbum", da MC Mirella.

Popularização

MC João - "Baile de Favela" (2015)

Com o passar do tempo, o funk putaria foi perdendo o tom cômico na mão de alguns artistas e as polêmicas se tornaram ainda mais escandalosas. O megahit "Baile de Favela", do MC João, que na época chegou a se tornar o vídeo mais visto do canal do KondZilla no YouTube foi alvo de muitos textões pelo conteúdo da letra.

MC Kekel - "Meiota" (2016)

A putaria paulista nasceu da ostentação, e não demorou para que esta desse as caras de novo. Kekel tratou de juntar as duas em "Meiota": só vai andar de moto cara se sentar no colo do pai.

MC G15 - "Deu Onda" (2017)

O sucesso do verão de 2017 "Deu Onda" simboliza um paradoxo que a putaria vivencia ainda hoje. A megapopularização do gênero fez com que os sons chegassem as canais maiores, como o gigante KondZilla, mas, pra tornar as músicas mais palatáveis a um público mais amplo, a putaria tem que ser cortada em grandes partes e as faixas ganham versões "clean" que acabam ficando até mais famosas que as originais.

Tipo exportação

Rennan da Penha e MC Kevin, o Chris - "Finalidade na Penha" (2017)

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Como é o caminho natural das tendências no funk, a putaria ficou tão gigante que saiu de São Paulo e foi novamente procurar ninho em outras cenas. O funk 150 BPM mostra que os cariocas pegaram a putaria de novo pra si em sons como "Finalidade na Penha", do MC Kevin, O Chris com o Rennan da Penha.

Djonga e MC Rick - "Me Orienta" (2017)

O funk de Belo Horizonte, que sempre foi de uma vertente mais consciente, também achou lugar na putaria nas mãos de MCs como MC Rick, que no ano passado gravou "Me Orienta" com o Djonga.

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