Volta e meia, quando nos deparamos com algo bizarro nas redes sociais ou na vida, bate aquela impressão de que aquilo seria digno de mais um dia comum na Rússia. E essa lógica não poderia ser diferente com o Enem.Em qual exame é possível se deparar com uma pessoa que se preparou com cerveja - isso mesmo: com breja - horas antes da prova? Ou, então, com alguém que apareceu com uma garrafa térmica cheia de café para consumi-la despreocupadamente no dia D, por exemplo?
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Causos surreais relacionados ao Enem existem de sobra. E o mais legal disso é que essas passagens não têm relação nenhuma com quem faz questão de perder horas da própria vida para ir até o local de prova, só para rir da cara de quem chega atrasado. Aqui vamos mostrar o lado divertido, pitoresco e galhofeiro do exame. Afinal de contas, tanto candidatos como monitores são gente como a gente.O livreiro José Wesley Pádua já trabalhou como monitor de sala no Enem e se deparou com um fato inusitado em uma das oportunidades, em 2016. Quer dizer: muito inusitado.“Temos de fazer a conferência de pertences, como celulares e eletrônicos no saquinho [para guardar itens eletrônicos durante a prova]. Quando pedi para um dos participantes mostrar se havia algum lanche ou bebida, ele tirou uma marmita da sacola”, descreve, ao falar sobre os alimentos que estavam armazenados na vasilha. “Havia arroz, feijão, um bife e um ovo - estava com a cara ótima, por sinal.Apesar de ter ficado constrangido com a situação, Wesley falou que a reação do candidato em questão foi para lá de desencanada. “Ele não pareceu nada constrangido ou incomodado: abriu, mostrou e fechou. E ainda perguntou se poderia ficar com a sacola”, falou, ao citar a reflexão que veio à tona depois. “Uma coisa é verificar estojos e canetas, e outra é ter de olhar a comida de alguém - e não era só um pacote de biscoito. Uma série de questionamentos vêm à mente: ‘poxa, ele deve ter vindo de longe para caramba, pode não ter grana para comprar outra coisa e trouxe o que tinha em casa."
Marmitão durante a prova
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Outra questão que veio à tona diz respeito à corrida frenética que uns e outros fazem para “mitar” nas redes sociais graças a memes que ficam no limite entre o engraçado e o lamentável - isso quando não são apenas lamentáveis.“Tem gente com coragem de ir à porta de universidades zombar de atrasados. Com certeza, se um desses descobre alguém com um rango na prova, ele fará meme e achará isso o máximo”, pondera, ao lembrar que há limites para tudo. “Adoro memes, compartilho vários e faço alguns, mas não dá para zombar de uma parada assim. Ao contrário, isso tem de fazer refletir sobre como as pessoas precisam se sacrificar para atingirem um objetivo e terem uma chance de um futuro mais promissor.”
“Eu vos declaro candidatos do Enem”
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Se a lua de mel estava agendada exatamente para a semana de provas, a saída foi procurar por um plano alternativo. “Como não sabemos onde faremos a prova, decidimos passar a noite de núpcias em um hotel na região central de onde moramos, para facilitar o transporte até o respectivo local de prova de cada um”, relata, ao falar sobre os novos planos posteriores. “Tivemos de mudar a data da viagem também, para a segunda-feira [seguinte], mas o plano inicial era irmos no sábado mesmo. E a volta ficou para o sábado anterior ao segundo domingo de prova”, explica a jovem.Meu papel no “Manual do Enemzeiro” é contar as histórias interessantes de pessoas que tenham algo a acrescentar para candidatos e leitores, além de mostrar que mesmo com todas as adversidades, é possível fazer do Enem uma boa experiência. Mas a verdade é que nem eu escapei de alguns causos no meio do exame.Entre as minhas muitas aventuras no Enem (risos), quase perdi a prova em 2010. Eu estava concluindo a graduação em jornalismo e pretendia fazer outra, voltada às ciências humanas. E os dois dias de exame aconteceram no mesmo fim de semana naquele ano.Na época, eu fazia uma especialização em jornalismo cultural em Santana, na Zona Norte de São Paulo, e as aulas iam das 9h até às 12h. Naquele fim de semana específico, deveria estar em Guarulhos para fazer o exame e, para não haver riscos, optei por sair do curso às 10h45 para estar até as 12h45 sem sustos no Centro de Guarulhos - o trajeto leva cerca de 50 minutos em condições ideais e não haveria sustos em pleno sábado. Doce ilusão.Se deu tudo certo no trajeto do metrô, que durou quatro estações, deu tudo errado no ônibus: era uma rua travada atrás da outra. Chegou um momento em estava a uns 20 minutos do local de prova e eram 12h40. Qual foi a saída? Descer do ônibus e correr igual a Usain Bolt na rua. Muita gente deve ter achado que eu estava louco? Sim, mas não dei a mínima, pois era eu contra o tempo. A correria deu certo por uma fração de segundos, pois o portão estava prestes a ser fechado quando cheguei - mais um pouco e eu poderia ter virado meme. Qual foi o spoiler da história? Fui aprovado em filosofia - eventualmente, eu larguei o curso, mas essa já é outra história.