BK' planta pensamentos em meio à correria em seu novo som
BK' na gravação do clipe de "Correria". Foto: Gean Guilherme/Divulgação

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BK' planta pensamentos em meio à correria em seu novo som

Conversamos com o rapper carioca sobre "Correria", primeira amostra do seu próximo álbum, 'Gigantes'.

“Eu sou correria igual ao mano que varre as ruas, igual ao mano que vende drogas, correria igual o menor que tá na escola” são os versos que abrem a hipnótica “Correria”, primeiro single do álbum Gigantes de BK'. O speed flow de métrica insana do rapper carioca foi produzido pelo Papatinho e ganha um clipe impecável dirigido por Ronald Land e Caleb Gomes (irmão do BK'). O clipe conta com a participação do artista plástico Maxwell Alexandre que aparece no clipe criando um cartaz inspirado no som do BK'.

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Conversamos com o rapper para entender detalhes do clipe — que você vê no player abaixo — e tentar extrair uma palinha do que está por vir em Gigantes.

Noisey: Essa música fala do cotidiano de muitos brasileiros, que recado você está passando pra eles?
BK': Cara, "Correria" é uma música sobre vitória, sobre vencer, não no sentido de competição, e sim de você vencer de ter o seu lazer, o seu espaço, poder dar algo pra sua família, poder viver, tá ligado? Acho que é isso, o refrão é bem isso mesmo, tu vai ganhar, todo mundo quer ganhar, e sem passar um por cima do outro. Ninguém aguenta mais esse ritmo de competição que é dado no mundo: todo mundo quer ganhar. Eu falo na primeira pessoa exatamente pra isso, pra todo mundo se pôr naquele lugar e falar que vai ganhar, e gritar que vai ganhar.

E ao mesmo tempo é isso, você passar por tudo que tá passando ali e você chegar em casa, se olhar no espelho, jogar uma água no rosto e ver que conseguiu, mais um dia ali, aquela esperança de que tudo vai melhorar. Acho que a musica passa bastante esperança de que tu vai ganhar.

Me conta a história por trás do clipe. Como surgiu essa parceria entre você, os diretores Ronald Land e Caleb Gomes e o artista plástico Maxwell Alexandre pra criar esse que acho que é o teu clipe com visual mais impactantes até agora.
Eu já tinha a ideia do clipe, de apresentar bem os personagens. O álbum é sobre isso, várias vidas, então tem bastante personagens. Eu quis deixar isso bem explicito e lancei a ideia pro meu irmão e pro Land pra gente amarrar tudo e conseguir botar na pista. Eu já tinha trampado com o Land antes, no "Sigo na Sombra", e o Caleb eu já trabalho em vários clipes desde a época do Nectar Gang. Mas agora a gente conseguiu chegar num material de qualidade alta pra não ficar devendo pra nenhum clipe. Não que os outros clipes não tenham sido maneiros, mas falando em qualidade, usamos câmera de cinema, botamos a parada em outro nível mesmo.

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Fala mais sobre os personagens que aparecem no clipe.
Então, o som começa com o BK' ali como uma ideia, um pensamento. Quando o Maxwell tá fazendo o cartaz no inicio ele busca uma inspiração e o BK é uma ideia. É isso que nosso som passa pras pessoas também, tá ligado? Uma vez um moleque parou eu e Akira pra falar isso, pra dizer que o nosso som dava vontade a ele de conquistar. “Quando eu ouço o som de vocês eu tenho vontade de conquistar, de viver”. Isso me marcou muito. Então eu senti essa responsabilidade de estar sempre passando essa mensagem nas musicas também, então posicionei no clipe o meu personagem como uma ideia. E a gente já fez esse trampo na vida real — graças a Deus eu já pude inspirar algumas ideias dele, e isso é foda. É meio que a arte imitando a vida, a arte imitando a arte. Então é ele fazendo o desenho dele, o cartaz, que vai pra gráfica, e a partir da gráfica os moleques começam a colar essa ideia na rua. Esses dois personagens colando a ideia, e outros personagens que estão passando veem o desenho e tem um insight, absorvem um pouco da minha ideia. Uma ideia que tenta abrir a mente das pessoas. Sempre tentando, sempre somando pra isso. E vai acontecendo isso com os personagens — a ideia BK' vai entrando na mente deles e eles vão conseguindo olhar as coisas de outra forma.

Tem uma hora ali que tu faz um tamborzão com a voz no meio da música. Tô ligado que tu se amarra em funk. Tu já tocou em baile? Pretende flertar musicalmente com esse universo!?
Cara, inclusive o tamborzão que tem no beat o Papatinho sampleou da minha voz mesmo, mexeu ali e jogou no beat. Eu vim do funk, já falei antes: nasci no Rio de janeiro nos anos 90, muito funk, tá ligado? Foi questão de segundos pra eu ter rimado rap e não ter rimado funk. Foi quando eu mudei pro Catete e conheci outra galera, mas me amarro em funk. A gente conseguiu fazer uma brincadeira com o WC no Beat que a galera se amarrou, uma musica mais divertida pra dar rolé, mas eu pretendo fazer mais umas coisas com a galera da antiga que eu me amarro pra caralho, são meus professores também. Inclusive, descanse em paz MC G3.

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O Antes dos Gigantes Chegarem vol. 1 tem uma vibe de enfrentamento, enquanto o vol. 2 é mais de calmaria. Eles juntos alertam pra algo que tá por vir. Tô certo?
Cara, o volume 1 traz umas paradas que eu já tinha, “Deus das Ruas” e a “Take Your Little Vision”, e a única que entrou mais nova foi “Top Boys”. No volume 1 eu acho que foi uma parada no estilo que eu já tinha apresentado. Apesar de ter um amadurecimento ali em algumas tracks como “Take Your Little Vision”. Já no volume dois eu já quis fazer uma parada em outras linhas de musica que eu gosto, com um sabor meio melancólico, meio salgado, que eu acho bonito pra caralho. Acho um dos trampos mais bonitos que eu já fiz e também é isso, meio que mostrar vários tipos de sonoridades. Não que o álbum vai seguir a linha do volume 1 ou do volume 2, acho que ele vem noutra pegada também. Os vol. 1 e 2 foram bons pra mostrar que a gente quer explorar as sonoridades que a gente conhece e gosta.

Afinal, quem são esses Gigantes que batizam o próximo álbum? E porque você diz que “eles vão nos afastar”?
É difícil falar com palavras o que são os gigantes… eles são o conjunto de tudo ali, as personagens, as situações, os relacionamentos. Gigantes é um universo, e cada faixa ali é um sistema solar e seus planetas e tal, tá ligado? E sobre “nos afastar”, é por que a primeira parte dessa musica (“Antes dos Gigantes Chegarem”) foi dedicada a uma pessoa que já não tenho mais nenhum contato por causa das correrias da vida, e quando o Gigantes sair é isso: as correrias da vida vão se intensificar mais ainda e vai ficar mais ainda difícil falar com essa pessoa.

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Desde Castelos e Ruínas você vem vivendo uma rotina intensa de shows, videoclipes e patrocínios. Conta um pouco sobre essa loucura e o que vai ser de você agora que os Gigantes chegaram?
A gente vem aumentando o ritmo de show, de trampo, de reconhecimento. Acho muito maneiro esse ritmo de show, de gravar clipe… e eu consigo organizar e ao mesmo tempo bebo minha cerveja, o que é melhor ainda. Mas é isso, faz parte e quer dizer que seu trampo tá funcionando, que você tem bastante show. E se tem o lance do patrocínio ali é porque você tá influenciando pessoas, então as marcas chegam junto.

Já tem data de lançamento do Gigantes? Fala um pouco dos aspectos técnicos do próximo álbum, quem são os produtores? Quem tem de participações?
Ainda quero soltar mais singles e aproveitar esse que estamos lançando hoje, pra galera ir já pegando a visão em relação ao trampo novo. O Gigantes tem várias sonoridades diferentes, vários tipos de beats, é bem versátil. O Papatinho produziu essa track “Correria” só, e depois tem outros produtores fodas como o Nave, o El Lif e o Jonvs, que tão comigo já há um tempão, tem uma galera bacana. Sobre participações… eu prefiro deixar mais pra perto, quando a gente tiver anunciando o disco.

A gente tá num momento especialmente cagado, vagabundo falando merda à rodo na Internet, um cenário eleitoral cabuloso. Como você acha que o rap tá reagindo a isso, e como você acha que ele deveria reagir?
A gente vive num período realmente estranho por que a gente não sabe pra onde vai, a gente não sabe quais são os novos passos da nação, a gente não sabe o que vai acontecer. Além disso, quando a gente liga a TV ou acessa a internet vê muito discurso de ódio, vê que as pessoas que foram beneficiadas pelo sistema tratam como “mimimi”, como eles mesmos falam, a luta das minorias que a gente vive no momento — como se fosse nada. A gente não entende mas tem que ficar atento, preparado, tem que estar vendo tudo e saber de que lado realmente se está. Saber com quem você fecha. E isso no rap também, tá ligado? Por que a gente ainda vê discursos infelizes no no hip hop. Acho que isso falta um pouco pra galera que vem chegando no rap, que é entender e viver realmente o hip hop, porque quando você começa a entendê-lo você passa a ter uma posição de vida, ele te dá um ponto de vista.

Quando você escuta o rap só como música… rap é musica sim, mas é a música de um movimento — o hip hop —, então quando você ouve rap você não pode ouvir como você tivesse ouvindo qualquer outro tipo de música. Ele faz parte de um conceito, de uma luta, de uma história. O que falta pra muita gente que tá chegando na cultura é aprender sobre o hip hop. Você vai ter cuidado no que você vai falar. E isso é diário — até quem tá há mais tempo vai aprendendo e vai falando de outra forma —, mas é principalmente importante pra quem tá chegando agora. E mesmo dentro do rap você vê gente usando esse discurso de “mimimi”, entendeu? “Ah, musica não tem cor”: não é assim. Tem que aprender pra estar falando ali.

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