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Sexo

Em busca do melhor 'filhote' em uma competição de fetiche pup

A única regra no Pan American Canine Konvention é que as apresentações não podem ter nada ilegal.
Todas as fotos por Jackie Dives. 

Pup Ace usava uma máscara preta de cachorro com focinho e orelhas peludas. Ele também tinha uma coleira vermelha no pescoço com seu nome numa plaquinha. Nos tapetes pretos no chão em meio a espectadores, donos e outros "filhotes" – como se autodenominam os praticantes do zooantropomórfico fetiche pup, – Ace se amarrou com uma corda vermelha ao som de The Undertaker (Renholder Mix) do Puscifer. Basicamente um autobondage, com ele amarrando os pulsos e calcanhares. Quando ele finalmente conseguiu amarrar seus quatro membros juntos, senti que qualquer coisa era possível. O público comemorou, enquanto alguns filhotes uivaram: tipo o que você ouviria num canil.

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Mês passado, Toronto recebeu o P.A.C.K. (Pan American Canine Konvention), um final de semana de fetiche pup realizado em vários locais pela cidade. Essa apresentação em particular era parte da competição Best in Show, que teve oito concorrentes este ano. A competição não é aberta apenas a pups gays, que formam a maioria do público, mas também para lésbicas, bissexuais, pessoas trans e não-binárias, além de filhotes héteros que curtem esse kink (desde que eles também comprem o pacote para o evento). O site diz que eles procuram os “filhotes mais adoráveis, talentosos e divertidos”, o que achei um pouco vago. O que é realmente preciso para ser um filhote vencedor?

Paul Argo vem ajudando a desenvolver a cena pup de Toronto há nove anos, começando uma festa temática pup no The Black Eagle, onde o Best in Show acontece agora. Com o crescimento da cena nos últimos anos, ele criou o The Black Eagle Kennel Club, que hoje conta com 400 membros.

Em 2016, ele achou que seria ótimo para a comunidade ter um fim de semana dedicado à cena pup, e assim o P.A.C.K. nasceu.

“A coisa do Best in Show é uma questão de entretenimento”, ele me disse, ressaltando que o objetivo não é encontrar um representante para a comunidade ou um dono do título com a competição. O vencedor não leva para casa uma tigela de estanho ou um troféu prateado como na competição de cães Best in Show de Westminster.

“A única regra é a que a pessoa não pode fazer nada ilegal”, ele disse.

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Cada competidor tem cinco minutos para fazer o que quiser, desde que não seja contra a lei. Eles são julgados pela criatividade e talento, além quão divertidos são de assistir, ganhando um máximo de 20 pontos. Os juízes podem dar cinco pontos extras para um competidor que achem extraordinário. O resto dos pontos vêm do público, que deposita seus votos numa urna.

Argo acrescenta que o Best in Show não é sobre quem age mais parecido com um filhote de cachorro. Ele compara a apresentação a um show de talentos de acampamento.

“Considerando ano passado, eu diria que o Best in Show é uma questão de, sabe, alguém aparecer com confiança e fazer alguma coisa que as pessoas nunca viram ou não estavam esperando”, disse Pup Baren, que está na cena pup há quase dois anos. Ele deve saber do que está falando, já que ano passado ficou em segundo lugar com um cover de Coin-Operated Boy do Dresden Dolls.

Baren se descreve como um pup “grande e simpático”, e usa uma máscara de cachorro azul e preta com a barba aparecendo por baixo. Ele estava usando um colant laranja e azul de luta livre, e tinha algumas tatuagens; um espécime perfeito da sua raça pup.

“É um pouco de talento e um pouco de entretenimento, então você tem que ser talentoso e entreter o público ao mesmo tempo”, disse Pup Ace, o filhote que fez o autobondage.

Ace explica que é o filhote alfa de sua matilha, que ele começou com seu dono. “Pups sempre nos encontram”, ele diz, “e se nos interessamos por eles também, dizemos 'Gostamos de você; queremos que você ande mais com a gente', e formamos um laço a partir disso”.

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Segundo Ace, uma matilha não se forma necessariamente por sexo; pode ser uma coisa social ou de apoio. Mas ele diz que a maioria dos filhotes quer ser parte de uma matilha.

Pup Thumper, que está na cena há uns três anos, tem seu próprio filhote mas não é parte de uma matilha e se identifica como cão de rua. Ele não tem um dono, mas diz que gostaria de ter um dia. Ele está esperando a pessoa certa – como em qualquer relacionamento, na real. Ele aponta que um dono não é necessário para ser um filhote, assim como você não precisa ter um dom para ser um sub. Aparentemente, nem todo filhote quer ter um dono e, segundo Argo, o mesmo vale para matilhas: alguns bandos são feitos de uma família de filhotes, sem um dono.

O que torna um filhote um vencedor no Best in Show, na opinião de Thumper, inclui quão fácil é se identificar com ele e seu carisma, e quanto a pessoa é genuína. Naquela noite, ele investiu numa demonstração de podolatria para a competição, já que tem um fetiche por pés. Ele usou os pés de um assistente enquanto explicava o processo: “Se você gosta de cheiros, a primeira coisa que você quer fazer é tirar o sapato”, ele disse num ponto durante sua apresentação, “aí você enfia a cara no sapato e cheira o fedor”.

As outras apresentações incluíram um filhote fazendo dança do ventre, um pup fazendo luta livre e outro fazendo uma simulação de strip-tease e sexo. O prêmio foi para Pup Bello, que fez uma coreografia contemporânea para Take Me to Church do Hozier usando um suporte atlético PUMP!. Não era algo fofinho ou divertido em si, mas foi incrivelmente emocionado considerando o ambiente, e lembrou um pouco o vídeo de Sergei Polunin. Fiquei impressionado.

Achei algumas das apresentações impressionantes, enquanto outras me pareceram um pouco questionáveis. A dança de Bello era a última coisa que você esperaria ver numa competição assim: um cara pulando e dançando em tapetes pretos num bar de fetiche escuro. Ele era mesmo um filhote com um talento cru, e parece que era exatamente isso que os juízes (e o público) queriam ver no Best in Show de 2018.

Matéria originalmente publicada pela VICE Canadá.

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