“Procuro falar das coisas que faltaram em algum momento. O que eu não fiz ainda? Do que não falei ainda?”, me diz Edi Rock em entrevista por telefone na última terça (9). Esse, segundo ele, foi o pensamento que acabou originando seu novo single “Sonhos em Construção”, primeiro de seu quarto disco solo que será lançado no primeiro semestre de 2019. O resultado é um som sobre um tema em particular que Edi discutiu pouco ao longo dos 30 anos de carreira: ele mesmo.
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Fora faixas como “A Vítima”, em que o rapper relata um acidente do qual participou, Edi costuma virar o olhar para o mundo lá fora e narrar crônicas e histórias de conhecidos e desconhecidos. “Sonhos em Construção”, uma música autobiográfica, é uma exceção. “Quando você olha pra si próprio é o que você tem pra enxergar a vida, um outro campo, uma outra perspectiva. Eu sempre falei dos outros. Eu falo pouco de mim”, diz.E por que agora? Além de querer inovar sua obra, Edi também achou que estava se sentindo confortável o suficiente para finalmente falar de si mesmo — que, como ele detalhou, não é tarefa fácil. “Tem que ter maturidade. Falar com propriedade. E tem que ter cuidado, porque você tá se expondo ali”, fala. Mas “Sonhos de Construção” continua sendo um ponto fora da curva no terceiro disco solo do rapper; o restante das faixas, segundo ele, continuará tratando dos assuntos políticos, sociais e raciais comuns à sua obra e a dos Racionais. Numa época sombria para a política no Brasil, afinal, talvez essas sejam as questões mais importantes de todas.“Falo de política mas do meu jeito, do jeito de um poeta. Querendo ou não, a gente é político através da luta, do poema, da escrita. Não há viagem perdida, especialmente através da arte”, fala o rapper. “A arte tenta a vantagem de ir diretamente pro coração das pessoas, e elas se identificam. As pessoas ouvem música para a guerra ou para a paz. Sempre ouviram Racionais pra isso, e continuam ouvindo.”Edi Rock faz parte do mais importante e influente grupo de rap do Brasil e tem bastante consciência do peso que sua voz tem para os que admiram a ele e aos Racionais. A importância de se posicionar sobre assuntos políticos, então, é inquestionável para o rapper. “Eu preciso pensar antes de falar, porque meus parceiros estão ouvindo o que eu tô falando e muitos vão fazer o que faço e o que estou pedindo”, diz. “Quem não tem medo mostra a cara, quem tá com medo deixa a nave na garagem.”Quando perguntado sobre eleições, Edi não toma lados nominalmente. E fala por seu grupo quando diz que “o Racionais nunca foi de direita ou de esquerda, o Racionais é o povo pelo povo. Começa pelo que você vai fazer pela quebrada”, destaca. Admite, porém, que o Brasil vive um momento de grande retrocesso e complementa: “A arte é o que sobrevive ao retrocesso. O retrocesso é fascista, machista, homofóbico e apoia a ditadura e a tortura.”Leia mais no Noisey, o canal de música da VICE.
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