Fui para a balada usando um vibrador ativado por música

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Música

Fui para a balada usando um vibrador ativado por música

No fim de semana passado eu tive mais orgasmos do que você.

Matéria originalmente publicada no THUMP US.

Não existe exatamente um jeito de “se recuperar” depois que você fica louco de tanto usar drogas. É mais como se arrastar por cima de cacos de vidro, indo da sopa primordial do seu cérebro para o alto contraste di mundo externo. Quando se está sóbrio, sob o sol escaldante do arrependimento incapacitante, cabe a você decidir se evolui do vício idiota e passa a ficar de pé mentalmente com a ajuda de terapia, da vida intencional e do entendimento de que a vida é um mistério mágico infinito.

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De repente, tudo vira gatilho e sinal. Do som de uma garrafa vazia do vinho Chalise rolando ao vento a uma garota chorando atrás de você dentro de um trem, você deve receber um backlog de dados do universo. Voltar à vida que você deixou para trás é impossível. Reprimir danos emocionais com festas que duram 36 horas, abraços ansiosos e fofocas amargas simplesmente não funcionam. Depois de ser excluída da cena noturna por fazer altas merdas das quais não se lembra porque estava chapada, você escolhe passar o tempo no porão de uma igreja com outras pessoas sóbrias, ou sozinho, soluçando, fazendo exercícios de respiração, comendo um chocolate e vendo Sailor Moon.

No fim das contas, o seu diálogo interno com o diabo desaparece, assim como a miragem de complexo de vítima na qual você tem vivido nos últimos sete anos ou mais. A mesma coisa acontece com as ilusões e os ataques de pânico que duram horas. Sentindo uma tristeza imensa, você se esforça todos os dias como um guerreiro da rotina, lutando esporadicamente contra o desejo de ficar chapado e ter experiências estranhas.

Foto: Club Vibe 3.OH, da OhMiBod. Foto do OhMiBod.

Então, um dia, um amigo seu que é editor pergunta se você quer testar um novo vibrador wireless chamado Cub Vibe 3.OH, que pulsa de acordo com músicas ao vivo e feito especificamente para ser usado em boates. Cada caminho neural catatônico seu desperta alucinadamente e a incita a experimentá-lo. Foi assim que eu acabei reativando meu quartel-general do transtorno de estresse pós-traumático — o Facebook — e confirmei minha presença em eventos de fim de semana pela primeira vez depois de quase um ano. Encontrei um show punk, uma palestra e uma after party de um DJ gay. Sair durante todo um fim de semana depois de ter um colapso nervoso foi assustador pra caralho, mas armada com o meu brinquedo sexual sensível a ruídos e garrafas de refrigerante feito de erva-mate, eu imaginei que me encher de cafeína e usar um vibrador tornaria a experiência surreal o bastante para eu aguentar.

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Eu sempre me senti uma estranha — transtorno de déficit de atenção com hiperatividade em excesso e não heterossexual o bastante. O meu Club Vibe, ainda guardado inerte dentro da minha bolsa, era um exemplo perfeito de todo o marketing idiota que supostamente deveria me conquistar: a caixa dele mostrava uma mulher em forma, bronzeada, parecendo estar em meio a um orgasmo, com seios fartos que brilhavam exibindo toda a sua atratividade cis heterossexual. A mesma gostosa aparece no site do vibrador, mas com um amigo apontando o controle remoto sem fio na direção da moça, como se ela fosse um robô feminino sexual saído da TV que está ali para entretê-lo, sem saber que alienígenas sem gênero também têm órgãos genitais.

Uma foto promocional do Club Vibe. Foto do OhMiBod.

Esses sentimentos de estranheza fizeram do punk o meu primeiro amor. Então, em uma noite do fim de semana passado, eu segui uma mulher de uns 40 anos por um labirinto de estúdios na direção de uma casa de shows de punk rock para ver uma banda agressiva formada só por garotas. Lá dentro, eu me abaixei em um canto escuro e posicionei o vibrador pela fenda da cueca que estava vestindo. O vibrador vem com uma calcinha preta de renda, mas eu não queria que uma lingerie enfiada no rabo interferindo na minha experiência.

Eu me atrapalhei com o controle remoto oval e testei as configurações: o modo “provocar” permite que você (ou a quem quer que esteja, afe, “no controle”) “sinta a vibração” pelo tempo que o botão é pressionado. O modo “groove” permite que se crie um padrão próprio de vibrações, e o modo “club” responde a sons ao vivo. Foi nele que eu cliquei e soltei um grito. A banda tinha começado a tocar e o microfone do vibrador não conseguia diferenciar nenhum barulho em particular, então ele acelerou furiosamente. Com aquele treco zumbindo entre as minhas pernas, eu não conseguia agir normalmente, mas, felizmente, ninguém pareceu perceber ou se importar. O local, que era pequeno, estava cheio de gente bêbada gritando que ia destruir os amplificadores e os pedais de efeito. Eu não conhecia ninguém, então fiquei sozinha para tentar ter um orgasmo pelo restante do show. A intensidade da vibração era muito alta, e eu senti minhas partes íntimas ficando dormentes. Eu ria por dentro, pronta para o segundo round.

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Se era para ser dominada pelos senhores malignos do corporativismo, que fosse sóbria e gozando por todos os cantos.

No dia seguinte, fui a uma palestra realizada em uma grande fábrica antiga transformada em uma galeria de arte onde acontecia um evento musical que duraria o dia todo. Resolvi usar o meu amiguinho para ver como ele responderia ao som de vozes. Depois de uma conversa totalmente produtiva com a minha vagina enquanto ia para o local de bicicleta, cheguei lá prontíssima para assistir à palestra. Assim que me sentei, foi esquisito fingir que era o telefone nas minhas mãos, ligado no modo silencioso, que fazia os ruídos altos que reverberavam pela cadeira de metal em que eu estava. Mas as pessoas acreditam em qualquer coisa.

Depois de não conseguir gozar em uma palestra sobre direitos humanos, eu segui para o meu gatilho favorito — uma boate — e fui recebida imediatamente por “You Prefer Cocaine”, de Vitalic, uma música enérgica sobre ser uma vadia e que deu um tom irônico à minha entrada de cara limpa na boate gay, lotada de gente derrubando drinques e se pegando.

Eu comecei a dançar involuntariamente igual a uma louca, estimulada pelo vibrador, que parecia se encaixar perfeitamente no eletroclash e no ghettotech que o DJ tocava. Uma liberdade bizarra entrou pela minha consciência. Eu estava sóbria, completamente sã, quase tendo um orgasmo e tranquila vendo várias pessoas que eu sabia que me odiavam. Dei uma lambida no pirulito que segurava e a viscosidade do tempo mudou. Me sentindo presa no momento em um gel orgástico reconfortante, eu girei pela pista de dança e sorri. Se era para viver em um futuro de anime feudal dominado por senhores malignos do corporativismo, endividada e atormentada por soldados cristãos, que fosse sóbria e gozando por todos os cantos.

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