Por dentro da primeira corrida oficial de drones em SP
O piloto Lucas Schlosinski, que ficou em terceiro lugar na competição realizada na Galeria do Rock, no centro de São Paulo. Crédito: Felipe Larozza/ VICE

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Tecnologia

Por dentro da primeira corrida oficial de drones em SP

No último domingo, dez competidores se reuniram na Galeria do Rock para uma corridinha aérea.

Um domingo chuvoso não parece o melhor dia para uma corrida de drones na cidade de São Paulo – a não ser que ela aconteça entre quatro paredes. Foi isso que acompanhamos no último fim de semana (6), quando a Galeria do Rock, o maior pico de jovelhos roqueiros do país, recebeu a I Drone Racing SP, a primeira corrida oficial de drones da cidade.

Dez pilotos competiram no evento organizado pelo Mirante Lab, laboratório de inovação e tecnologia que, dentre as atividades, abarca oficinas de construção de veículos não-tripulados. "Está todo mundo na adrenalina. Eu, os pilotos, que estão na pilha de voar, e o público, que nunca viu isso", descreveu o cientista da computação Carlos Candido, que, além de ser um dos organizadores, estava na difícil função de apresentador. "Não faço a menor ideia de como apresentar uma corrida de drones. Tô aprendendo hoje", riu, num estilo meio Gugu Liberato indie.

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A competição era individual, mas as corridas foram realizadas em dupla. O objetivo era dar duas voltas no circuito, que ocupava praticamente todo o segundo andar da galeria. Quem chegasse primeiro fazia 20 pontos. Passar por cada um dos gates (pequenos portões iluminados por LED), contabilizava mais cinco pontos.

Drone passando pelo gate: mais 5 pontos. Crédito: Felipe Larozza/ VICE

Não era coisa simples. A todo momento um dos drones se engalfinhava nas redes de proteção que escudavam as vitrines das lojas que vendem camisetas, discos e apetrechos consumidos por fãs de punk, rock, hardcore e metal. Quando isso acontecia, alguém corria para desatar as hélices. "Tá precisando de mais gandulas", debochou uma garota que assistia à competição, vendo a dificuldade do sujeito que encabeçava a tarefa. Um drone ou outro parecia travar e não levantar voo.

No andar de cima, o público, que pagou R$ 35 de entrada, vibrava quando alguém fazia o percurso do começo ao fim sem maiores percalços. Pilotar os bichinhos voadores parecia tão punk que, quando alguém acertava bonito, batia uma good vibe mesmo. Geral aplaudia.

Competidores enfileirados antes do voo. Crédito: Felipe Larozza/ VICE

A trilha sonora da corrida era sempre um drum and bass. E, apesar de todos os pilotos serem homens, a organização balanceou o rolê colocando duas juízas.

Munido com seus óculos de FPV (first-person view), o piloto e gestor de produtos de tecnologia Rodrigo Udvary explicou um pouco melhor o funcionamento do gadget com o drone. "Através dessas duas antenas na frente, os óculos captam a radiofrequência e transmitem a imagem feita pela câmera acoplada ao drone em tempo real, sem nenhum delay."

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Olho na câmera: check. Crédito: Felipe Larozza/ VICE

A câmera é um item indispensável nesse tipo de pilotagem – diferente dos carrinhos de controle remoto que manuseávamos nas décadas de 80 e 90 ou até mesmo de aviões e helicópteros de aeromodelismo da atualidade, comandados a olho nu. O mesmo serve para o lance do delay, já que os drones de corrida alcançam mais de 100 km/h. Quando um deles chega perto de você, é incrível. Além do zunido (eles fazem uns "bzzzz bzzzz"), venta. As Leis de Newton já explicaram todo o teor da força física e da aceleração, mas vale ressaltar que, mesmo com hélices tão pequenas, o drone de corrida faz vento tipo helicóptero.

Os pilotos Hélio Menezes e Rodrigo Udvary, do time amador Mascote FPV. Crédito: Felipe Larozza/ VICE

Mecânico no dia-a-dia, Hélio Menezes, 46, vestia a mesma camisa que Rodrigo: a do Mascote FPV, time amador de pilotos de drone. "Temos uma pista própria e fazemos provas entre o grupo", contou o competidor. Um drone para a categoria racer, como é chamada, custa, mais ou menos, R$1.500. "Depende muito da eletrônica que você vai empregar nele", justifica o mecânico. Já os óculos podem ultrapassar os R$ 2 mil.

Uma das coisas mais loucas era poder assistir à visão do piloto nos monitores (de mais ou menos sete polegadas) que amigos e agregados dos competidores seguravam em mãos no camarote improvisado. Embora a corrida de drones seja considerada o esporte do futuro, é muito contrastante ver um vídeo que mais parece uma reprodução de fita VHS dos anos 90. É mais ou menos o conceito dos jovelhos que frequentam a Galeria do Rock: são velhos jovens. Como se o rock fosse, de alguma maneira, rejuvenescedor.

O público curtindo a vista aérea. Crédito: Felipe Larozza/ VICE

O piloto mais jovem da competição, aliás, estava tenso. Ao lado do pai, o estudante Daniel Pucciarello, 16, se preparava para competir pela primeira vez. "Não quero ganhar, só quero conseguir fazer o trajeto bonitinho", disse, com a voz tímida. Montando seus próprios drones há mais ou menos um ano, ele já teve experiências ruins: o primeiro veículo não-tripulado que construiu desapareceu num condomínio arborizado. Acontece.

Montar o próprio veículo é um padrão entre os pilotos. É o caso de Lucas Schlosinski, 30, professor do Fab Lab que chegou humildão no evento e acabou se dando bem no ranking. "É a primeira vez que vou correr. Fiquei nervoso a semana inteira", comentou enquanto ajeitava seus equipamentos. "Treino de madrugada, na garagem do meu prédio. Fico driblando os carros", riu, jurando que ainda não foi pego pelas câmeras de segurança do local onde mora.

E a prática funcionou: Lucas acabou ficando em terceiro lugar na competição. O pódio foi dividido entre os pilotos Heitor Teles e Rafael Paiva, que ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente.