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Música

A credibilidade das ‘novinha’, por MC Mayara

Carinha de 16, corpo de 22, 1 filha, milhões de views e a missão de trazer a revolução feminista para a música eletrônica da favela, o funk.

Em março, na coluna Mulher do Dia, vamos diariamente parar por um minutinho o torno informacional para respirar e pensar sobre quantas vezes nós levamos realmente a sério o fato de que muitas das nossas artistas preferidas são, todos os dias, mulheres.

Nunca vou esquecer a primeira vez que ouvi MC Mayara: em 2012, numa roda de colegas do colégio, um dos meus melhores amigos sacou o celular e soltou um "você precisa ver isso agora!". E assim fui apresentada ao grudento hit do (até então novidade, pra mim) eletrofunk "Ai Como Eu Tô Bandida". Foi meio uma daquelas paixões arrebatadoras instantâneas que acontecem umas 200 milhões de vezes ao dia no metrô. Uma mina de 18 anos (minha idade, na época) num vídeo "podreira", cantando os maravilhosos versos: "Mulher que tem três homens é uma atrevida/ E a que tiver mais/ Ela não sofre/ ela curte a vida/ Ela é feliz/ Ela é bandida". Bom demais pra ser real.

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Leia: Veja o documentário que mostra como a MC Mayara está popularizando o eletrofunk

O tempo passou pra nós duas. A Mayara fez um clipe grávida e foi mãe. E não foi gravidinha, com aquela tímida barriguinha dos primeiros meses de gestação, não. Foi com uma barrigona que ela apareceu de topzinho, calça legging e boné de aba reta no vídeo de "Ela Sabe Rebolar". Mesmo assim, ela ainda não é tão respeitada como gostaria, porque, assim como eu — e muitas mulheres de 22 anos por aí —, ela ainda resguarda a carinha que tinha aos 16 anos. O que, convenhamos, é uma puta bosta quando você quer ser um pouco mais reconhecida pelo seu trabalho. "Sou sempre apelidada de 'novinha'. Muita gente não me dá credibilidade por causa disso. Mas eu tenho uma filha e sei muito bem o que eu faço e o que eu quero".

E ela tá tentando se livrar da não-tão legal alcunha de "Novinha do Eletrofunk" e passar a ser uma funkeira feminista assumida. E ela tá fazendo seu amadurecimento pessoal/ideológico mergulhar de cabeça no seu trampo. O seu mais novo projeto é o Canal das Perturbadas, no qual ela e sua parceira DZ MC fazem paródias feministas de funks machistões que ouvimos por aí. O primeiro foi "Cala a Boca e me Respeita", uma versão de "A Mamadeira Tá Cheia", do MC TH. E a MC Mayara já me adiantou que "Baile de Favela", do MC João, vai virar "Baile Só pra Elas" na mão das duas.

De novinha, a Mayara tem só a cara. Com o lema-clichê "a revolução será feminista"" mais em mente do que nunca, a MC falou comigo sobre a falta de respeito na carreira por parecer mais nova e da sua vontade de mudar o mundo para a sua filhinha sofra menos por ser mulher.

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NOISEY: Como você começou a sua carreira?
MC Mayara: Na verdade o funk era um sonho que eu tinha desde pequena, mas comecei mesmo com 17 anos, faltando uns seis meses pra completar 18 anos. Mas só quando já era maior, lancei meus primeiros vídeos no YouTube. Tive que provar pro Ministério Público que era maior de idade.

Mas por que você queria ser funkeira desde tão nova?
Primeiramente pelo ritmo, que me contagiou. Depois, por ver o preconceito que existe com o funk, que nada mas é que música eletrônica da favela. Isso me motivou mais ainda a ser funkeira e lutar contra esse preconceito.

E como é ser mulher no funk?
Sofro muito preconceito. Todos dias. Principalmente quando faço música de protesto pró-mulher. E tem muita mulher que tem pensamentos tão machistas quanto qualquer homem. Acho que isso é só porque a musica é feita em funk. Se fosse qualquer outro ritmo, não teria todo esse preconceito.

Além disso, por parecer uma menina de 16 anos, muitos não me dão credibilidade. Sou sempre apelidada de "novinha", mas muitos não imaginam que tenho 22 anos, sou mãe e sei bem o que faço e o que quero.

E como foi quando você teve a sua filhinha? Porque você tem um clipe ("Ela Sabe Rebolar") grávida, né?
Na verdade, a ideia de ficar gravida vem de maluquices da família mesmo. Minha vó ficou grávida aos 20 anos, minha mãe também. Eu queria fazer a mesma coisa. E fiz. Gravei o clipe grávida pra ver se a mulherada se ligava que gravidez não é doença. Fiz show até quase meus nove meses de gravidez. Foi quando eu tive a minha filha que ficou mais nítido de que precisamos mesmo lutar por um mundo melhor, com mais igualdade. Esse em que vivemos já está muito ultrapassado, com regras e deveres muito inúteis.

E quais as mulheres que influenciam você no mundo da música?
Olha, não posso dizer que são influências, mas acompanho muito o trabalho da Lana Del Rey, da Miley Cyrus e também a minha parceira de composições que é a DZ. Foi o primeiro show que fui ver de funk. Eu tinha 16 anos. Hoje, fico muito feliz por dividir minhas ideias com ela.

O que você acha do cenário atual da música para as mulheres?
Acho que a cada dia estamos ganhando mais espaço no mundo. Como sempre falo: "A revolução será feminista". #DesarmeSeusOlhos. Hoje, se vê muito mais mulheres fazendo sucesso não só na música, mas em outra áreas. Amo muito isso, precisamos desses espaços para mudar o mundo.

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