O ano era 2001 quando Sônia* ouviu o programa de rádio da igreja pela primeira vez. Frequentadora havia pouco tempo, logo recebeu o convite de Cícero Vicente Araújo, o pastor Araújo – um dos principais líderes – para morar no templo da Lapa, bairro da cidade de São Paulo. "Interrompi os estudos e larguei o trabalho. Dediquei-me à obra na igreja morando em um galpão. [Havia] quartos separados para irmãos e irmãs", conta a ex-fiel. "No começo, achei a melhor coisa da minha vida. Experiência incrível. Até começarem as duras correções às quais éramos submetidos." Além de ter a obrigação de orar o tempo todo e confessar coisas do passado, Sônia revela que chegou a ser agredida fisicamente por um evangelista. "Ele se chamava Ivan. Hoje, parece que está nas fazendas ou na Bahia. Ele chegou a bater no meu rosto algumas vezes quando eu não concordava com alguma coisa.""Ele chegou a bater no meu rosto algumas vezes quando eu não concordava com alguma coisa", relata Sônia* sobre um religioso da seita.
Assim como inúmeros relatos chocantes espalhados pela internet, em que pessoas dizem ter doado casas, carros e dinheiro para a seita, Sônia explica que por muito tempo trabalhou sem registro e sem receber um centavo. Chegou até a vender trufas na rua. "Era para o bem comum e da igreja. Com o dinheiro das vendas, eles compraram mais comércios e, nessa época, já estavam adquirindo fazendas em Minas Gerais. Moravam mais lá do que aqui, em São Paulo."OSTENTAÇÃO
Em entrevista à TV Alterosa, um dos delegados responsáveis pelo caso informou que o luxo fazia parte da rotina da alta cúpula da igreja. "As investigações apontam que os dirigentes ostentam carros luxuosos, moram em mansões suntuosas e estão adquirindo um patrimônio considerável", detalhou o policial.
"Essa história do chip é a pura realidade. Só a igreja que se separa e não usa essa porcaria. A própria Dilma já anunciou", explicou Carol Dèll Boar, fiel da igreja, sobre uma das pregações de Araújo, supondo que o governo controlaria todos com um chip.
A frequentadora Carol afirma que a igreja não é uma seita. "O pastor e os outros líderes são verdadeiros", disse à VICE. Ela comenta que as pessoas que hoje vivem nas fazendas não querem sair de lá. "Eles estão bem melhor do que aqui fora na mão do Estado. Eles sabem que serão perseguidos, mas estão dispostos a morrer por Cristo."De acordo com o relato de Sônia, os fiéis eram convocados nos cultos para viver nas fazendas. "Fiz de tudo para não me chamarem. Eles faziam uma lista com nomes das pessoas, que deveriam rapidamente fazer as malas e irem para as fazendas." Ela conta que queria sair da igreja, porém temia "voltar derrotada para casa". Após anos de dedicação, a vontade de partir falou mais alto. "Depois de muita humilhação, saí e recomecei minha vida", desabafa.Apesar da investigação pesada da Polícia Federal, Carol é otimista. "Se Deus quiser, ele [pastor Araújo] vai sair dessa e a imprensa verá a verdade."*O nome da entrevistada foi trocado para preservar sua identidade"Eles sabem que serão perseguidos, mas estão dispostos a morrer por Cristo", afirma a fiel Carol Dèll Boar, sobre as pessoas que hoje vivem nas fazendas da seita.