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Música

10 b-sides do Radiohead que são muito melhores que vários dos seus singles

Outro lado da grandeza dos ingleses numa seleção de pepitas que não entraram em nenhum dos nove álbuns da banda.

O Radiohead manda muito bem nisso de guardar segredo. Em 2006, Thom Yorke postou uma série de letras misteriosas no site da banda que dizia, em partes "seis a canção de seis centavos que queimam a bruxa, sabemos onde você mora" [six the song of sixpence that goes burn the witch, we know where you live].Os fãs esperavam ouvir a música correspondente em sua turnê de 2006 nos EUA e Europa, em que a banda testaria canções que entrariam no disco In Rainbows. Eles gritavam e o frontman até mesmo os provocava algumas vezes, mas o Radiohead nunca foi além do quepoucos acordes. Quase uma década depois dessas mensagens cifradas, a banda enfim lançou a mítica faixa "Burn the Witch" e o novo disco A Moon Shaped Pool, um tenso e atmosférico retorno que marca seu primeiro single de fato desde The King of Limbs.

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"Burn the Witch" mostra aquilo que muitos fãs obcecados em fóruns já sabiam: por baixo do exterior brilhante de seus discos de estúdio está um tempestuoso e misterioso mundo de raridades, esperando para surgir a qualquer instante. Ao passo em que o público em geral está digerindo o mais novo trabalho do Radiohead, os fãs mais hardcore seguem obcecados com as muitas outras canções que não ganharam tanto destaque, mesmo aquelas joias subapreciadas que já foram lançadas em EPs, singles e discos de bônus.

Muitas destas faixas são melhores que muito do material oficial de bandas por aí, logo, é fácil entender por que de tanta devoção em torno dessas canções. Por anos, fãs em sites como Atease e Mortigi Tempo tem passado horas e horas debatendo aos melhores sons, enquanto leigos ouviam Ok Computer pela 100ª vez. Eis, então, uma espiadinha por trás da cortina com os dez melhores b-sides do Radiohead que não entraram em discos — em ordem cronológica.

1. Killer Cars (from "High and Dry" single, 1995)

Em "Burn the Witch", Thom Yorke faz uma pausa para falar que a faixa é um "ataque de pânico sutil", uma referência à paranoia pela qual a banda era conhecida nos primórdios. No começo, o vocalista tinha uma certa fascinação pelas possibilidades terríveis oferecidas pelos automóveis, mas diferente da famosíssima "Airbag", cheia de esperança e segundas chances, "Killer Cars" é um tanto mais desesperançosa. A tecnologia salva-vidas não está presente aqui, e em vez disso, Yorke descreve freios que falham e motoristas desequilibrados que tomam as estradas. Ele oferece então uma perturbadora solução aos seus problemas: "Me embale no fundo do porta-malas" [wrap me up in the back of the trunk]. A banda tem diversas letras mórbidas, mas quando ele canta "vou sair para dar uma volta e pode ser a última vez que você me verá vivo" [I'm going out for a little drive, and it could be the last time you see me alive], você meio que passa a acreditar no cara.

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2. Talk Show Host (from "Street Spirit (Fade Out)" single, 1996)

Gravado após o lançamento de The Bends, esta faixa foi um belo contraponto às faixas do disco, em grande parte de tom confessional e emotivo, sendo uma canção puramente carnal, tanto do ponto de vista lírico quanto da sua própria estrutura musical. Colin Greenwood toca uma de suas linhas de baixo mais potentes, ao passo em que a guitarra com wah-wah de Ed O'Brien e a bateria apressada de Philip Selway servem de suporte a Yorke, que chega chegando ao cantar "Você me quer? Então vem e me acha, porra" [You want me? Well fucking come and find me]. A participação desta música em Romeu + Julieta, adaptação de Baz Lurhmann do clássico de Shakespeare para a geração MTV de 1996, mostra a sensualidade atípica desta música em meio ao catálogo da banda. Que outra canção do Radiohead poderia servir de trilha para um Leonardo DiCaprio novinho lagarteando na praia ao nascer do sol?

3. A Reminder (from "Paranoid Android" single, 1997)

Começa com algo que parece ter saído de um sonho, surreal e sem qualquer contexto — a gravação de um anúncio qualquer em uma estação de trem tcheca — que logo te leva até lá, pensando em seu passado cercado de passageiros do horário de rush, todos fazendo o mesmo, de fones nos ouvidos. Como na chorosa "When I'm Sixty-Four" dos Beatles, trata-se de uma das melhores canções sobre autorreflexão de todos os tempos, daquelas que te fazem pensar em todos os arrependimentos, amores perdidos e todos os erros que não teremos chance de corrigir mais. Algum dia você terá que lidar com tudo, e "A Reminder" será a trilha.

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4. Meeting in the Aisle (from "Karma Police" single, 1997)

Raramente o Radiohead lança instrumentais, mas a climática "Meeting in the Aisle" com jeitão de era espacial mostra que a banda consegue dominar qualquer formato que se preste a fazer. Trata-se de uma homenagem clara aos LPs de trip-hop e música eletrônica que começaram a invadir o mundo da banda no final dos anos 90 (DJ Shadow é citado como grande influência em "Airbag"). Por mais que a banda tenha esperado até Kid A pra bater forte na tietagem com a Warp Records, "Meeting in the Aisle" mistura cordas crescentes com batidas sonolentas, um baixo meio dub delirante e uma compreensão prévia da atmosfera estéril cena eletrônica do final dos anos 90. A banda nunca havia tocado a música ao vivo até um show realizado em 2012 em Miami, cidade tão boa como qualquer outra para bater com clima de grandeza do som.

5. The Amazing Sounds of Orgy (from "Pyramid Song" single, 2001)

O título pode muito bem parecer uma piadinha de estúdio, mas a música em si é bastante séria. "Orgy" te põe em mundo de destruição, uma paisagem apocalíptica que se prepara para o colapso mundial iminente. Contando com percussão de outro mundo e um baixo reverberante, o pano de fundo cinza desorientador para o cantar rasga-mortalha de Yorke: "Tão feliz que você é minha" [So glad you're mine]. Houveram rumores que sugeriram que "Orgy" teria sido composta inicialmente como uma introdução ao mundo semelhantemente romântico e distópico de Amnesiac, e daria certinho; é a melhor faixa da banda sobre amor no fim do mundo.

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6. Cuttooth (from "Knives Out" single, 2001)

"Eu levarei uma vida de papel de parede" [I wil lead a wallpaper life], Yorke declara na abertura de outra faixa da mesma época de Amnesiac, em uma declaração de intenções chocantemente depressiva. Esta aqui afunda na paranoia e terror também, valendo-se da ansiedade orwelliana de que todos ao seu redor sabem tudo sobre você, sendo observado a todo instante. Com pianos em camadas e uma batida constante, Ed O'Brien (em seu diário das gravações de Kid A/Amnesiac) se referiu à música como "algo no estilo do Neu" — mas o Neu! nunca foi tão convincentemente atormentador ou causou tanto terror com o qual nos identificássemos.

7. Up on the Ladder (from In Rainbows disc 2, 2007)

"Up on the Ladder" estreou durante uma turnê na Península Ibérica em 2002, ao lado de outras faixas que se tornariam Hail to the Thief. A versão de 2002 era um puta rockão enérgico com peso digno de Led Zeppelin, e por mais que não tenha sido lançada em Thief, a banda a retirou dos cofres no In Rainbows, numa versão muito mais lenta, maior ênfase na atmosfera interestelar e vocais mais relaxados. Numa época em que muitas versões retrabalhadas saíam inferiores às versões ao vivo originais, "Up on the Ladder" é um testamento à beleza do que pode acontecer quando se dá uma freada.

8. Go Slowly (from In Rainbows disc 2, 2007)

Há diversas músicas do Radiohead que se inspiram a partir da sua fascinação com os ícones do krautrock Can, mas o que faz de "Go Slowly" especial nesse tocante são seus paralelos com a canção do grupo alemão de 1968 "Thief", que o Radiohead até mesmo tocou em seus shows. Intitulada originalmente "Can Stylee" em estúdio, "Go Slowly" pega estruturas básicas de "Thief" e as descontrói na forma de uma canção de ninar mal-assombrada, ao estilo de "Nude". Com os belíssimos vocais de Yorke afirmando "Estive esperando pacientemente" [I've been waiting patiently], podemos ouvir a saudade em cada palavra.

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9. 4 Minute Warning (from In Rainbows disc 2, 2007)

Opening with a gorgeous instrumental piece, Yorke comes in about a minute and a half into "4 Minute Warning" to declare "this is just a nightmare." Much like on "Burn the Witch," they offer stunning contrasts between harrowing lyrics and more placid music, with lyrics about impending nuclear catastrophe. Whether or not these are metaphors about running from a negative situation in your life is unclear, but the juxtaposition is similar to the end of Dr. Strangelove, as everything turns to dust and Vera Lynn's recording of "We'll Meet Again" plays. Everything feels calm, but isn't.

10. These Are My Twisted Words (released as download, 2009)

Vazada na internet e lançada como download digital em 2009, "These Are My Twisted Words" saiu entre In Rainbows e The King of Limbs, mas como uma porradeira krautrock, não seria fácil de encaixar em nenhum dos discos. Como "Burn the Witch", esta foi tocada diversas vezes em gravações até ser finalizada, sendo assim a banda preferiu dominar a canção antes de apresentá-la ao mundo. O Radiohead é composto por mestres-editores cheios de truques nas mangas, prontos para lançar algo de bom para quem estiver disposto a esperar.

Tradução: Thiago "Índio" Silva

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