Vale a pena conciliar faculdade com vida adulta

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Vale a pena conciliar faculdade com vida adulta

Começar um curso mais tarde tem vantagens, desafios e perrengues. Mas não arrependimentos.

Reza a lenda que, por volta dos seus 17 anos, uma coisa deve estar muito clara na sua mente: o que fazer pelo resto da vida. Se deixar passar alguns anos, já era. Você será velho demais para fazer qualquer outra coisa, como se educação e oportunidade tivessem prazo de validade. Tudo uma grande bobagem.

Os números do último Enem mostram exatamente o que queremos dizer: um a cada sete inscritos no exame tem por volta de 30 anos. São, portanto, candidatos que tentam uma segunda oportunidade no ensino superior ou que decidiram dar um gás nos estudos agora, com mais tranquilidade. Quer dizer, nem tanta tranquilidade assim.

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Enquanto o ensino a distância oferece uma alternativa para àqueles cuja dia a dia não comportam voltar a uma rotina de aulas presenciais, outros encaram o desafio de colocar os pés numa faculdade mais velhos. Em comum, todos precisam equilibrar vida acadêmica, trabalho e família numa mesma rotina apertada. Aqui, dois deles contam por que isso valeu a pena.

Do hospital para a facul e vice-versa

Perrengue, poucas horas de sono e uma alimentação desleixada. É com essa saudade que o jornalista Alexandre de Melo se lembra da fase puxada de estudante em São Paulo. Para ele, a rotina de universitário começou um pouco mais tarde, aos 26 anos. Depois do ensino médio, as contas em casa apertaram e Alexandre teve de ajudar os pais a sustentar a casa e os irmãos, deixando os livros para depois.

Foi como auxiliar de enfermagem que começou a se virar, vivendo as situações mais loucas e improváveis de sua vida. "Enquanto a galera estava entrando na faculdade, eu lavava louças e instrumentos cirúrgicos com pedaços de cérebro e coração", conta Alexandre. A grana era boa: com esse trabalho ele conseguia ajudar em casa e ainda curtia uma farra de leve, já que ninguém é de ferro. A temporada nos hospitais durou algum tempo, até que a vocação de Alexandre começou a falar mais alto.

"Eu nem acreditava que eu, depois de mais velho, pudesse recomeçar e entrar numa faculdade. Mesmo assim, sempre gostei de escrever e de conversar com as pessoas, além de ser apaixonado por música. Por isso, pensei que não custava nada tentar mais uma vez", lembra ele. Alexandre prestou o Enem, se deu muito bem e conseguiu uma vaga em uma faculdade de jornalismo – curso que um de seus irmãos já fazia há algum tempo.

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Alexandre encarava madrugadas de plantão antes de se tornar jornalista. Foto: Caroline Lima / VICE

Foi amor à primeira aula, mas nem por isso as coisas se tornaram mais simples. Ele ainda era um jovem do Capão Redondo, bolsista, auxiliar de enfermagem e um pouco mais velho que os outros alunos, o que causava um certo climão entre os colegas. Paciência. O estudante foi levando a vida universitária em paralelo à profissão inicial assim mesmo, aos trancos e barrancos. Era o que tinha para o dia.

"Eu acordava todos os dias às 5h da manhã, porque tinha que bater o cartão no hospital às 6h20. Do Capão para o hospital, eu levava duas horas. Quando saía do trabalho, exausto, não podia dormir ou parar porque tinha todos os trabalhos e leituras para colocar em dia. Também não podia vacilar e faltar no hospital. Nessa época rolou um desgaste físico muito intenso, até engordei de tão mal que eu me alimentava", lembra.

Alexandre só desencanou dos cérebros e corações quando começou a estagiar definitivamente na área. A partir daí, foi só sucesso e trampos legais, que lhe deram a certeza de ter feito a coisa certa, mesmo com tantas pedras pelo caminho.

"Por eu ser um cara mais velho, os professores sabiam da minha garra e me incentivavam. Uma professora em específico achava que eu não deveria estar ali, por ser bolsista, mas tudo bem. Busquei o que eu amava de verdade e realizei um sonho. Hoje, sei que é mais do que possível recomeçar, a qualquer idade. Quem sabe eu não faço a faculdade de música, né?".

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Jogando tudo para o alto

Se começar uma facul mais tarde tem vantagens e perrengues, fazer um segundo curso não fica atrás. Thaís Albuquerque, autora do canal A Vida Medicina, no YouTube, foi radical nesse sentido. Aos 28 anos, ela resolveu que era o momento de largar tudo, se inscrever no cursinho e correr atrás daquilo que realmente gostaria de fazer, desde pequena: Medicina, meus amigos.

Pouco complicado, né, não? Thaís já era formada em Psicologia, escolha da qual não se arrepende. "Sei que foi um curso fundamental para a minha formação pessoal, mas a vida de RH não era para mim", explica ela. O ranço cresceu e, depois de pensar em prós e contras, Thaís decidiu dar uma segunda chance à Medicina. Adeus, salário; adeus, rolês com amigos e namorado; adeus, viagens; adeus, vida social. Ali ela soube que precisaria abrir mão de muitas coisas se quisesse começar um curso tão disputado como o de Medicina.

"Tinha em mente que seria algo apenas temporário. Meu marido me incentivava muito e dizia que eu precisava tentar até conseguir passar, não importa o tempo que levasse. E assim foi, até que consegui passar. Me readaptar à rotina de universitária é que foi complicado", brinca Thaís.

A aprovação veio acompanhada de uma série de mudanças e transformações, já que o casal teve de fazer as malas e embarcar para São José do Rio Preto, deixando para trás famílias e amigos. No interior, quando a vida de estudante de Medicina estava para entrar nos eixos, Thaís teve que segurar mais uma barra: um câncer de mama surpresa, sem qualquer sinal de alerta. Para ela, foi mais difícil do que todos os vestibulares de sua vida.

Apesar do sofrimento, a doença ensinou coisas importantes para Thaís. Conciliar a vida adulta com um curso tão puxado como o de Medicina não é fácil, mas a estudante faz questão de respeitar os próprios limites. "Tenho determinação para garantir que tudo dê certo. Mesmo assim, principalmente depois da doença, aprendi que não devo me matar de estudar. A minha saúde, tanto física como emocional, está em primeiro lugar. Isso não me torna menos responsável, claro", admite ela.

Por enquanto, ela segue fazendo planos para o futuro e aguarda o internato da faculdade, quando terá contato com especialidades da Medicina. Thaís, que agora está com 31 anos, sabe que a idade faz com que ela olhe o curso e a formação com outros olhos, com mais maturidade. O difícil, segundo ela, é entender o vocabulário maluco dos novinhos e acompanhá-los na farra universitária, mas nada impossível demais. "Descobri o que é 'crush' e 'shippar' há pouco tempo", diverte-se.

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