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ADL e Negra Li falam sobre o novo "Favela Vive 3"

Djonga, Choice e Menor do Chapa também estão na terceira manifestação do cypher carioca.

Depois de quase dois anos de espera, a terceira edição do cypher Favela Vive finalmente tá na pista. O som traz um time de peso formado por ADL (Lord e DK), Djonga, Choice, Menor do Chapa e a grata surpresa de Negra Li, anunciada horas antes do lançamento.

O clipe foi gravado pelo Guilherme Brehm em parceria com a Rexpeita, no Morro da Fé (zona norte do Rio de Janeiro). Segundo DK, a escolha do lugar é para mostrar um outro lado da cidade, já que a Rocinha (que recebeu as duas primeiras edições) vive uma frequente guerra ao tráfico.

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Fotos raras da família RZO

Favela Vive é um projeto iniciado em setembro de 2016, com a ideia de ser um single. O trampo foi responsável por firmar o nome do ADL como um dos maiores grupos dessa geração e já contou teve a participação de Froid, Sant, Raillow, Bk’, Funkero e Mv Bill. Os caras deixaram em aberto se vão chegar futuras edições, mas já adiantaram que estão com um disco pra sair e várias parcerias com outros MCs pelo Favela Cria.

A terceira parte do projeto reúne mais uma vez a nova e a velha escola. Se em "Favela Vive 2" Bill cuspiu (e botou) fogo no cypher, não podemos esperar menos das importantíssimas participações de Negra Li, que volta ao rap com o pé na porta, e o monstro do funk Menor do Chapa.

Conversei com o ADL sobre o papel e o futuro de Favela Vive e com a Negra Li, que conta como é voltar ao rap nesse momento de efervescência política e social.

DK

DK. Foto: Wilmore Oliveira

Nossa ideia com o Favela Vive é colocar quem vem da favela e representa ela na sua trajetória. É uma música feita pra falar da realidade, escancarar o que muita gente não quer ver, um grito de cada MC que tá ali pela sua comunidade. Ela é crua, feita pra arder.

A gente vê pouco MC falando sobre questões sociais e a favela por que não tem propriedade pra cantar sobre isso. Muitas vezes dizem que estamos falando as mesmas coisas que os rappers dos anos 90, mas os problemas ainda são os mesmos e a tendência é só piorar. Favela Vive voltou com essa pegada, em meio ao rap momentâneo, músicas acústicas, o trap, fazendo um boombap original. Foram 10 anos fazendo rap e ouvindo que o ADL precisava ir pro lado comercial, e o Favela Vive mostrou que a gente só não tinha chegado nos ouvidos certos — nos deu a oportunidade de falar pra muita gente, é sinistro. Posso até dizer que a gente é privilegiado por poder reunir nossos ídolos e grandes nomes da nossa geração. Eu cresci ouvindo Negra Li, que é uma expoente, o RZO, o MV Bill, nosso padrinho. O primeiro baile que eu fui era do Menor do Chapa. Não tem workshop no mundo que pague essas experiências. Favela Vive mudou tudo na minha vida.

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Lord

Lord. Foto: Wilmore Oliveira

Nosso rap tá dentro da favela, a gente mora na favela. São diferentes lugares e proporções, mas a lei, o princípio e o povo são sempre os mesmos. A gente sente essa responsa e entra pra fazer parte. Hoje se escuta uma galera falando umas paradas muito nada a ver, a gente entra pra falar a verdade, do jeito que a favela fala mermo. Na época que começamos o projeto, a gente já tinha uma experiência como militante no movimento Hip Hop e Favela Vive é uma reunião que tinha tudo a ver. Os dois primeiros foram na Rocinha, e foi uma parada maneirona, a maior favela da América Latina. O Morro da Fé também é sinistro. É um nome forte. Fé é uma parada que todo favelado tem e precisa ter todo dia. O processo pra escolher os nomes foi longo e com toda certeza o time que somou tinha muita coisa pra falar sobre o momento que vivemos fez o trabalho ir adiante. É uma parada muito louca poder trabalhar com os porta-vozes do favela, e a gente fala mesmo que é fã. É muito louco ver que eles reconhecem nosso trabalho. Ouvir do Menor do Chapa, que eu sempre vi e me inspirei, que ele era nosso fã é uma realização pessoal e profissional. A importância de trazer os MCs é reciclar, ter essa troca de conhecimento bolada, eles abrem as portas pros novos e nós estamos abrindo as portas pra eles também, que a molecada nova talvez não conheça. As mulheres sempre foram do rap, uma das maiores personificações da resistência e têm que ter muito mais espaço. A tendência é crescer mais e mais e a Negra Li simboliza muito isso.

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Negra Li

Eu senti a obrigação de voltar ao território do rap. O rap está precisando da representatividade das mulheres negras de periferia e eu senti essa falta. Hoje as coisas estão crescendo, é legal ver meninas que têm uma estética completamente diferente inseridas no rap, mas precisamos tomar cuidado e ocupar o nosso espaço. Teve um momento em que quem estava no governo se preocupava com a população negra e as minorias e agora as coisas estão andando pra trás; a sucessão de golpes, a execução da Marielle e o retorno da intolerância são prova disso. Isso me gerou uma revolta, Sinto que tem muita galera aberta a ouvir o que a gente tem pra falar. Eu me afastei um pouco do movimento Hip Hop e não estava tão atuante na cena quanto nos tempos de RZO. A princípio fiquei um pouco assustada com o convite e pensei “Será que o público vai entender?”, mas chegamos a conclusão que valeria muito a pena. Eu vim de uma outra geração, a gente conhecia as pessoas pela TV, que fazia um CD a cada quatro anos, pra essa geração ter a liberdade que tem hoje, existiu uma galera lá atrás que não tinha uma roupa cara pra vestir mas era munida de muita atitude e proceder e agora é tudo novo pra mim, é muito bom poder se aproximar mais público jovem, eu estava com saudade. Estou muito feliz de ver as mulheres representando cada vez, gosto da Karol Conká, Flora Matos, Cynthia Luz, a Drik. Hoje estão surgindo os frutos de tudo isso. Favela Vive é um projeto que traz à tona o viés ideológico e social do rap. Tenho planos de colaborar ainda mais com a nova geração e um disco de R&B, que eu já fazia e quero dar uma cara nova, pensando já nesse público da nova geração

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