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Crime

A brutal saga do ex-policial conhecido como 'Assassino de Golden State'

A prisão do homem de 72 anos sugere que o terror também conhecido como “Estuprador de East Area” e o “O Night Stalker Original” finalmente acabou.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Esquerda: Joseph James DeAngelo depois de sua prisão. (Foto pelo Departamento de Xerife de Sacramento via Getty Images) Direita: A casa do ex-policial acusado. (Foto por Justin Sullivan/Getty Images)

Matéria originalmente publicada na VICE US.

Na quarta-feira, um homem de 72 anos chamado Joseph James DeAngelo foi preso por supostamente aterrorizar o estado da Califórnia com uma campanha insana de assassinatos, estupros e roubos dos anos 1970 aos 80. É um final quase apropriado para uma saga de crimes nos EUA — e ainda por cima o cara foi apelidado de “Assassino de Golden State” — justamente agora, nessa era de má conduta policial e violência sancionada pelo estado.

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Mas quem é esse cara, e como ele cometeu mais horrores que assassinos famosos, como o Zodíaco e Jeffrey Dahmer, sem ser pego até agora?

A primeira evidência que a polícia local teve de que tinha um assassino em série nas mãos parece ter emergido por volta dos anos 80 na comunidade costeira de Goleta, Califórnia. O Gabinete do Xerife do Condado de Santa Bárbara tinha concluído que o Assassino de Golden State estava ligado a ataques a seis pessoas — três casais, sendo que um deles escapou com vida por pouco — entre 1979 e 1981. Duas das mortes foram ligadas por DNA décadas depois a um outro assassino apelidado de "O Night Stalker Original".

A falecida escritora Michelle McNamara eventualmente rebatizou o suspeito como Assassino de Golden State, um fantasma cujos crimes prolíficos se espalhavam por dez condados no norte e sul da Califórnia, e incluíam 12 assassinatos, dezenas de estupros e mais de 100 mil roubos a casas entre o meio dos anos 1970 até 1986. Em seu livro publicado depois de sua morte, I'll Be Gone in the Dark: One Woman's Obsessive Search for the Golden State Killer, McNamara escreveu que o assassino foi eclipsado por vários serial killers contemporâneos que também atacaram o estado.

“Nem o Zodíaco, que aterrorizou São Francisco no final dos anos 60, nem o Night Stalker dos anos 70, que fizeram os californianos trancarem suas janelas, foram tão ativos”, McNamara escreveu no prólogo. “Ainda assim, o Assassino de Golden State tem pouco reconhecimento.”

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O assassino por vezes era acusado de invadir a casa das vítimas ou as seguir, se familiarizando com os locais, antes de atacar. Acredita-se que as invasões começaram em Visalia por volta de 1974; por isso o suspeito foi chamado de Saqueador de Visalia. Segundo o Fresno Bee, a mesma pessoa era suspeita de matar Claude Snelling, 45 anos, um professor de jornalismo do College of the Sequoias, enquanto ele salvava sua filha adolescente de ser sequestrada.

Na quarta-feira, o chefe de polícia de Visalia Jason Salazar confirmou que DeAngelo trabalhou para o Departamento de Polícia de Exeter de 1973 a 1976, antes de se mudar para a área de Sacramento, onde encontrou trabalho no Departamento de Polícia de Auburn. O chefe de polícia da cidade, Nick Willick, disse a CBS Sacramento na quinta que DeAngelo era um policial médio, apesar de ter sido demitido em 1979 quando foi flagrado roubando repelente de cachorro e um martelo de uma loja de conveniência.

Enquanto isso, começando em 1976, dezenas de estupros foram relatados nos subúrbios do leste de Sacramento, trazendo ao suspeito o título de Estuprador de East Area. O FBI desde então sugeriu que a mesma pessoa atirou e matou o casal Brian e Katie Maggiore em 1978, enquanto eles passeavam com seu cachorro à noite em Rancho Cordova.

Dois anos depois, o chamado Assassino do Nó Diamante emergiu no condado de Ventura, depois que Charlene Smith, 33 anos, e Lyman Smith, 43, foram encontrados espancados até a morte com uma lenha de lareira em sua casa em Hillside Point Drive, segundo o Ventura County Star. As vítimas, segundo o jornal, estavam amarradas com um nó chinês, também conhecido como nó diamante.

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Várias outras vítimas se seguiram, incluindo Cheri Domingo, 35 anos, e Gregory Sanchez, 28, encontrados baleados e espancados até a morte em sua casa em Toltec Way, Goleta, em julho de 1981, segundo o Santa Maria Times. Menos de dois anos depois, em 1979, o Dr. Robert Offerman, de 44 anos, e Alexandria Manning, de 35, foram encontrados baleados e mortos em seu apartamento na Avenida Pequena em Goleta — a quarteirões de onde Domingo e Sanchez foram assassinados. O Gabinete do Xerife de Santa Barbara ligou a mesma pessoa a uma tentativa de homicídio duplo em outubro de 1979.

As mortes passaram para os subúrbios de Orange County, em Los Angeles, antes de aparentemente pararem, e o caso esfriar. A polícia sugeriu que Janelle Cruz, de 18 anos, que foi encontrada estuprada e espancada até a morte em sua casa em Irvine em 1986, foi a última vítima do Assassino de Golden State.

Não que o terror tenha acabado exatamente: algumas sobreviventes relataram ligações estranhas de um homem que acreditavam ser seu estuprador depois do fato.

A primeira grande descoberta no caso veio em 2011 quando, segundo o Los Angeles Times, investigadores de Santa Barbara conseguiram ligar uma amostra de DNA das mortes de Domingo e Sanchez aos estupros em Sacramento. Em 2016, a polícia e o FBI renovaram seus esforços para pegar o assassino, oferecendo uma recompensa de US$ 50 mil (uns R$ 180 mil, na cotação atual) para qualquer informação levando a sua identidade.

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Numa entrevista coletiva na quarta-feira, o xerife Jones disse que DeAngelo estava ligado a “DNA descartado”, apesar de não especificar como exatamente o material foi coletado. Na busca, segundo Jones, eles receberam “recursos e liberdade virtualmente ilimitados para seguir qualquer pista e usar qualquer tecnologia existente”.

“Quando as informações começaram a apontar para esse indivíduo”, disse Jones, “começamos a fazer mais vigilância. Assim confirmamos o que já sabíamos — que tínhamos nosso homem”.

DeAngelo, agora preso da cadeia do Condado de Sacramento, encara pelo menos oito acusações de homicídio.

Citando uma investigação em andamento, a promotora do Distrito de Santa Barbara Joyce Dudley se recusou a comentar o caso, citando uma declaração anterior onde ela dá crédito à promotora do Condado de Sacramento Anne Marie Schubert por sua liderança no caso.

“Casos assim nunca esfriam realmente, para os entes queridos das vítimas sobrecarregados de tristeza, frustração e raiva”, ela disse.

De sua parte, o comediante Patton Oswalt — que era casado com McNamara quando ela morreu e a ajudou a terminar o livro — sugeriu que o foco da escritora no assassino teve um papel na prisão de DeAngelo.

“Os policiais nunca deram crédito a um escritor ou jornalista por ajudá-los a resolver um caso”, escreveu Oswalt no Twitter. “Mas toda vez que eles falam em #GoldenStateKiller (#AssassinoDeGoldenState) eles dão crédito ao trabalho de #MichelleMcNamara.”

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