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Todas as fotos por Eduardo Saraiva

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VICE Sports

O estilo de quem joga o basquete de rua

Dos coroas aos novinhos, o visual dita o passo do streetball.

Têm uns que jogam melhor, outros que só enganam. Mas se nem todo mundo consegue dar suas enterradas, a beca certa já garante um lugar de respeito no basquete de rua. Da galera que vai às quadras para tirar uma onda até os que não são profissionais por um detalhe, todos parecem seguir o mesmo código de vestimenta: regatas da NBA, bermudas abaixo dos joelhos, tênis de cano alto, meias altas e faixa na cabeça.

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Colamos em um domingo de manhã no Parque Villa-Lobos, um dos principais pontos de streetball da cidade de São Paulo, para sacar quem são as pessoas que não vivem sem jogar aos finais de semana. De quebra, sacamos como tanto entre veteranos quanto novatos o estilo é parte essencial do jogo.

Bianca de Paula Santos, 21 anos

Em cerca de quatro horas nas quadras do Villa Lobos, apenas uma mulher jogou. Ela era Bianca de Paula Santos, uma mina de 21 anos que “odiava basquete, achava um esporte nada legal”, mas que tomou gosto após praticar na escola por influência de uma amiga. Daí em diante, passou a ser atividade física e estilo de vida.

“Sempre estou nesse estilo. Adquiri por causa do esporte e de muitas referências mesmo. Eu sigo a cultura negra há muito tempo, tá no sangue”, conta a garota, esbanjando estilo com a tradicionalíssima regata do Jordan no Chicago Bulls, lenço vermelho na cabeça e um tênis Nike branco de cano alto de dar inveja a muito marmanjo.

Kaique Centurion, 23 anos

Kaique Centurion andava sumido das quadras do Villa Lobos. Há quatro meses o auxiliar químico de 23 anos não dava as caras por lá. O motivo? “Namoro e casamento estragam a vida de qualquer pessoa”, disse em tom de brincadeira para depois perguntar se a gente ia publicar isso mesmo.

Kaique está na correria para o casório – até sondou nosso fotógrafo para registrar a festa –, mas conseguiu uma folguinha para jogar porque a noiva foi trabalhar. Mas ele sabe que vai continuar sendo difícil arrumar essas escapadas: “a gente engorda, acaba querendo mais Netflix do que quadra”.

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Helio Junior, 28 anos

Helio pira em basquete. O uniforme completo do Lakers não é por acaso. Isso tudo começou por volta de 2004, quando o LA tinha acabado de conquistar o tricampeonato da NBA liderado por Kobe Bryant e Shaquille O'Neal. Aquele time encantou o moleque de 14 anos, que colou nas quadras para dar seus arremessos. E não é que ele tinha jeito? Foi aumentando o nível, passou a enfrentar gente melhor, disputar campeonatos, até venceu um torneio de 3x3.

Mas o destino interveio como na vida dos grandes astros: Helio rompeu os dois ligamentos do tornozelo durante um jogo e quase teve o pé amputado. Foram dois anos sem pisar em uma quadra. Quando tentou retornar, sua mãe se desesperou e até mandou gente para tentar tirá-lo de lá. Helio não desanimou, persistiu, se recuperou e atualmente não consegue viver sem jogar basquete todo final de semana. “Se eu não vier, eu tenho pico de stress, minha semana fica uma merda. Quando chove a semana também fica uma merda”, diz.

Anderson Leopoldo, 43 anos

Anderson é um cara presença. De longe já dá para ver o negão de 2,02m, óculos escuros, camiseta preta, bermudona vinho e Air Jordan. Mal começara a conversa e ele já estava dizendo que não ia jogar, que apareceu só para ver o pessoal. E a galera, claro, protestava! “Pô, And, como não vai jogar?”, “Dá uma cravada, And!”. Com seu jeito tranquilão, Anderson só ouvia.

Mas, alguns minutos depois, adivinha quem estava lá na quadra com a clássica camisa de Dennis Rodman do Chicago Bulls? Como tinha dito antes, Anderson não consegue viver sem o basquete. Começou a jogar aos 11 anos e, aos 43, segue firme praticando o esporte: “você trabalha a semana toda, aí sábado e domingo tem que vir. O basquete é minha vida. Se eu não vier não é o final de semana”.

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João Gil, 54 anos

Em um rolê pelas quadras, a camisa logo chama atenção: verde, detalhes em branco e amarelo, número 40, Kemp escrito atrás, Sonics na frente. O uniforme do Seattle SuperSonics – time que nem existe mais – é um clássico da NBA. João Gil, o cara que veste o manto, sabe bem disso. João frequenta as quadras do Villa-Lobos desde a abertura do parque, em 1998. Mas o esporte não está em sua vida apenas como atividade física ou recreativa.

O basquete faz parte de seu lifestyle: João é DJ de hip-hop e descobriu tanto o esporte quanto o ritmo na mesma época, no final dos anos 70. Para ele, é até difícil separar as duas partes. “O hip-hop e o basquete andam comigo desde que eu era moleque. A cultura é muito rica porque une o esporte à cultura original do hip-hop”, afirma o DJ, que está acostumado a conviver com a galera trajando os panos da NBA nas quadras e nas pistas.