E Se a Dark Web Não Existir de Verdade?

"Como podemos ir mais fundo?", começa um fórum do Reddit sobre o tema dark web postado alguns dias atrás.

"Estou tentando encontrar a parte mais estranha da deep web", diz outro tópico.

"O pessoal conta certas histórias e eu acredito, mas quero conferir por conta própria", escreveu um terceiro. "Só que não consigo encontrar nada."

Essas postagens foram escritas por usuários ávidos por assassinatos, terrorismo, experimentos com humanos, tortura e tráfico de pessoas — coisas que, pelo que ouvem dizer, estão enterradas na dark web e que podem ser reveladas se cavarem bastante.

Todo santo dia postagens do gênero povoam fóruns e redes sociais. Para a tristeza dos caçadores de fortes emoções, quase todos os sites que alegam oferecer esse tipo de conteúdo se revelam falsos – sejam por meio de transmissões fake de tortura, pegadinhas ou coisas do gênero.

No fim de semana passado, a jornalista e autora de um livro sobre o mercado de drogas Silk Road Eileen Ormsby documentou a emergência de um site "onde tudo pode acontecer"; um site que alegava passar tortura e assassinatos ao vivo.

Segundo a jornalista, o evento envolveria vários membros do Estado Islâmico, capturados.

Foliões do 4Chan e reddit alimentaram o boato do streaming, que passaria sexta-feira, à meia-noite, e o dono do site prometeu, em tom humorístico, que "serviria bacon".

Não rolou nenhum streaming. No lugar, subiram um vídeo longo e banal, de 21 minutos, segundo Ormsby. Era, no fim das contas, um troll com tempo de sobra.

Outro exemplo parecido foi um site que aparentava tratar de tráfico humano — o Motherboard chegou a fazer um perfil dele, recentemente. Mais tarde, soube-se que não passava de uma pegadinha elaborada, criada para roubarem bitcoins de clientes em potencial. Embora a motivação do site provavelmente fosse financeira, os golpistas não conseguiriam atrair consumidores se não houvesse rumores constantes sobre a negociação de humanos na dark web.

Dá para entender por que as pessoas piram nesses sites e vasculham a rede em busca de outros. Sites como esse, por um instante, nos fazem pensar que esbarramos numa parte oculta da internet: algo que ninguém viu antes; algo que ninguém deveria ver. Mas, na verdade, provavelmente são obra de netcidadões entedidados ou gente atrás de dinheiro fácil.

A verdade é que a dark web é uma coleção relativamente minúscula de sites de difícil acesso, feitos para criminosos, comercialização de drogas, armas, dados roubados e pornografia infantil. Ou, se olharmos pelo lado bom, são sites que servem para entregar documentos sensíveis a jornalistas e também para contar piadas de gato sem parar.

O desejo de encontrar sites obscuros, inexistentes, revela muito sobre aqueles que estão à procura. Se a pornografia infantil violenta não soar obscura o suficente para você, talvez ninguém seja capaz de oferecer o que você quer. Além do quê, a internet normal já hospeda bastante pornografia infantil e é definitivamente onde acontece o tráfico humano.

Enquanto houver pessoas obcecadas por coisas horrendas na dark web, esses sites de golpes e trolls continuarão na ativa — alimentando o mito exagerado daquilo que, em última instância, se resume a uma pequena coleção de sites.

Tradução: Stephanie Fernandes