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Tecnologia

A SpaceX Lançou Sua Espaçonave Dragon V2, Mas Ainda Há Muitas Dúvidas No Ar

O mundo dos voos espaciais privados acontecerá em um futuro próximo, mas muitas perguntas ainda precisam ser respondidas.

A SpaceX anunciou recentemente sua mais nova espaçonave, a Dragon V2, que será a primeira nave da empresa a levar humanos ao espaço. O lançamento foi elegante e cheio de pompa, mas deixou muitas perguntas sem resposta.

A cena parecia um talk show em que o CEO da SpaceX, Elon Musk, era o apresentador. Ele surgiu diante de uma plateia animada e caminhou até um palco totalmente branco, parando em frente a um lençol suspenso, também branco, que escondia a nave antes da grande revelação.

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Pendurada acima da plateia estava a primeira Dragon a ir ao espaço, carregando as marcas de sua reentrada na atmosfera da Terra. Musk mostrou aos presentes e aos mais de 30.000 telespectadores assistindo pela internet as principais características da Dragon V1, a nave espacial que viajou quatro vezes até a Estação Espacial Internacional.

Musk começou o evento falando de algumas das características da Dragon V1, dando atenção especial ao seu sistema de pouso. Assim como as naves da era Apollo, a Dragon sempre fez uso de um paraquedas para amortecer sua decida, culminando com um mergulho no Oceano Pacífico. A primeira Dragon foi, segundo Musk, um excelente veículo-protótipo.

Mas o momento das naves protótipos já passou, disse ele. É chegada a hora da verdadeira espaçonave do século XXI, e então a cortina caiu e revelou a V2.
A maior diferença da V2 em relação à V1, além do sistema de suporte de vida que a permite transportar até sete astronautas, é o sistema de aterrissagem. Musk afirma que a V2 será capaz de pousar, com a precisão de um helicóptero, em praticamente qualquer lugar da Terra – ou de outro planeta – usando um sistema de propulsores. De acordo com a descrição, a V2 poderá aterrissar suavemente usando apenas seu poder de impulsão, assim como quase todas as espaçonaves dos filmes de ficção científica dos anos 70.

Durante a descida, quando a nave estiver a alguns quilômetros da superfície, um mecanismo de teste irá checar os gigantescos propulsores Super Draco, uma versão maior dos propulsores que a Dragon usa para manobrar em órbita. Se o mecanismo de teste detectar algum problema, os propulsores não serão ativados, os paraquedas se abrirão e a nave fará um pouso tradicional na água. Caso não haja nenhum problema, os propulsores se ativarão. Eles foram montados em duplas, a fim de proporcionar equilíbrio nos estágios finais da aterrisagem, então se um dos dois falhar, o outro vai compensá-lo e disparar com mais força.

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A V2 também foi projetada para ser reutilizável, e é aí que entra toda a beleza de um sistema de pouso por propulsão. Entre uma missão e outra, diz Musk, a SpaceX terá apenas que reabastecer a nave. A reutilização e o pouco tempo gasto na preparação para voltar ao espaço finalmente facilitarão o acesso e diminuirão os custos das viagens espaciais.

Musk ainda nos levou para dentro da Dragon V2, para nos mostrar seu interior clean e minimalista, que possui um painel de instrumentos touchscreen dobrável, com um painel menor ao centro que carrega os controles manuais de emergência.

Imagem capturada durante o evento ao vivo mostrando o painel de controle da Dragon V2

Depois de uma rápida olhada em alguns dos equipamentos da Dragon V2 – um tanque/propulsor a hélio – o lançamento chegou ao fim. Durou uns 16 minutos. Não houve espaço para perguntas da plateia, e nenhum comentário adicional por parte de Musk.

O lançamento espalhafatoso não respondeu a muitas perguntas. Uma das questões diz respeito à promessa de reutilização da V2, que facilitaria o acesso e baixaria os custos das viagens espaciais, uma promessa que ouvimos da NASA em 1972, quando foi revelado ao mundo o ônibus espacial. Musk não deu nenhuma pista de quantas viagens a V2 será capaz de fazer por ano, a fim de transformar em rotina os voos espaciais. A lista de voos da SpaceX mostra apenas viagens compradas até 2018, e não inclui a V2.

Musk também não ofereceu detalhes acerca de como a espaçonave vai pousar com o auxílio de propulsores. Combustível, como nós sabemos, é pesado, e carregar combustível para o espaço para utilizá-lo apenas na aterrisagem pode aumentar drasticamente o peso na hora do lançamento. Para o pouso na Lua, por exemplo, foi necessário diminuir o peso total de lançamento, o que foi feito através do corte de combustível e influenciou na decisão da NASA de usar um módulo lunar menor, em vez de pousar a nave inteira na superfície da Lua. Como exatamente a SpaceX vai conseguir contornar o problema do excesso de peso na decolagem ainda não sabemos.

Robert Pearlman, editor do collectSPACE, me contou alguns detalhes que não foram anunciados publicamente durante o evento: o primeiro é que a V2 pode fazer o seu primeiro voo não tripulado ainda em 2015, e sua primeira missão tripulada em 2016. Sobre o combustível a bordo, há o suficiente para a decolagem ou abortagem e pouso, o que significa que se o lançamento correr bem, sem abortagem, a tripulação pode fazer o pouso por propulsão. Se o lançamento for abortado, terão que aterrissar usando o paraquedas.

Esperamos que mais detalhes sejam divulgados em breve, porque a espaçonave parece promissora, e se conseguir se manter fiel às promessas então realmente é uma notícia muito empolgante. Enquanto isso, uma coisa é certa: Elon Musk é um excelente show man.

Tradução: Luiza Vilela