Nova filmagem mostra o que Michael Brown estava fazendo antes de sua morte

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US .

Um novo documentário sobre a morte de Michael Brown em 2014 levou a protestos e trocas de tiro em Ferguson, nos EUA, na noite do último domingo (12). Stranger Fruit, que estreou no South by Southwest no sábado, questiona a narrativa apresentada pela polícia do que aconteceu antes que o adolescente fosse baleado e morto pelo ex-policial Darren Wilson, e pode impactar o processo federal aberto pela família da vítima.

A nova polêmica gira em torno de uma filmagem inédita tirada de uma câmera de segurança dentro da loja que Brown foi acusado de roubar na noite anterior ao seu assassinato. O novo vídeo mostra o rapaz de 18 anos entregando um pacote para o caixa, que o cheira antes de passar para seus colegas de trabalho. O funcionário e Brown então parecem passar uma caixa de cigarrilhas um para o outro, antes da caixa acabar atrás do balcão.

Um vídeo liberado anteriormente para o público mostrava Brown pegando as cigarrilhas, de maneira aparentemente ilegal, no dia em que foi morto. A família e ativistas dizem que isso poderia ter feito o grande júri decidir contra o indiciamento de Wilson. Mas o diretor de Stranger Fruit argumenta que o novo material em seu documentário mostra Browm trocando maconha pelas cigarrilhas, as deixando guardada atrás do balcão e voltando para buscar logo antes de sua morte. Ele diz que sem ver os dois vídeos, parece que Brown tinha pegado a mercadoria sem pagar.

O vídeo, na verdade, é consistente com o relato inicial oferecido pelo chefe de polícia de Ferguson em agosto de 2014: que Brown foi parado por estar andando no meio da rua, não por suposto roubo. Mas quando testemunhou diante do júri no mesmo ano, o oficial Wilson disse que não teria abordado o adolescente se a polícia não estivesse procurando alguém que tinha roubado cigarrilhas de um mercado local. O amigo de Brown Dorian Johnson parecia corroborar essa última narrativa no tribunal, dizendo que o dono da loja tentou bloquear Brown de deixar a loja com as cigarrilhas — uma indicação clara de que elas não eram dele.

Independente disso, manifestantes se reuniram na frente da loja em questão na noite de domingo, num protesto que se tornou violento depois que tiros foram disparados. Oficialmente, ninguém ficou ferido, mas a polícia se escondeu atrás das viaturas e pelo menos um homem foi acusado de tentar causar catástrofe, depois de supostamente colocar fogo um guardanapo no tanque de gasolina de uma viatura.

Enquanto isso, Jay Kanzler, que representa a loja, respondeu. O advogado diz que o pacote que Brown passou para seus clientes naquela noite cheirava à maconha, mas que a filmagem omite uma parte onde eles entregam o pacote de volta. Ele diz que vai liberar uma versão mais completa para contra-atacar o que ele chamou de um golpe "vergonhoso" no Daily News.

"Tudo isso é uma ótima publicidade para o diretor", disse Kanzler, segundo o jornal. "Mas há vidas de verdade em risco. Atiraram em policiais. Recebemos ameaças de incêndio da loja. Tudo porque algum cara queria promover um documentário."

Ainda assim, há razão para acreditar que a filmagem pode chegar ao tribunal — sendo golpe publicitário ou não. A mãe de Brown, que aparece em Stranger Fruit, abriu um processo federal contra Wilson, seu antigo chefe e contra a cidade de Ferguson. O caso deve ir a julgamento ano que vem.

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Tradução: Marina Schnoor

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