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ciencia

No futuro todos seremos ciborgues

Liviu Babitz explica como o biohacking se tornará acessível para todos.

Foto: Annie Collinge

Esta matéria foi originalmente publicada na edição impressa da VICE US de fevereiro.

Dois anos atrás, Liviu Babitz usava o nome Carlos. Vivendo disfarçado como operador-chefe da Videre Est Credere, ele planejava e organizava a distribuição de câmeras escondidas personalizadas com as quais cidadãos podiam filmar violações de direitos humanos. O nome da organização, em latim, significa "ver é acreditar".

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Hoje, Babitz projeta sentidos artificiais para a Cyborg Nest, a empresa que ele cofundou em 2015. A Cyborg Nest é a primeira a tornar o biohacking – um movimento de modificações corporais DIY – comercial. Através de suas invenções, ele espera que outros fenômenos invisíveis, como campos magnéticos e sons inaudíveis, possam ser detectados pelo corpo humano.

Em dezembro de 2016, Babitz teve o North Sense, um dos primeiros sentidos artificiais da empresa, ligado a dois piercings no seu peito. O aparelho funciona como uma bússola digital que vibra toda vez que ele encara o polo magnético da Terra. Centenas de pessoas encomendaram o North Sense; que custa $350, é à prova d'água e vem com bateria que pode ser carregada por USB; e vão instalá-lo nos próximos meses. Babitz está convencido de que algum dia, num futuro não tão distante, todos seremos ciborgues.

VICE: Já tenho uma bússola no meu celular. Por que ter uma ligada ao meu corpo?
Liviu Babitz: Até agora, a bússola era uma ferramenta: quando precisava, você usava. Quando não precisava, não usava. O North Sense é parte constante de você. Você não decide deixar os olhos em casa quando sai, ou seus ouvidos. Eles estão sempre ali; estão sempre dando atualização para o seu cérebro; é um fluxo constante de informação. É aí que a diferença acontece. Você se lembra das coisas pelo que vê ou cheira; agora também vai começar a se lembrar de coisas pela orientação com o campo magnético da Terra. O cérebro vai começar a incorporar essa informação com sua percepção da realidade.

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"A tecnologia aqui não é o principal. O modo como a tecnologia é usada, essa é a mudança radical."

Além da memória, há outros modos como o aparelho pode influenciar a percepção?
Algumas pessoas vão ter um entendimento maior do seu ambiente – onde moram, espaços, distâncias. Para outras pessoas, isso pode afetar o modo como elas sonham. Essa é a primeira vez que muitas pessoas terão um novo tipo de sentido, então o tempo dirá [como ela irá interferir na vida da pessoa]. A tecnologia aqui não é o principal. O modo como a tecnologia é usada, essa é a mudança radical.

Mas com os olhos e ouvidos podemos captar toda uma variedade e informação; já o North Sense é algo binário.
Por isso começamos com o North Sense: é um tipo simples de absorção. Quando você coloca um braço biônico, seu cérebro vai ficar extremamente descontente no começo. A mesma coisa com sentidos. Não é algo do tipo: "OK, vou conectar o North Sense e, amanhã, saberei todos os mapas de Londres de cór". É um processo com que seu cérebro vai ter que se acostumar. E se você fica colocando e tirando o aparelho, seu cérebro volta para a estaca zero.

Vocês estão vendendo esse aparelho como um tipo de "sexto sentido", uma tecnologia evolutiva que pode aproximar os humanos da natureza, em vez de nos afastar dela. Esse é o caminho que você vê a tecnologia tomando?
Uma pergunta que as pessoas me fazem o tempo todo é "vocês querem substituir os humanos por robôs?" A resposta é: não. Eu amo o corpo humano, a existência humana e, especialmente, o cérebro humano. A ideia é melhorar, explorar.

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Você acha que as pessoas têm medo de tecnologia?
Ainda somos parte de uma geração que acha que a tecnologia vai destruir a humanidade. Mas estamos começando a entender que, na verdade, ela pode salvar, ajudar, melhorar. Usamos algumas tecnologias exageradamente, mas é assim que aprendemos as coisas.

Acho que com o tempo, as pessoas vão parar de ver os biohackers como criaturas estranhas fazendo coisas na garagem de casa e começarão a perceber: "Ah, essas pessoas estão mesmo fazendo experimentos importantes". É por esse caminho que a tecnologia vai.

Alguns meses atrás, o Fórum Econômico Mundial publicou um artigo dizendo que ter antenas implantadas no crânio das pessoas será lugar-comum em 2020. A maioria dessas coisas são fáceis de fazer – isso não é uma questão de inventar o impossível, não é um sonho. Essas coisas existem. É uma questão do como decidimos usá-las, ou pegar coisas que já temos e desviá-las do uso comum.

Na Videre Est Credere, você usava vigilância para supervisionar os poderosos, mas isso também pode ser usado contra nós. O ciborguismo pode dar errado?
Um computador ou celular tem uma câmera, um GPS, um microfone e um alto-falante – e essas coisas podem rastrear tudo que você está fazendo. O North Sense não tem memória; não está conectado com nenhuma rede. Não posso me responsabilizar pelo que vai acontecer na indústria. Posso me responsabilizar pelos nossos valores. Todo passo que tomamos, temos que lembrar que sempre tem uma opção que levaria as coisas para um lado ruim. É o último dos nossos objetivos é criar qualquer tipo de monstro que poderia ajudar governos; acabei de lutar recentemente contra eles.

Tradução: Marina Schnoor

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