Um casal de brasileiros criou o 'Tinder dos swingers'
O AffinitySW cumpriu seu papel, mas é preciso ver muita foto de piroca para chegar lá. Crédito: Felipe Larozza/VICE

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Um casal de brasileiros criou o 'Tinder dos swingers'

O AffinitySW cumpriu seu papel, mas é preciso ver muita foto de piroca para chegar lá.

Faço uma selfie com o repórter que senta ao meu lado e crio um perfil de casal no aplicativo AffinitySW, o novo lar dos adeptos do swing no Brasil. Já que não é preciso dar "match", mando um oizinho para os vários perfis que encontro: um casal na faixa dos 50 anos, um sujeito que tascou uma foto da própria piroca no perfil e outro casal, cuja imagem é uma pepeca sendo exibida por unhas vermelhas e curtas. Nossa foto é bem normcore. Encosto parte da cabeça nos ombros do meu amigo para soarmos como namoradinhos. Quem me responde primeiro é o casal mais velho. "O que procuram?", escreve o marido. Explico que nunca fiz swing, imaginando que isso possa fazer o papo render. "Calouros…", ele digita, voraz – foi assim que fertilmente imaginei –, com direito a reticências. Como uma criança de quatro anos com a casquinha do McDonald's na mão, fico sem muita ação.

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A ideia de criar o aplicativo surgiu quando o engenheiro elétrico Cássio Cruz, 32, foi com a esposa para o Nordeste curtir o Carnaval. Adeptos da prática há três anos, eles deixaram mensagens em sites propícios para a troca de casal e de contatos, mas não receberam respostas. A frustração ajudou a maquinar a empreitada, que envolveu pesquisa, seis meses de programação e R$ 100 mil de recursos próprios. O objetivo é simples: encontrar swingers em tempo real.

Crédito: Felipe Larozza/VICE

"Gostaríamos muito de desmistificar o swing com o aplicativo, mostrando para a sociedade que não há nada de errado em uma prática em que estão envolvidos somente adultos que sabem o que fazem, o que querem e que há consentimento de todas as partes", justifica o empreendedor do sexo intercambiável online.

Disponível somente para Android desde junho, o AffinitySW é gratuito e tem uma interface simples de usar, mas com design pouco arrojado. Quando você cria o perfil, pode se identificar como casal, homem solteiro, mulher solteira, transexual ou travesti – o mesmo para quem quer conhecer. Ao escolher a distância que o seu radar irá alcançar, assim como em outros aplicativos de pegação, ele trabalha alguns segundinhos e voilà, todo um universo de possibilidades para almejar o sonhado troca-troca. E, claro, muitas fotos de pirocas, pepecas e peitinhos. Um casal ou outro publica imagem do rosto. Com exceção para dois novinhos que postaram uma selfie com um carro de luxo ao fundo, no melhor estilo "viemos para uma feira de automóvel, fizemos uma selfie e colocamos no aplicativo de swing". Nutro verdadeira admiração por gente ousada e que sabe o que quer.

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Sob a condição de não ser identificado, um casal topou conceder entrevista por e-mail. Juntos há duas décadas, começaram a cogitar o swing há três anos, mas só o praticam há dois. "Como moramos no interior, em cidade pequena, fica muito difícil contato com casais swingers", relataram. Agora, com o app, a coisa já está esquentando. Desde que instalaram o AffinitySW no celular, marcaram um encontro com outro casal que estava de passagem pela cidade. O swing acabou não rolando "por motivos de força maior", explicaram. Mas os quatro participantes já estão agendando uma viagem juntos. Vai rolar.

Crédito: divulgação

Pergunto qual é a parte ruim de utilizar o aplicativo. "Receber mensagens de solteiros", respondem. "Ainda não está nos planos." Geralmente, solteiros são um saco para quem é do rolê suingueiro. Até pra mim, novata no assunto, que recebi várias mensagens de perfis com foto de piroca. Um deles pediu uma selfie. Mandei uma do meu colo (com roupa, claro, eu estava no meio da redação). Preguiça de conversar com punheteiro. "E da buceta?", ele mandou. Homens podem ser muito, muito malas.

Mais de 50 mil downloads do AffinitySW já foram feitos em 57 países. Gratuito por 10 dias, o app aparece em português, inglês, espanhol, italiano e francês. Depois do período de teste, as ações ficam bem restritas. O usuário até pode receber mensagens e respondê-las, mas não pode fazer novos contatos – forçando-o a optar pela compra. A meta, diz Cássio, é alcançar 600 mil downloads no final de 2017 e fechar o ano com um faturamento anual de US$ 500 mil. Haja suingue e malemolência para abrir o próprio negócio com tanta coragem e gozar com os resultados.

O casal "maduro" (esse termo é pornô por si só) continuou investindo e me escrevendo, mesmo quando parei de respondê-los. Na verdade, fiquei meio brochada quando recebi uma foto deles com os filhos (!). Antes de deletar o aplicativo, notei a última mensagem que enviaram para mim, a virjona do swing, e para o repórter ao lado, meu "namorado": "Sumiram?".