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Música

Selo Braza Lança Segunda Parte da Coletânea 'Bahia Bass'

Com curadoria do DJ e produtor Mauro Telefunksoul, que nos entregou uma mix supimpa só com o gênero baiano, a segunda edição que revela nomes do grave e pagodão traz trabalhos inéditos de A.MA.SSA e Som Peba.

Se você é daqueles que fica de mimimi que a cobertura musical na mídia mainstream está atolada de eventos e produtores do eixo Rio-São Paulo: parabéns, você não está de todo errado. Mas de pouco em pouco, o reconhecimento de um novo gênero ou uma nova cena chega em quem fica esperto, e assim como a própria cena do bahia bass vem se desenvolvendo e expandindo, assim tem sido os projetos que ajudam a divulgar seus produtores.

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Poucas matérias de alcance nacional falaram sobre essa nova cena que vem surgindo em Salvador que, ao misturar o bass music e músicas e influências regionais como o pagodão, axé, arrocha e capoeira, fez surgir o que hoje o DJ e produtor Mauro Telefunksoul chama apenas de bahia bass. Vários artistas já participaram em diferentes edições da coletânea Hy Brazil, a DJ inglesa Annie Mac acabou de tocar A.MA.SSA na sua Radio 1 na BBC, e até o blog colaborativo Generation Bass já pescou nessa fonte, ao lançar a primeira edição do EP Bahia Bass, produzido pelo selo Braza, do nosso parceiro Renato Martins do Funk na Caixa.

O gênero remonta lá atrás em 2005 com a faixa "Made in Bahia" do DJ Patife, e foi se desenvolvendo à media que os produtores incluiam novas referências no som, como o bass, grime, hip-hop e a guitarra baiana e a cultura do trio elétrico, maior soundsystem ambulante do mundo e principal forma pela qual o grupo Baiana System organiza suas festas. Em seguida, o MC Calibre iria batizar o som de batifum, sendo atualizado à geração millenials como salvador ghetto bass pelos Rafa Dias e Mahal Pita, que formam o duo A.MA.SSA.

Agora sob a curadoria do Mauro Telefunksoul, que tem sido um porta-voz da cena local e um grande conhecedor do desenvolvimento da cena desde os seus primeiros passos, eles lançam a segunda edição do Bahia Bass, com faixas de A.MA.SSA, Som Peba e Braunation. E para comemorar o lançamento e mostrar o grãozinho de areia que é o tamanho do nosso conhecimento sobre essa cena efervescente como o calor baiano, o Mauro nos entregou essa mix que você escuta com exclusividade aqui no THUMP e logo abaixo você confere um papo que a gente bateu sobre a curadoria do EP e como realmente vem se desenvolvendo a cena lá em Salvador.

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O EP Bahia Bass Vol. 2 está disponível no Soundcloud da Braza. Pelo Bandcamp, o EP vem acompanhado de cartazes de uma tiragem limitada, e todo o dinheiro arrecadado irá direto para os artistas. "A gente prefere não vender música, e sim subprodutos. A música é livre e não deve ser presa", completa o Renato Martins.

THUMP: Há quanto tempo você toca, como começou e por quais selos você já lançou/tocou? Conheço apenas o trabalho agora no Braza records e a gig no Thre3style.
Mauro: Começei a tocar em 1992, profissionalmente em 1997, mas como eu era de menor só comprava discos, gravava fitinhas k7, não frequentava a noite. Todo aquele esquema de guardar o dinheiro da merenda escolar pra gastar em vinis, sabe? O som que dominava aqui em Salvador e que me serve de inspiração até hj é o Miami Bass, ou Freestyle, com nomes como Stevie B, The Cover Girls, Noel, Tony Moran, Tony Garcia… Logo em seguida veio o hip-hop de Ice T, LLcool j, Beastie Boys e Public Enemy. Aí que me aparece o acid housee eu comecei a ouvir Bomb The Bass, Technotronic, Yazz e S'express, até conhecer o disco do Goldie Timeless, que tinha aquela canção inner "City Life". Putz, foi paixão a primeira vista, e surgia ali pra mim um novo conceito sonoro, que misturava batidas quebradas ao grave do baixos, eu falava que o jungle tinah vindo do espaço! Aqui em Salvador o dum'n'bass não foi bem recebido a principio pela maioria dos DJs, foi um período onde a cultura do vinil estava ficando em baixa, e os sons mais pops tomavam conta da cena. Nesse período comecei a tocar junto com banda Zambotronic, uma mistura de rock com eletrônica, e a Tritor Tecnologia Ltda, minha primeira live band, enquanto me aperfeiçoava no turntablism.Um pouco antes comecei a fazer parte da Soonomoon, grupo de pesquisa musical ligada a festas raves, pra depois ir pro Coletivo Pragatecno, dedicado à cultura club, onde estou até hj.

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Na área da produção musical, comecei mesmo na fita k7 montando megamixes e edits de tracks, e só muito tempo depois fiz minha primeira track com o Zoio do 4 Producers, de São Paulo, após uma visita ao Skol Beats. Sou do tipo que gosta de fazer collabs, e já fiz parcerias com André T, Ricardo Ferraro, Markin e Rafa Dias. Hoje tenho algumas tracks lançadas pelo selo Putz Records do Halley Seidel, Kafundó Rec do Maga BO e Wolfram, e pelo Braza do Renato Martins.

Você também faz parte do Coletivo Crokant, certo? Como surgiu e o que rola agora?
O Coletivo Crokant é a união de 3 amigos DJs: DJ Leandro dedicado ao hip-hop, DJ Raiz ao dancehall/ragga, e eu na parte eletrônica/bass culture. Há um ano atrás resolvemos nos juntar e mostrar nossas pesquisas ligadas ao que há de melhor na black música contemporânea  mundial, tocando os três juntos misturando e criando músicas com seis toca-discos e uma MPC, somados ao Magnata King Faya, nosso mestre de cerimônias. É um coletivo dedicado ao turntablism, ao DJ, e a música negra em suas várias formas.

Com que instrumentos você produz? E com quais se apresenta ao vivo?
Como gosto de colabs, sempre chamo amigos percussionistas e tecladistas para somar ao meu trampo. Gosto de produzir no Logic, no Ableton, no Nuendo, no Soundforge, e gosto de periféricos e samples analógicos (electribe, MPC). Ainda não montei um live ao vivo para essa proposta nova, mas sempre toco com toca-discos, CDJs, controladores e samplers diversos.

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Como escolheu os artistas para o Bahia Bass?
A cena baiana cresceu e nela foi surgindo novos talentos das pistas e da produção musical. Lord Breu e Dabeat 28 foram meus alunos no curso de DJing da Pragatecno; o Mangaio eu conheci por ser irmão do Vince, ex-vocalista da famosa banda baiana Lampironicos; Loro Voodoo através da internet; a massa conhecia Mahal desde quando ele era criança, fiz um som com o pai dele, o grande músico Charles Pitta; e o Pedro Mariguella é conhecido na cidade por ser neto do grande revolucionário da Ditadura Militar, o Carlos Mariguella.

E como escolheu os artistas para a mix?
A partir do EP do selo Bahia Bass, vi que muitos produtores começaram a descobrir e gostar dessa nova sonoridade, e outros que já produziam coisas do tipo que se encaixavam no contexto do Bahia Bass. A pesquisa sempre é legal, descobrimos muitas coisas "perdidas" no Soundcloud…

E quem são os principais agitadores da cena?
O DJ Kongo, ou Glauco Barboza, fundou a Festa Bass Down Low onde sou residente, o DJ Dakaza com o coletivo Ilusão faz festas misturando as culturas trance com MCs e bass culture, e A.MA.SSA, como excelentes produtores musicais, fazem suas festas onde misturam a cultura do pagode, que eles chamam de Guetto Bass.

Dá pra comparar o que está acontecendo em Salvador com a cena de outro lugar, ou país?
Em menor proporção, sim. Tá rolando uma onda boa, onde nunca tinha se visto tanta produção autoral e festas ao decorrer da semana. Hoje em Salvador acontece de duas a três festas de bass por semana, às vezes duas no mesmo dia. Acredito que estamos quase perto do Rio e Sampa, sem exageros…

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E quão fácil ou difícil é fazer essas festas em Salvador?
É o mesmo de sempre: local e soundsystem bom tem, mas muito pouco. Mas a gente vai se virando!

Vi um set seu no Thre3style em Recife. Como surgiu o convite, e como foi tocar na festa?
Participo do Redbull The3style desde 2012, onde fui convidado após uma apresentacão no RedBull Music Academy realizado aqui em Salvador. O Diretor de marketing do Norte/Nordeste da época, Wellington Ferraz, gostou da minha mistura musical e me indicou pro campeonato. Fui selecionado, e acabei sendo o primeiro nordestino a participar de uma competição de DJs internacionais. Acabei de conseguir a classificação para disputar a final em Porto Alegre com feras como Nedu Lopes, DJ Nino, Dubstrong e Jeff Bass. Já participei também das edições de 2013 e 2014. Tocar no #RB3STYLE é sempre mágico. As amizades, o conhecimento, dividir infos com grandes mestres como Zegon, DJ HUM, Erick Jay e Tanempi… Hoje sou residente do Redbull Thre3style em showcases e eventos que envolvem a marca como Redbull StreetStyle e Soundclash.

Vendo aqui de fora, A.MA.SSA é o grupo que mais tem destaque na cena atual, além do trabalho do Lord Breu e dos poucos que participaram das coletâneas do Hy Brazil. Que outros artistas ou selos estão sendo importantes na música não só em Salvador, mas no Norte/Nordeste que você conhece?
Pô, tem vários amigos. O Furmiga Dub e o Chico Correa de João Pessoa, o Patricktor4 e o Dj Dolores de Recife, o Kaska de Aracajú, e o Lucio K, apesar de morar nos Estados Unidos, tem familia e morou bastante tempo aqui em Salvador, e posso dizer que me influenciou e influencia bastante na minha carreira, produzindo música brasileira de pista sem rótulos ou bairrismos, e tem feito muita coisa relacionada ao bahia bass, entre outros.

Tracklist:

Mauro Telefunksoul ft Jimmy Luv - Black Pow (Tributo ao llê Aiyê)
Bemba Trio - Melô do Vatapá· (Lucio K remix demo)
Mauro Telefunksoul & A Massa - Apache Nagoh (Rasteira edit)
Mamãe Sacode aka Mauro Telefunksoul ft Viviane Tripodi - Bloco do Prazer
Lucio K - Bahea
Os Nelsons - Calor
Loro Voodoo - Catuaba Style
Patife ft Cleveland Watkiss, Mariene de Castro e Cortejo Afro - Made in Bahia
Pata Pata - Arrox
Mauro Telefunksoul - Oh Lord!! (Tributo ao Olodum)
Pata Pata - Karrerinhah!!
A.MA.SSA ft Raoni - Vai Rodar
A.MA.SSA - M?D???°°°RA∞A∞A∞!!
Lord Breu - Malê Warrior
Lord Breu - Nagô Squad
A.MA.SSA - BABA
Patricktor4 - Cai Na Roda
Som Peba - Arrozx
Jus Now & A.MA.SSA - Pagodão
Jahgun - Preta que Balança (Lucio K riddim mix)
Mauro Telefunksoul & Rafa Dias - BIRDKILLA
DJ Werson - Pagotrapstepmusic
Mangaio ft FéFé - Figaprosaci
Ministéreo Publico & Yellow P - Samba Dub (Real rock Version)
Calibre Batfun beat feat Kafe - Eu te liguei
Mauro Telefunksoul & André T ft Edbrass - Time is tha Master (Caballo remix)
Braunation - A.massa