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Existe uma Igreja do Videogame (e Ela é um Saco)

Passeando pela exposição de videogames E3, ouvi falar sobre uma organização cristã chamada Gamechurch.

Fotos por Jamie Lee Curtis Taete.

A exposição de videogames E3 é uma celebração anual da indústria multibilionária dos games. É também um negócio chato pacas. Como a maior exposição comercial de videogames do mundo, o evento é excessivamente estimulante e ridiculamente corporativo ao mesmo tempo. Imagine andar pela Las Vegas Strip, com todas as luzes, sons e gente gritando coisas para você, e aí tropeçar acidentalmente numa palestra do TED. Para mim também parece um puta saco.

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Passeando pelo lugar em junho, ouvi falar sobre uma organização cristã chamada Gamechurch, que tinha uma barraca bem no fundo do centro de convenções e que estava dando cerveja para qualquer pessoa desesperada o suficiente a ponto de falar com eles. Achei que minha E3 tinha sido salva. Seria um sinal de Deus de que eu teria um gostinho da salvação e também ficaria bêbado de cerveja?

Para minha surpresa, não tinha mais cerveja quando cheguei lá. Acho que todo mundo da E3 teve a mesma ideia, só que antes de mim. Tudo o que me restou foi ler o material deles esperando que chegasse mais cerveja.

Dei uma folheada no panfleto deles intitulado “Jesus para Vencer!” e logo percebi que o negócio era sério. Uma versão condensada do Livro de João foi intercalada com ensaios que justificavam a mistura do Novo Testamento com o último Call of Duty. Coisas supercompatíveis, né?

Eles também tinham uma mesa de merchandise grátis da Gamechurch. Qualquer um podia chegar e pegar brindes padrões de exposição (adesivos, buttons, etc.), mas, para ganhar os brindes de alto padrão, como camisetas e velas, você teria que assinar a lista de e-mail deles.

Assinei a tal lista para ganhar uma vela. Para o azar deles, tenho um filtro de spam para a palavra “Jesus”.

Eu esperava saber um pouco mais sobre a Gamechurch de um jeito mais analógico, então, falei com Mikee Bridges, entusiasta de fedora, fundador e dono da Gamechurch (e também do site xxxchurch.com, um site antipornografia desenvolvido para parecer um site de pornografia, um truque bem interessante para quem está com as calças arriadas lá pelas 3h da manhã), que me garantiu, antes mesmo de nossa entrevista, que não ia chegar mais cerveja.

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VICE: Como você entrou nesse negócio de gamer cristão?
Mikee Bridges: Sempre fui cristão e não gosto do cristianismo ocidental norte-americano. Não gosto da maneira como retratamos Jesus, cercado por culpa, vergonha e julgamento. Isso não está escrito em lugar nenhum (na Bíblia). Eu fui de músico a promotor de eventos, e por causa desse trabalho, tive alguns estabelecimentos musicais, onde eu gostava de ter um lounge ou um café. Eu costumava colocar uns computadores ali e os garotos que frequentavam essas casas começaram a vir para jogar videogames. Era mais legal ficar com os moleques dos videogames do que com os músicos, porque os músicos eram uns bebezões. Então, parei de trabalhar com música e comecei a trabalhar com videogames. Temos uma instalação de mais de 2 mil metros quadrados em Ventura, que fica a uma hora daqui. Tudo o que a gente faz é jogar, o dia inteiro, a noite inteira. Gamechurch.com é uma extensão disso.

Como você combina videogames, que em geral são um meio superagressivo e misógino de entretenimento, com mensagens de paz e amor?
Não combinamos. Não sou um policial da moral. O que você joga em casa nunca vai me afetar. Nós [como cristãos] queremos desesperadamente algo para julgar. Eles fazem isso com a música, com os filmes, com livros e agora com os videogames. Essa é uma razão para eu não gostar dos irmãos e irmãs e do que eles fazem. Acho que isso se resume a duas coisas: ter bons pais e autodisciplina. Se você é alcoólatra e não quer ficar perto de bebidas, não vá a um bar. Não vá assistir um filme de censura 18 anos se você não consegue lidar com isso, mas eu vou e vou te falar sobre isso. Não fico perturbado com a violência, a sexualidade e o sangue. Nada realmente me assusta. Já passei por isso algumas vezes.

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Você acha que os videogames fazem as pessoas se comportarem diferente, da maneira como os grupos conservadores afirmam? Você lida com o vício em sexo com seu outro site, o xxxchurch.com, e você diz que a pornografia muda as pessoas. Jogos violentos e superssexualizados não mudam as pessoas da mesma maneira que o pornô?
Tudo nos afeta. Andar até o final da rua me afeta. Quando vejo um restaurante, isso me afeta. Acho que tudo tem a ver com autodisciplina, autocontrole e ter bons pais. Fico triste com a indústria de videogames, porque estamos super sexualizando as mulheres e há um problema aí. Acho que isso tem sido abordado recentemente, o que é legal, mas infelizmente, não sou a polícia. Então, pessoalmente, vejo isso e tenho que dizer: “Sim, estamos superssexualizando as coisas”. Nem todas as mulheres nos videogames precisam ter peitões e bundas enormes. Quanto a você, não sei, não te conheço. Não te conheço para julgar o que é OK para você.

Por que os cristãos são conhecidos historicamente por serem tão críticos quanto às escolhas pessoais dos outros?
Duzentos ou trezentos anos atrás, nos tornamos um grupo medroso e temido. Vou achar o que faz você se sentir sujo para que você venha se arrastando para “o Senhor”, e isso estava baseado no medo, o que é um saco e não é verdade. E não tem nada a ver com a salvação que conheço. É uma chatice.

Se Jesus estivesse na E3 ou na Comic-Con, será que ele faria cosplay de si mesmo ou de algum outro personagem?
Dele mesmo, com certeza. O que eu quero fazer é dar uma festa, ter alguém fazendo cosplay de Jesus e colocar esse cara como DJ. Imagina um open bar, num clube bem pequeno com capacidade para umas 200 ou 300 pessoas — Jesus sobe nas picapes e todo mundo pira. É assim que ele seria. Ele era famoso. Ele era um rock star.

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@dave_shilling

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