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Música

A Maravilhosa Zoeira do MCA e dos Beasties

Vamos lembrar deles e ouvir as músicas até encher o saco dos nossos netos porque eles estavam perpetuamente de zoeira.

Como milhões de outras pessoas provavelmente fizeram, depois que fiquei sabendo da morte do Adam “MCA” Yauch na sexta passada, passei o final de semana inteiro ouvindo Beastie Boys e descobrindo que sim, ainda consigo (mesmo que muito toscamente) cantar junto com praticamente todas as músicas do License to Ill, Paul's Boutique e Ill Communication. Enquanto escutava esses discos, relembrei algumas coisas que tinha esquecido: 1) Paul's Boutique é um disco foda e bem louco, e 2) os Beasties eram os reis da zoeira. Claro, algumas faixas eram sobre budismo (cantadas principalmente pelo MCA), e uma era sobre como o George W. Bush era mau, mas, no final das contas, não vamos lembrar dos Beastie Boys pela espiritualidade ou pela política (e é assim que deve ser, porque essa do Bush é péssima). Vamos lembrar deles e ouvir as músicas até encher o saco dos nossos netos porque eles estavam perpetuamente zoando, eles eram adolescentes eternos que nunca cresceram – aqueles moleques que sentam no fundo da sala de aula e que sabem que barulho de peido é sempre engraçado.

E com isso não estou dizendo que o Adam Yauch não era um adulto. Ele fundou uma organização pró-Tibete sem fins lucrativos e deu início a uma distribuidora de filmes que lançou coisas muito boas. Por mais estranho que pareça, ele até colocou algumas pessoas na política. Assim pode parecer que o MCA era uma celebridade ativista respeitável sem senso de humor tipo o Bono, e isso é uma coisa muito escrota de se pensar. Ele foi um cara que em resposta a uma crítica negativa do New York Times sobre um vídeo dirigido por ele no qual uma velinha jogava peixe nos Beastie Boys, enviou uma carta ao editor como seu alterego Nathanial Hornblower exigindo que o crítico mandasse uma cabra para ele como pedido de desculpas. E esse era o MCA de 39 anos de idade. Aos 46, ele dirigiu um clipe de 30 minutos que mostrava, entre outras coisas, duas versões viajantes do tempo dos Beasties mijando uns nos outros por um período muito longo de tempo. Os Beastie Boys eram uma piada, e digo isso como um puta elogio. Eles nunca, nunca quiseram ser levados a sério, o que rendeu algumas tretas no começo, quando seus personagens foram confundidos com os caras de verdade (como o Sasha Frere-Jones disse no seu obituário para o MCA: “Quando eles começaram a fumar angel dust? Quando eles começaram a bater em garotas? AHN”.). E não foi só o senso comum que levou o License to Ill a sério demais — a paródia “Fight for Your Right” ficou popular porque um bando de babacas de fraternidade não percebeu que a música era uma paródia#History).

Um tempo depois, o MCA fez a famosa retratação: “Aí, bater em mulher não é uma coisa legal, desculpe por termos brincado com isso quando a gente era adolescente”, mas felizmente os Beasties não piraram e viraram Artistas Sérios — 90% das músicas deles eram no melhor estilo “Vamos nos divertir pra caralho, rimamos pra cacete e sampleamos coisas legais de um jeito muito foda” e, claro, eles amavam usar bigodes falsos. Bigodes falsos e clipes cheios de zoeira são como jazz — se você tem que perguntar por que eles são engraçados e maravilhosos, você nunca vai entender. Esse tipo de zoeira dos Beasties é importante, porque é muito fácil artistas criticamente aclamados enfiarem as cabeças nos próprios rabos — o Radiohead, por exemplo, ficou tão sério que lança um disco a cada cinco anos com um monte de cliques sem ritmo e os gemidos (nada sensuais) do Thom Yorke, isso sem falar que eles começaram a tratar todas as suas aparições na TV como dissertações de pós-graduação. Se tem uma coisa que o mundo precisa seriamente são mais músicas sobre jogar ovos nas pessoas. Precisamos de artistas — e que se foda, o MCA era um artista — para ensinar às crianças as virtudes da zoeira, porque a maioria das coisas no mundo é construída para acabar com qualquer impulso de diversão que as crianças possam ter. As escolas só ensinam a parte chata das artes e da literatura (porque, claro, nada realmente importante também vai ser engraçado), e os pais enfiam seus rebentos em agendas hipertrofiadas pra que eles sejam versões mirins de adultos estressados. Pior de tudo, testes padronizados estão sugando a diversão de todas as histórias nonsense forçando os estudantes a responder questões sobre paródias de fábulas com animais, ao invés de simplesmente deixar a molecada ler algo engraçado e rir.

Quanta gente pode dizer, como o MCA e sua turma, que “My work is my play cause I'm playing when I work”? Isso, aliás, é um puta lema legal. Foram muitos tributos ao MCA no final de semana, mas o meu favorito foi o cover do Coldplay pro “Fight for Your Right”. Normalmente eu colocaria o Coldplay na categoria “banda que se leva muuuito a sério”, mas eles ganharam o meu respeito fazendo o cover da música mais estúpida de um jeito que eu não sei se eles estavam de brincadeira ou falando sério — um jeito muito bom de prestar homenagem ao cara que foi o adolescente mais velho do mundo.