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Eu Odeio Héteros

Desencana de zoar viados. Tá na hora de usar das mesmas armas e aloprar os héteros.

Skin Flick, do Bruce LaBruce. Cortesia de Peres Projects, Los Angeles.

Tem gente que não, mas a gente curte muito o Bruce LaBruce. Foi ele quem entrevistou o Karl Lagerfeld pra nossa Edição de Moda 2010, lembra? Pra matar a saudade, resolvemos postar aqui uma espécie de 'manifesto' que ele escreveu.

Desencana de zoar viados. Tá na hora de usar das mesmas armas e aloprar os héteros. Quando eu era um homo punk marica nos anos 80, uns machões HT com moicanos de um metro, e jaquetas do Crass convenientemente deixavam de lado suas inclinações radicais e anarco-esquerdistas por alguns instantes e me socavam a fuça por mostrar filmes gays super-8 em bares punks. Até os ditos inimigos neo-nazistas skinheads deles, que estavam no mesmo show, se solidarizavam com o ódio contra homossexuais pra cuspir na minha cara. Minhas amigas sapatas punks formavam um escudo humano, mas o estrago já estava feito. Dali em diante, dediquei grande parte do meu trabalho a jogar na cara dos heterossexuais a vida homossexual, tanto na cara dos virulentos homofóbicos quanto na dos liberais de bom coração.

É o homossexual afeminado que eles conseguem aguentar menos, especialmente o sexualmente agressivo que não se importa com a opinião alheia, então essa foi a imagem que resolvemos promover. Na época, normalmente nos referíamos aos heterossexuais como reprodutores. W.C. Fields, que odiava crianças, era nosso ídolo, e amávamos o Roman Polanski em O Inquilino – principalmente daquela cena em que ele, vestido de travesti, vai até o menininho em um parque e dá um tapão na cara dele sem razão nenhuma. "Por que as pessoas que reproduzem se acham tão especiais?", nós nos perguntávamos. Trazer uma criança para esse mundo superpopulado e cheio de guerras, desesperadamente tentando agarrar uma ideia patética de imortalidade? Nas palavras sábias de Kim e Kelley Deal (do The Breeders, claro), "se você é tão especial, por que não está morto?".

Na minha universidade existia um grupo chamado de Liga Contra os Homossexuais. O seu lema, espalhado por panfletos em todo o campus, era "Gays não produzem, eles seduzem". Adotei o credo deles pra mim mesmo da maneira mais pública possível. Mas hoje em dia, homossexuais de 20 e poucos anos, especialmente aqueles que leem a VICE, pensam que é bacana ser discreto com a suas viadagens, agindo como se não tivesse nenhum impacto na vida deles ou na dos outros. Chamávamos isso de 'armário'.

Então, zoar viados ainda é necessário (alguém deveria pegar o "Fag Five" do Queer Eye for the Straight Guy em um beco e hospitalizá-los por promoverem a imagem dos gays como materialistas que amam reprodução). Mas que tal um pouco de zoeira com os héteros também? Acho que todo mundo precisa de algumas surras. Viados subservientes precisam, viados que andam como héteros precisam, e até os héteros precisam. Zoemos todos. Qualquer pessoa que concorde com essa mania de viado ter que se comportar merece ter os joelhos quebrados. As únicas pessoas que não sinto vontade de tirar sarro ultimamente são as drags montadas da noite e os caras que realmente zoam viados.

A próxima vez que você avistar um casal de héteros de mãos dadas, corra até eles e grite "Reprodutores cheios de herpes!" e soque a fuça deles. Você vai se sentir melhor. Junte-se à intifada homossexual. Cola lá no brucelabruce.com e compra uma camiseta ou alguma coisa do cara, tá?