Mais de 20 mil jovens foram à Avenida Paulista, em São Paulo, nesta terça-feira à noite, para defender grupos minorizados ameaçados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). O número foi estimado pela organização do evento (a PM não faz mais estas estimativas em SP).Dois dias após o resultado das urnas consagrar o candidato de extrema-direita, o grito de #EleNão era uníssono em algumas das principais ruas da capital. Cartazes mostravam que a multidão lutava contra o fascismo, discursos de ódio, homofobia e racismo. Jovens insatisfeitos e sedentos por mudanças. Uma galera sem medo querendo valer cada grito.
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O movimento contou com a presença de algumas lideranças políticas. Os nomes que causaram maior alvoroço foram Eduardo Suplicy, que não conseguiu se eleger senador pelo PT, e o candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos. Com discursos inflamados e marcando oposição ao governo, ambos arrancaram aplausos e gritos de apoio da massa.Depois disso, fui perguntar aos jovens que colaram o que eles esperam destes próximos quatro anos de resistência.
"Vindo pra rua desejo mostrar o que estamos sentindo. Mesmo que ele tenha ganhado, vamos continuar lutando pelos nossos direitos. Desejo que gente continue tendo a nossa liberdade. Não é por sermos homossexuais que devemos ter medo. Desejo que a gente possa ser o que a gente é sem ter medo. Desejo um mundo mais aberto e com respeito pelo outro"
"Estou aqui lutando pela resistência de um país em que as pessoas sofrem muito preconceito. Onde negros, homossexuais, LGBTQs possam andar livremente na rua. Que eu, enquanto mulher, ande na rua e não tenha medo de ser estuprada. Quero poder sair com minhas amigas e jamais ter medo. Quero lutar não só por mim. Estou lutando por todos os meus amigos e as pessoas que estão com medo.""Acho que nem todos os eleitores do Bolsonaro são fascistas. Acredito que eles estão perdidos e desinformados. Não acho que ele vai mudar mudar muita coisa. Em 27 anos como deputado ele não fez nada. Não vai ser em quatro anos como presidente que ele vá melhorar algo."
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"Moro na periferia, minha mãe é professora e o que me trouxe pra rua é por saber que esse governo tem características de um governo fascista e opressões às minorias. Não tenho medo de Bolsonaro, tenho dos eleitores dele, do fanatismo e dos discursos de ódio, do extremismo e fanatismo. As pessoas que se diziam não-homofóbicas e não-racistas começaram a se revelar. Me sinto triste pela população brasileira."
"Um cara extremamente racista, misógino homofóbico. Meus pais votaram nele e vim pra rua está sendo muito difícil, mas é preciso enfrentar e tentar fazer a diferença. E essa rosa branca é para simbolizar o nosso desejo de paz nesse momento."
"Eu enquanto minoria sociopolítica — mulher, com deficiência, não-heterossexual e vinda de periferia — estar aqui e mostrar a minha cara é importante para mostrar para as pessoas que elegeram quem foi eleito e para entender que eu não estou sozinha. Momentos assim são importantes para mostrar que não vamos ficar quietos e para nos sentirmos acolhidos.""Eleger uma pessoa que assume um discurso violento é ser contra aquilo que está perto de você. Pois todo mundo é ou tem alguma minoria por perto. Eu tenho medo, sim. Mas, como disse Nina Simone, liberdade é não ter medo. Não tenho medo de enfrentar os meus medos."
"Estou na manifestação em defesa das pessoas que estão sendo atacadas; que estão tendo seus espaços diminuídos, que elas ocupem os espaços delas, de uma sociedade diversa."
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"Espero que todas as minorias, negros, LGBTQs, nordestinos, todos que estão tendo seus direitos atacados possam ir às ruas e mostrar que vamos resistir pela cultura de paz e nenhuma vida a menos. Nenhum direito a menos! Nenhuma vida a menos."Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
Assista ao nosso documentário "O Mito de Bolsonaro"
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