Ativistas e representantes contam seus temores caso Jair Bolsonaro assuma a presidência.
Fotos: reprodução das redes sociais dos entrevistados

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LGBT+

"O futuro dos LGBT+ num governo Bolsonaro é viver no medo"

Ativistas e representantes contam seus temores sob o governo Bolsonaro.

A ascensão política do deputado federal e candidato à presidência da república Jair Bolsonaro (PSL-RJ) colocou a comunidade LGBT+ em estado de alerta. Vencedor do primeiro turno da eleição presidencial em 7 de outubro, o ex-capitão do Exército tirou do armário o preconceito e o discurso de ódio.

“Não existe nenhum grupo com mais medo que esse homem vença do que nós, LGBT+. Esse é o país que mais mata LGBT+ no mundo e, com um presidente assumidamente LGBTQfóbico, esse cenário pode piorar mais ainda”, afirma o ativista e youtuber Spartakus Santiago.

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Para a ativista baiana Millena Passos, juntas, as minorias – mulheres, negros, LGBT+, indígenas, sem teto, sem terra, pessoas com deficiências, mulheres gordas –, são mais fortes do que Jair Bolsonaro pensa. “Cabe a nós unirmos força.”

A seguir, depoimentos de ativistas e representantes LGBT+ sobre o futuro da comunidade em um eventual governo Jair Bolsonaro:

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Renan Quinalha, professor de direito da Unifesp, ativista LGBT+ e um dos autores do livro História do Movimento LGBT no Brasil

“As políticas públicas para LGBTs de um governo dele serão ódio, guetos e armários. Isolamento, indiferença e violência combinados para colocar LGBTs à margem da sociedade."

Symmy Larrat, presidenTRA da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos)

“[Um futuro] de perseguição à nossa existência; de intensificação das humilhações e agressões às pessoas LGBT+, não só nos espaços institucionais, mas nas ruas."

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MC Luana Hansen, rapper

“Não existe Bolsonaro e LGBT+ na mesma frase. Ele é um governo fascista, ditador, que já está colocando na rua aquela revolta, o ódio em muitas pessoas, e nós, LGBTs, já estamos sofrendo agressões diárias, desde o dia do resultado do primeiro turno."

Spartakus Santiago, apresentador, youtuber, ativista negro e LGBT

“Nas mãos dele não existe futuro pra gente. Bolsonaro no poder é mais do que um representante que nos odeia, é a carta branca do Estado para que seus seguidores possam nos violentar. O candidato disse que vai destruir todos os tipos de ativismo, ou seja, além de sermos violados, não vamos poder denunciar o que sofremos. A eleição desse homem passa a mensagem que nossas pautas não importam, que nossas vidas não valem nada, que o Brasil nos rejeita."

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Erica Malunguinho, deputada estadual eleita pelo PSOL-SP

“Vejo dois cenários muito tenebrosos. Um: a desassistência, que é não levar em consideração a especificidade da diversidade sexual e de gênero como componente da sociedade, o que já gera seríssimos problemas, uma vez que nós LGBT+ já somos corpos mais vulneráveis, que necessitam de políticas públicas. Tem também o ataque propositivo aos direitos LGBT+: não qualificar a homo e a transfobia como crimes, não considerar as necessidades da população trans no que diz respeito ao sistema de saúde, ao SUS, à educação e ao mercado de trabalho."

Leka Peres, organizadora do bloco de Carnaval Siga Bem Caminhoneira

“Acredito que o futuro dos LGBT+ num governo Bolsonaro é viver no medo. As pessoas acham que frases são inofensivas, mas elas legitimam o preconceito já existente em outras pessoas. E numa sociedade violenta como a brasileira, em que a violência já é institucionalizada, ela será normalizada."

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Pedro HMC, roteirista e youtuber do canal Põe na Roda

“Tenho medo, porque tem muito fascista, conservador e preconceituoso saindo do armário. Agora essas pessoas estão se sentindo legitimadas para exteriorizar seus preconceitos."

Henrique Rabello de Carvalho, professor e vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/RJ

“O Congresso Nacional e o Poder Executivo, sob eventual comando de Jair Bolsonaro, podem obstar políticas públicas importantes relacionadas à população LGBT+, como o combate e estabelecimento de estatísticas de violência lgbtfóbica e a manutenção do programa de HIV/AIDS. Isso se torna gravíssimo quando se analisa a pauta LGBT+ em uma perspectiva interseccional de raça, classe e gênero. Ou seja, ser LGBT+, negro e pobre amplia a possibilidade de morte e violências físicas e simbólicas.”

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Millena Passos, ativista política do movimento LGBT baiano

“Será um caos, uma ditadura. Um homem que faz apologia ao racismo, à LGBTQfobia, à violência contra mulher não me representa e não representa a nação brasileira. Desde que ele se apresentou como candidato, tenho visto aumentar os índices de morte de LGBTs, lembrando que a carne que mais sangra é a carne negra e feminina. Estou muito preocupada, porque a fala dele tem força. É um fascista! Tenho feito minha parte, na Bahia, no Nordeste, onde eu for, desconstruindo a fala dessa pessoa.”

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Lea T, modelo

“Tenho recebido muitas mensagens no Instagram de jovens em desespero, pessoas de várias partes do país, em pânico com o que pode acontecer. Ou melhor, o que já está acontecendo: os relatos de violência e agressões aumentam a cada dia. Teremos que nos unir, nos cuidar, não apenas os LGBTs, mas as mulheres, os negros, todo grupo que seja alvo de seu discurso de ódio.”

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