Luccas Carlos, o último romântico
Foto: Felipe Larozza/VICE

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Luccas Carlos, o último romântico

Uma das maiores revelações do R&B underground nacional dos últimos anos, o carioca de 23 anos se prepara para o lançamento do seu primeiro disco cheio, autointitulado, que sai até 2018.

O Luccas Carlos é, antes de tudo, um cara romântico. Mas não daqueles pegadores, que saem pegando todo mundo na noite, pra todo mundo ver. O Luccas — ou Caslu — é mais na dele. "Eu tento ser bem reservado na minha vida pessoal, das meninas que eu fico. Tento ficar não me expondo muito", se explicou o rapper carioca de 23 anos. "Mas eu gosto de falar [nas músicas] sobre relacionamento. É um negócio que às vezes eu tento escapar, mas acabei trazendo muito comigo desde sempre". De fato Um, seu EP de estreia que saiu em março de 2017 pelo selo Pirâmide Perdida, traz sete músicas, e o conjunto da obra versa sobre as etapas de um lance amoroso que dura exatamente uma noite. "Começa com o processo de paquera, depois eu dando certo com a mina e, por último, a separação", disse Luccas. "Na verdade, o EP faz um loop, porque é como se esse esquema ficasse se repetindo noite após noite."

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Para lançar como primeiro single do seu próximo álbum nesta sexta-feira (25), no entanto, Luccas escolheu "7K ", uma faixa que foge um pouco da temática "romance" e trata mais sobre o momento atual da sua vida e da sua carreira, depois desses sete anos tentando se firmar no rap nacional. "É a minha visão de como o meu corre foi se desenrolando, principalmente depois do lançamento do EP e de várias coisas que me aconteceram esse ano", disse. "É incrível, a gente já está em agosto. O ano passou muito rápido. Eu lancei o Um em março e desde então muita coisa mudou". A música, que conta com beat do Gabriel Dassisti, o GO, foi produzida pelo Gee Rocha, do NX Zero.

Uma dessas "coisas que mudaram" as quais Luccas se refere foi o fato de ele ter trocado a sua cidade natal, Rio de Janeiro, por São Paulo. "É mais fácil de vender show daqui. As passagens aéreas saindo de São Paulo são mais baratas do que do Rio. Eu sempre gostei muito da cidade". Na capital paulista, Luccas mora num apartamento na zona oeste, mas ele escolheu receber o Noisey num estúdio que fica dentro de uma mansão no bairro do Jardim dos Estados, na região sul da cidade. "Tava 'mó zona' lá em casa", riu. "Também, eu passo a maior parte do meu tempo aqui, ouvindo um som, jogando videogame…". Antes, depois e durante os intervalos desta entrevista, o músico jogou um pouco o Playstation 4 do estúdio. Primeiro, foi um jogo de estratégia e tiro. Depois, ele trocou para o NBA 2K17 e me revelou a sua outra paixão, além da música: o basquete.

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Luccas jogando um GTA, Go ao fundo. Foto: Felipe Larozza/VICE

"Eu jogava [basquete] quando era menor, lá no Rio. Tenho até o troféu da NBA tatuado", contou. Foi depois de ter sido dispensado da equipe do colégio que Luccas passou a se dedicar só à música. "Gostava muito do basquete sim. Também comecei a fazer faculdade de Produção Audiovisual, só que nunca me vi fazendo nada que não fosse música". Embora não tenha crescido efetivamente numa família de músicos, seus pais e principalmente um dos seus três irmãos mais velhos — ele é o caçula de quatro filhos —, o Leandro, influenciaram muito na sua formação musical: a mãe, ex-enfermeira, sempre foi do coral da igreja que frequentava. Já o pai, que virou corretor de seguros depois de ter se aposentado, colocava muito samba pra tocar no rádio em casa. "Minha família tem muito dessa parada com o samba. Meu falecido tio frequentava escola de samba, meu avô também tocava. Então, sempre foi um gênero musical muito presente na minha vida."

Sua primeira composição, inclusive, foi um pagode, intitulado "Casa Comigo", que ele compôs em 2008, aos 14 anos de idade. "Não lembro direito o que me motivou a escrever essa música, na real. Lembro que mostrei pro Leandro e ele, que tentava ser músico, mostrou para uns amigos do meio". Acabou que um grupo carioca, o Etynia e, depois, os paulistas do Na Hora H gravaram a música do Luccas e ele conseguiu tirar uma grana com isso. "Só que depois, quando eu fiquei mais velho e quis começar a fazer as minhas músicas mesmo, pra lançar com o meu nome, não quis investir no pagode, porque não tinha nada a ver com a minha vibe mais", comentou o rapper, dizendo que sempre ouviu muito pop gringo.

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Quando mais novo, Luccas não gostava muito de rap. O irmão, que teve um grupo de hip hop chamado Consciência Tranquila — que chegou inclusive a participar do programa Superstar, da Rede Globo —, foi o responsável por apresentar algumas "paradas" pra ele. Com o tempo, passou a ouvir Tupac, Biggie, Chris Brown, Kanye West e, mais atualmente, Migos: "O Culture é o disco da minha vida".

Rap

Em 2010, começou a gravar suas primeiras linhas em cima de batidas de músicas gringas. "Toda sexta-feira, eu lançava uma faixa no Soundcloud, só que perdi o HD que tinha todas as músicas dessa fase da minha carreira", lamentou o rapper. Em meados de 2011, Luccas conheceu Luciano Scarlecio, que viria a ser seu atual DJ. "Ele tinha uns equipamentos minimamente melhores do que os que eu tinha em casa. Aí começamos a gravar umas coisas juntos". Nesse meio tempo, Luccas tinha adicionado o Stephan Peixoto, o Sain, no Facebook, na época em que ele ainda tinha o [grupo] Start Rap. "Mandei uma mensagem, sobre música mesmo, e o Sain respondeu. Fomos trocando ideia e, no meio de 2011, gravei minha primeira música com o Start". Ele tinha 18 anos e estava no colégio ainda quando virou um dos frequentadores da casa do filho do Marcelo D2, no Jardim Botânico, bairro da zona sul do Rio. "Lá, eu conheci praticamente todo mundo com quem eu ando hoje em dia, do pessoal que hoje faz parte da Pirâmide", contou o rapper.

Um ano depois, aos 19, Caslu lançou sua primeira mixtape, a Terapia Vol. 1. A tape, que só está disponível para download aqui, chamou a atenção de uma galera no rap e até ganhou destaque no site da MTV na época, com um artigo — escrito inclusive pelo atual editor do Noisey Brasil, Eduardo Roberto — sobre a faixa "É Real". "Ela [a mixtape] já tinha mais ou menos a mesma linha que o Um, só que eu ainda rimava bastante. Era mais rap que o meus trabalhos atuais, mas sempre com o refrão R&B. Acontece que todo mundo vinha me falar que a parte cantada era a mais da hora do que as rimas, que podiam 'dar uma melhorada'. Por isso, resolvi focar nas minhas habilidades melódicas."

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Foto: Felipe Larozza

A partir de 2013, Luccas deu uma pausa no lançamento de sons de sua autoria e focou em fazer parcerias com outros artistas. Foi aí que saiu em turnê com o Start Rap e, mais tarde, virou backing-vocal do Cacife Clandestino. Só retomou sua carreira solo no final de 2015, quando começou a preparar as músicas do Um. Nessa época, o Sain já tinha se mudado para o Catete, bairro da zona sul carioca, e o selo Pirâmide Perdida já tinha dado as caras na cena do rap nacional, juntando Sain, El Lif Beatz, Akira Presidente, os caras do Nectar Gang (BK', Bril, CHS e JXVNS) e o próprio Luccas Carlos numa banca da nova geração do TTK.

"Eu nasci em Laranjeiras, mas fui criado na Tijuca, num apartamento perto da divisa com o Rio Comprido. Mas tem muita gente que acha que sou do Catete, pelo tanto que eu colava e dava rolé com os outros caras da Pirâmide — todos do Catete". Pra ele, a Pirâmide deu (e continua dando) certo nesses dois anos porque a parceria deles vai além da música. "A gente é irmão. Mesmo eu estando aqui em São Paulo agora, falo sempre com eles, continuamos fazendo som juntos e vira e mexe ou eu vou pro Rio, ou eles vêm pra cá", falou Luccas. "Os caras são fodas. De nacional, é uma das únicas coisas que hoje em dia eu paro pra ouvir e sei que vou gostar das letras, das batidas. Mas acho que tem muito a ver com a vivência que tive com eles também."

Foto: Felipe Larozza

Assim como na sua vida amorosa, Luccas tenta ser reservado em relação às suas tretas pessoais. Ele não quis comentar o caso da briga em que ele se envolveu com o NOG, do Costa Gold, no final de março deste ano. O caso segue na justiça.

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Primeiro álbum

Um saiu numa parceria da Pirâmide com a Universal, que fez a distribuição do EP. O disco autointitulado também vai ser lançado nesse esquema. Segundo Caslu, o álbum vem mais animado que o seu trabalho anterior e explora mais gêneros de produção musical. "Tem house, dancehall também. Tem voz e violão e mais instrumentação que o EP", contou. "O Um foi um cartão de entrada. O disco é uma constatação. Sou eu mais confortável, mais tranquilo". Ainda não estão confirmadas todas as participações que vão rolar no novo trabalho. Até agora, Luccas confirmou apenas que o Matheus Queirós e o duo Tropkillaz devem aparecer no álbum. Luccas Carlos deve sair ou até no final do ano, ou (e mais provavelmente, segundo ele) em 2018. E, como é esperado, vai estar cheio de faixas de amor, sedução e coração partido, baseadas na sua vida e na dos seus companheiros de "rolé". "Eu não consigo fugir disso. Tenho essa veia de romance que não sai de mim. Sou um cara romântico, fazer o quê?".

Foto: Felipe Larozza

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