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Martin Shkreli foi condenado por fraude

O notório Pharma Bro pode ir para a prisão por um longo tempo.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.

Nesta sexta-feira (4), um júri no tribunal federal do Brooklyn condenou Martin Shkreli, que se tornou famoso ano passado por decolar preços de drogas que salvam vidas e comprar um disco exclusivo do Wu-Tang para ninguém ouvir, entre outros comportamentos escandalosos. Ele foi declarado culpado de duas acusações de fraude e conspiração de segurança, e inocente de outras cinco acusações incluindo fraude eletrônica. Shkreli pode pegar até 20 anos de prisão.

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Depois de um mês de procedimentos no tribunal e quatro dias e meio de deliberações do júri, sete homens e cinco mulheres decidiram que o empresário de 34 anos enganou propositalmente seus investidores enquanto comandava um fundo de investimentos. Eles também concordaram que ele tinha pago ilegalmente alguns desses investidores saindo do negócio com ações de uma empresa de biotecnologia que ele estava começando, a Retrophin.

Muito do julgamento — que variou do dolorosamente chato ao deliciosamente bizarro — se centrava nos e-mails de Shkreli. O governo tentava mostrar como ele tinha perdido milhões de dólares, enrolou investidores por mais de um ano, e conseguiu uma herança inesperada capaz de pagar os investidores de volta. Os advogados de Shkreli não tentaram contestar o fato de que seu cliente mentiu, em vez disso tentaram ganhar a simpatia do júri e pintaram o réu como um possível autista, que nunca prejudicou ninguém com sua artimanha já que a maioria dos investidores saiu no lucro.

"Essas prisões, aliás, são como dormitórios." - Martin Shkreli em 2015

A estratégia legal da defesa era estranha e tinha muita chance de falhar, como Andrew Boutros, um ex-promotor federal que trabalha com crimes financeiros, me disse.

Fraude ainda é crime mesmo se não resultar em danos, me explicou Boutros, que agora trabalha com a Escola de Direito da Universidade de Chicago. Se alguém mente num documento de hipoteca, por exemplo, a pessoa cometeu um crime mesmo que pague cada centavo que emprestou. Os advogados de Shkreli não estavam tentando fazer um argumento legal, mas sim convencer os jurados de que o acontecido foi sem importância — ou, pelo menos, não tinha importância o bastante para mandar um cara acostumado a almoçar filés e vinhos caros para uma prisão federal.

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E em certo momento, o argumento da defesa pareceu funcionar. No segundo dia das deliberações, os jurados pediram ao juiz Kiyo Matsumoto para esclarecer os termos "intenção fraudulenta" e "ativos sob gestão". O advogado de Shkreli, Benjamin Brafman, sorriu para seu cliente nesse momento — provavelmente porque parecia que os argumentos finais tinham tido um impacto.

Quando passei um tempo com Shkreli para uma matéria não muito depois de sua primeira prisão em 2015, ele basicamente admitiu que tinha enganado clientes; a correspondência que a promotoria federal coletou como prova em 33 fichários enormes contavam uma história similar.

Nem tentar provar que Shkreli não cometeu fraude foi uma jogada arriscada da parte da defesa. Algo que até combina com a queda que Shkreli tem em assumir riscos insanos — o que, para ser honesta, não é inédito na sua indústria. O problema talvez tenha sido que sua reputação já é impossível de ser consertada, mesmo num contexto em que jurados tendenciosos deveriam ser dispensados.

"Claro, quanto mais simpático o réu, mais eficiente é essa estratégia", me disse Boutros.

Encontrar pessoas que sentissem simpatia por Shkreli foi uma batalha desde o começo. Ele foi apelidado de "o homem mais odiado dos EUA" por se tornar o rosto de uma prática escrota que infelizmente se tornou muito comum na indústria farmacêutica: comprar os direitos de uma droga sem competidores e aumentar o preço do medicamento ao extremo. (E por mais incrível que pareça, essa estratégia não teve nada a ver com os crimes pelos quais ele estava sendo julgado.)

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Shkreli se tornou ainda menos gostável ao comprar a única cópia existente de Once Upon a Time in Shaolin, um álbum do lendário grupo de rap Wu Tang Clan vendido num leilão, e não lançá-lo. Ele também tirou um tempo para ser escroto no Twitter, e conseguiu se envolver com a periferia da direita alternativa. A percepção do público obviamente afetou o grupo de jurados em potencial, com uma mulher dispensada por dizer que ele parecia com uma "cobra" e outro homem dispensado por afirmar que Shkreli tinha "desrespeitado o Wu Tang Clan".

A audiência de sentença ainda não foi marcada.

"Essas prisões, aliás, são como dormitórios", Shkreli me disse numa entrevista ano passado. Parece que agora ele vai descobrir se isso é verdade mesmo.

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