Falei com meu ex-namorado sobre nosso relacionamento
Em 2010 (ou 2011) quando a gente ainda namorava (esq). E em 2018, adultos e ainda amigos. Foto: Larissa Zaidan/VICE

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Falei com meu ex-namorado sobre nosso relacionamento

Por que nossos quase quatro anos juntos não deram certo?

Tive meu primeiro namorado aos 17 anos, quando estava quase me formando no ensino médio. Um amigo meu de internet veio me falar no MSN que gostaria de me apresentar um amigo dele que supostamente gostava das mesmas coisas que eu. Assim, fui apresentada ao Daniel W., na época um jovem universitário, frontman de uma banda de hardcore e dono de uma labradora preta muito linda e rabugenta chamada Morena.

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Nós namoramos por três anos e meio. Ele acompanhou todo o meu processo de vestibular, alguns anos da minha faculdade e até meu primeiro estágio – que não tinha nada a ver comigo. Um dos nossos maiores passatempos era alugar filmes de terror de baixo orçamento e rir até o sol raiar. Às vezes queria mandar ele se foder porque ele quase nunca tinha os fins de semana livres por causa da banda dele, mas nós sempre fomos muito parceiros. Nas melhores e piores horas.

Meu ex, Daniel, e eu em 2018. Foto: Larissa Zaidan/VICE

Como tudo nessa vida, acabou. Ficamos cada vez mais amigos e os rumos da vida foram tomando direções diferentes. Só que nunca conseguimos nos odiar ou ficar muito longe um do outro. Conheci as namoradas que vieram depois de mim e ele me ouviu desabafando algumas vezes de alguns boy-lixo e depois conheceu meu namorado atual.

O Daniel é pai de um lindo bebê hoje e a mulher dele, a Mariana, é a mulher mais gente fina e boa de coração que já conheci. Nós não nos falamos com a mesma frequência de antes, mas pensando no Dia dos Namorados e em como muita gente acha estranho falar com ex ou pensa que é algo impossível, resolvi desafiar a timidez dele e dar um papo sobre nosso relacionamento.

Hoje ele é pai de um menininho lindo, o Oliver, junto com a Mariana, uma mulher maravilhosa. Foto: Larissa Zaidan/VICE

Marie: Tua ex te chama!
Daniel: (risos prolongados)

Eu sei que você não é muito fã de falar sobre essas coisas em público (acho que nem eu), mas você lembra quanto tempo a gente namorou?
Acho que foi uns três anos, não foi? Quase quatro anos, se pá.

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É, eu acho que foi uns três anos e meio. Você tem alguma lembrança que pula da sua mente quando lembra do nosso namoro?
Cara, eu lembro que a gente fumava muito e assistia muita luta livre. Daí por algum motivo eu lembro de uma vez que a gente tava sem ganja e a gente comprou breja, e quando a gente saiu do carro a breja caiu no chão e a gente ficou super decepcionado. Eu lembro de te zoar uma vez porque você ouvia Cult of Luna. Acho que era isso.

(Risos) Eu lembro muito disso da luta livre e das cervejas espatifadas na garagem do seu prédio, mas não do Cult of Luna.
Essa da breja me deixa triste até hoje.

Na verdade, nem lembro direito se eu gostava de Cult of Luna.
É então, eu não lembro se era Cult of Luna, mas era alguma banda de metal dessas e eu te zoava porque eu tava na fase de escutar Neurosis.

Faz todo sentido, depois você passou a ouvir rap da costa oeste dos anos 90 e nunca mais parou. Você acha que eu mudei muito comparando com a época que a gente namorou?
Ah, péra! Lembrei de outro factoide engraçado!

Qual?
De uma vez que eu tinha ido tocar, daí eu voltei e você não tava em casa e descobri que você tava no apartamento dos vizinhos porque apareceu uma barata em casa.

Verdade! Eu quase morri nesse dia! Eu lembro uma vez de você acordando assustado e a primeira coisa que você fez foi pegar suas calças.
(risos) Mano, eu faço isso até hoje.

E outra vez que você voltou de turnê e sua calça tava tão nojenta que quase andava sozinha.
Sim, eu tenho uma lembrança clara de você passando a unha na minha calça e deixando um rastro.

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Você acha que eu mudei muito em comparação com a época que a gente namorava?
Sim! Tipo, de jeitão você continua a mesma. Mas mudou bastante em vários aspectos. Embora ainda rabugenta, eu te vejo mais madura, e bem mais feliz com quem você é e com o que você faz hoje em dia. Porque na época que a gente namorava você trampava naquele banco bosta e eu lembro como aquilo te matava por dentro. Sei lá, parece que você se encontrou, manja? Provavelmente porque hoje em dia você consegue escrever bem mais do que escrevia na época, e isso te faz um bem da porra.

Você acha que a gente se divertiu bastante durante esses três anos e meio?
Sim, pra caralho. Mesmo porque eu acho que isso foi um dos principais motivos pelo qual a gente continua amigo até hoje. Quando a gente terminou, a gente não terminou tretado e nem se odiando. A gente só tomou rumos diferentes.

Tinha alguma coisa que eu fazia ou fiz que te irritava pra caralho?
Honestamente eu não lembro agora. Pode soar piegas, mas eu sempre acabo só lembrando das coisas engraçadas.

Você é muito bom de coração! Acho que era (e é ainda) uma das coisas que mais admirei em você, sabe? Você é um cara muito íntegro.
Valeu. O resto do corpo já tá meio podre, alguma coisa tinha que estar funcionando de boa.

Lembrei de outra parada engraçada!

O quê?
Lembro de ir dar carona pro Barros [amigo dele que tocava na mesma banda] ou algo assim e você tava em casa tomando banho. Daí eu acho que tinha esquecido alguma coisa em casa e quando voltei eu digitei no Google "Oi, eu sou o seu computador" ou algo assim. Daí deu uns 30 minutos e você me ligou em pânico. (risos)

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Caralho, sim.
Eu te dei muito susto ao longo do nosso namoro.

Até hoje eu levo susto. Um dia eu vou ter um AVC por causa disso. Você acha que aprendeu alguma coisa com o nosso relacionamento?
Sim, bastante. Você foi a primeira pessoa com quem me relacionei que tinha gostos e jeitos parecidos aos meus. Então aprendi a respeitar melhor quem eu era e a curtir todas as estranhezas da minha personalidade porque eram essas estranhezas que faziam (e fazem) você ser uma pessoa foda, e você gostava de mim justamente por causa das minhas bizarrices. Então aprendi a ligar o foda-se e não esconder isso e inclusive abraçar isso. Então, de um certo modo, me ajudou muito a descobrir e a curtir quem eu era de fato em vez de de esconder isso.

Tô meio chorando aqui. Por que você acha que a gente não deu certo?
(risos) Você sempre só teve cara de rabugenta. Eu não sei se "não deu certo" é a frase correta, porque teoricamente deu certo, né? Tipo, não rolou como casal, mas como amigos tá dando certo até hoje. Mas honestamente, eu não sei, acho que foi mais uma questão de momentos e prioridades divergentes na vida dos dois que acabou fazendo com que a gente seguisse outros rumos. Óbvio que não foi fácil, mas não foi aquela parada tóxica que você vê em histórias de término por aí.

Verdade, tanto é que lembro da gente terminando e chorando juntos. E depois avisei todos os meus peguetes mais sérios e namorados que eu seria sempre sua amiga e problema deles se não gostassem disso.
Sim! Foi super triste, mas não foi aquela fita turbulenta e bad trip. Eu também avisei as minhas! (risos)

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Você lembra do nosso primeiro beijo?
Lembro. Bêbados de uísque naquela sua festa estranha de formatura.

Não foi esse! Foi na sua casa depois de eu ter falado que "Sua TV é grande"!
Claro que foi! Esse veio depois. A gente se beijou bebaços, daí a gente ficou uma cota meio "Caralho, será que isso rolou mesmo?".

Nossa, é mesmo. Caralho.
Daí saímos só os dois, e voltamos pra casa pra assistir Control. Só que obviamente a gente não assistiu Control.

Agora sim posso dizer que sua memória é melhor do que a minha.
E você lançou o comentário do "sua TV é grande", o mais engraçado é que a gente passou o nosso namoro inteiro sem assistir Control.

Pior, nunca assisti Control até hoje.
Eu assisti em algum momento da minha vida, nem lembro quando.

Eu sei que você tá sem jeito de fazer perguntas, mas gostaria de te dizer que eu acho que você continua sendo um cara fantástico, tá fazendo coisas legais profissionalmente e tem uma família maravilhosa com a Mari. Fico feliz da gente manter contato.
Também queria dizer que você continua sendo incrível e cada vez tenho mais orgulho de tudo que você tá conquistando na sua vida. Eu acho que eu deveria dizer isso mais, na real.

Lembramos de alguns momentos do nosso antigo relacionamento na casa dele e da Mariana. Foto: Larissa Zaidan/VICE.

As pessoas estranham quando você fala que é amigo de praticamente todas as suas ex?
Sim, todo mundo acha super esquisito, mas na real é 50/50. Metade acha esquisito e a outra metade acha dahora.

Idem comigo, mas muita gente dá risada quando eu conto que já foi a Mari e a Ju [a Ju é uma ex dele também e eles continuam amigos] na minha casa e do meu namorado pra beber cerveja.
Sim, porque não é padrão que isso aconteça. O que é bizarro, porque deveria ser. Minha lógica depois que a gente terminou foi tipo "Tá, ela foi indescritivelmente importante pra mim por três anos, quase quatro. Por que raios vou simplesmente desencanar e deixar de vê-la se não teve problema nenhum entre a gente?". Tem muita gente que passa a odiar ex só pelo fato da pessoa ter ganho o título de ex.

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É verdade, mas acho que as pessoas não costumam falar muito dos próprios sentimentos. Não que a gente tenha feito isso, mas achava nossa relação bem honesta. A gente fazia umas cagadas, mas lembro mais da gente se divertindo do que brigando.
Tanto que tipo, volta para aquilo que você tinha perguntado sobre se tinha algo que irritava. Deve ter, mas por não lembrar é provável que só fosse coisa do momento, manja? Tanto que nem você disse, eu só consigo lembrar da gente se divertindo. As tretas e etc acabam ficando muito menores perto das coisas legais.

E por que seus amigos me odiavam tanto?
(risos) Então! Eu juro que também não faço a menor ideia. Eu ficava putasso com isso também, mas nunca fazia sentido. Mesmo porque, das namoradas, você era a mais sussa.

Acho que eles ficavam bravos que eu achava uó o lance do clube do bolinha. Eu devo ter sido pentelha também.
Ah, meu, pior que não, cara. Você colava no dia seguinte com cookies. Não tem nada de mala nisso.

Mas tudo bem! Eu não tenho nada contra eles hoje, só na época que achava meio deselegante.
Deselegante era eu fedendo a pizza de mussarela quando você vinha me acordar depois do rolê de sexta.

Como que tá sua vida agora sendo um pai de família e tendo uma famíla com uma mulher tão legal que nem a Mari?
Uma brisa maluca. Ainda mais que é uma coisa que eu nunca pensei que fosse acontecer. Sei lá, tem gente que meio que se prepara a vida inteira pra isso, mas eu tô achando interessante a mudança que isso teve na minha cabeça. Ainda mais considerando que eu nunca tive essa pira e, do nada, tô descobrindo que é um bagulho incrível. Sei lá, é bem psicodélico.

Bom, obrigada por ter vencido sua timidez e falado sobre isso em público.

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