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A Nova Megaigreja de Nova York É Mais Popular do que Jesus

Acompanhamos um culto da Hillsong, que é praticamente o Buzzfeed das igrejas.

(Todas as fotos cortesia de Hillsong NYC.)

É uma tarde típica de domingo na Hillsong NYC, e a multidão reunida dentro do Irving Plaza está pronta para ouvir a Palavra. O salão está lotado, assim como na maioria dos cultos de domingo da Hillsong, com pessoas enchendo as sacadas e espremidas perto do palco. Mas a Hillsong e sua congregação não se encaixam nos estereótipos das megaigrejas evangélicas. As pessoas aqui hoje são jovens, bonitas e tatuadas – uma parcela multiétnica da parte cool do centro da cidade.

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Caras barbados de vinte e poucos anos dançam nos corredores. Uma banda de 11 membros aquece a congregação com um hino sobre nascer de novo, com toques de hip hop e batidas de dance. Garotas de cabelo comprido e jeans rasgados cantam junto, fechando os olhos e erguendo as mãos para receber o Espírito Santo e saudar Jesus. Uma delas parece ter mais de 35 anos.

“O que precisamos entender hoje é que Deus nos deu muito nesta cidade – você tem mais do pensa aqui”, diz Carl Lentz, o pastor celebridade e tatuado da Hillsong, entrando no facho de luz azul de um globo de espelhos enorme. O sermão de hoje é sobre a parábola do servo fiel, do Evangelho de Lucas, na qual Jesus diz para os discípulos: “A quem muito é dado, muito será exigido”.

Andando incansavelmente pelo palco em sua melhor roupa de domingo – regata Kevin Durant, jeans skinny preto e botas YSL – Lentz transita livremente de problemas da Bíblia para anedotas pessoais autodepreciativas, combinando o populismo febril evangélico com gírias de rua. Sua mensagem é simpática e otimista, salpicada com frases tuitáveis como “Não é sobre o que você faz – mas sobre o que ELE fez”, “O desânimo vai arrastar você para longe do seu destino” e sua hastag pessoal “Church in the Wild”.

“E se sua hora fosse agora?”, vai encerrando Lentz, berrando num crescendo final enquanto a música aumenta. “E se sua temporada dos sonhos fosse agora? Porque a exigência de sua vida não é esperar para ter tudo pronto – é perceber que Jesus deixou tudo pronto hoje.”

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Apesar da estética nova-iorquina, a Hillsong NYC é, na verdade, uma extensão de uma megaigreja e conglomerado multimídia australianos de mesmo nome. Globalmente, a marca Hillsong é conhecida por suas congregações jovens, turnês que lotam estádios e músicas pops de adoração usadas por igrejas evangélicas contemporâneas no mundo todo. A igreja, que rendeu mais de $57 milhões em 2012, tem satélites em 11 países e planeja abrir outra filial em Los Angeles este ano.

Com seu carisma magnético e swag sobrenatural, Lentz é o rosto da implantação da primeira Hillsong nos Estados Unidos, e a força motora por trás do crescimento explosivo da igreja. Apenas três anos após a inauguração, a Hillsong NYC é a megaigreja que mais cresce na cidade, uma potência pentecostal que arrasta seis mil participantes para seus seis cultos nos domingos e que recentemente acrescentou um culto adicional em Montclair, Nova Jersey.

A Hillsong ficou grande demais para o Irving Plaza ano passado e agora realiza cultos maiores no Manhattan Centre em Midtown. Domingo passado, uma visita do pastor sênior global da Hillsong, Brian Houston, atraiu uma multidão tão grande que o culto foi transferido temporariamente para o Best Buy Theatre na Times Square para poder acomodar o rebanho. “Acho que estamos aqui para ficar”, me disse Lentz. “Quando as pessoas veem o que está acontecendo aqui, elas simplesmente balançam a cabeça e dizem 'Isso é loucura'.”

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Lentz; 35 anos, nativo de Virginia Beach; vem cultivando uma marca pouco ortodoxa de cristianismo descolado, que ele compartilha tanto no palco como nas redes sociais. Ele tem 98 mil seguidores no Instagram e perto disso no Twitter. Esses números impressionantes com certeza foram impulsionados por um grupo crescente de fãs celebridades, que incluem a estrela de Spring Breakers Vanessa Hudgens e Ja Rule. Justin Bieber, que tuitou no outono passado ter sido “derrubado” por um dos sermões de Lentz na Hillsong, supostamente passou o sábado anterior ao Super Bowl procurando por uma piscina onde pudesse ser batizado por Lentz (o que acabou não acontecendo, segundo o New York Post). No dia em que o entrevistei, Lentz tinha acabado de se encontrar com Hugh Jackman e estava se preparando para ir a Oklahoma City visitar o astro da NBA Kevin Durant, um grande amigo que Lentz batizou numa piscina no Hotel Gansevoort ano passado.

“Muita gente famosa está em Nova York”, disse Lentz, desconsiderando a proximidade com as estrelas. “Sabíamos no que estávamos nos metendo. Apenas acreditamos que nossa igreja seria um lar para todos. Anônimos e famosos.”

Ainda assim, o conhecimento de Lentz em marketing – e o endosso de celebridades – ajuda a explicar por que a Hillsong continua a atrair um número cada vez maior de jovens nova-iorquinos, mesmo com estudos nacionais sugerindo que a juventude está deixando a igreja num grande êxodo. De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Forum em 2012, um terço dos americanos abaixo de 30 anos não se identifica com nenhuma religião. Entre os cristãos, os números são ainda mais severos; um relatório do Barna Group, uma empresa evangélica de pesquisa, divulgado ano passado mostrou que 43% dos cristãos, antes ativos, da Geração Y pararam de frequentar a igreja, e 50% dizem ter se frustrado com a fé.

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Enquanto outros líderes evangélicos lamentam a “geração sem igreja” e tentam atrair os jovens de 20 e poucos anos com truques multimídia e cafés, a Hillsong parece ter achado a receita. Apesar de a igreja não manter estatísticas demográficas dos membros, Lentz estima que a maioria de sua congregação está entre os 20 e 40 anos. “Não viemos aqui para tentar ser uma igreja de Nova York ou para sermos legais", me disse Lentz. “Estamos apenas sendo quem somos, continuando em nosso caminho. A autenticidade está tão em falta em Nova York, que você pode ser você mesmo e as pessoas vão se identificar com isso. Sempre que uma igreja tenta ser alguma coisa, acho que ela perde a batalha antes de começar.”

A Hillsong NYC não é a primeira igreja de Nova York a tentar alcançar um público mais jovem e descolado. Antes considerada o túmulo das igrejas, a cidade recentemente se tornou um centro de igrejas startups que visam quebrar os modelos religiosos tradicionais. “Temos visto várias congregações diferentes florescendo pela cidade em torno da ideia de fazer uma igreja diferente”, disse Melissa Kimiadi, vice-diretora do projeto de pesquisa Journey Through NYC Religions. “As novas gerações de Nova York não são tão próximas da religião como seus pais, então, elas são mais abertas a diferentes tipos de crenças e cultos.”

Considerando a cidade o campo de sua missão pessoal, a Trinity Grace Church abriu cinco filiais aqui desde 2006. A Q Ideas, uma conferência estilo TED para líderes evangélicos pós-modernos, recentemente se mudou de Atlanta para o Upper East Side. No Brooklyn, a St Lydia's Dinner Church realiza seus cultos juntamente com refeições preparadas de forma comunitária e a North Brooklyn Vineyard Church se reúne num lugar chamado Trash Bar em Williamsburg. Bushwick Abbey, a nova oferta espiritual do bairro, realizou recentemente um culto no Radio, um novo bar na Jefferson Avenue, conduzido pela Reverenda Kerlin Richter, uma pastora episcopal de moicano azul que se descreve como uma “mama feminista loucamente apaixonada por Jesus”.

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“Por mais que eu adorasse a igreja, nunca houve uma onde eu pudesse levar meus amigos”, disse Richter. “Tivemos momentos difíceis para alcançar as pessoas em seus cotidianos ocupados. Nossa igreja não é muito diferente em termos de liturgia e de onde os cultos acontecem, mas ela é feita por e para pessoas que nunca tiveram acesso a igrejas antes.”

E mesmo entre essa safra recente de igrejas nova-iorquinas, a Hillsong NYC se destaca, tanto por sua congregação jovem quanto por sua adoração estilo show de rock. “A Hillsong é a Hillsong – eles estão fazendo algo próprio deles”, disse Kerick Thomas, pastor na Journey, uma igreja evangélica contemporânea que se reúne no Hotel Pennsylvania em Manhattan. “Eles são uma coisa completamente diferente de praticamente todas as outras igrejas do mundo.”

Teologicamente, a Hillsong é um movimento evangélico pentecostal quase clássico, o que significa que eles acreditam em batismo por imersão e dons do Espírito Santo, incluindo falar em línguas. Na Austrália, os líderes da igreja vêm enfrentando muitas críticas por sua visão de mundo conservadora, incluindo sua posição sobre aborto e homossexualidade. Em nossa entrevista, Lentz me disse que os gays são bem-vindos na Hillsong NYC, mas se recusou a discutir o casamento gay. “Não falo sobre isso no púlpito, não quero acrescentar nada à polarização”, ele diz. “Somos adeptos de uma política de amor, mas também não negamos a verdade.”

Em seus sermões, Lentz evita a moral prepotente e os pontos de discussão desconcertantes do cristianismo que afastaram as pessoas de 20 e 30 anos da fé moderna. Em vez de discutir partes da Bíblia que ofendem as pessoas racionais, ele apresenta uma mensagem evangélica mais otimista, aparentemente desenvolvida para ser o menos ofensiva possível. Mas nos bastidores, as visões pessoais de Lentz ainda são um mistério. “Se alguém chegar e dizer: 'Carl, o que você pensa de casamento gay ou homossexualidade?', a primeira coisa que vou dizer é 'Você é membro da nossa igreja?'. E se a pessoa for, eu digo: 'Antes de dizer o que penso, o que você pensa?' Qual é a história dessa pessoa, como é a vida dela? E depois podemos ter uma conversa em particular.”

“Nossa geração fugiu da igreja porque ela só falava sobre o que você não pode fazer”, ele disse. “Se você vai para a igreja e tudo que eles falam lá é sobre pecado, eles não estão falando sobre o Evangelho todo. Jesus disse para darmos as Boas Novas, e é o que estamos fazendo.” Pensando assim, a Hillsong é parecida com o BuzzFeed do cristianismo.

Lentz vê sua igreja – e sua mentalidade “não pergunte, não responda” – como uma rebelião da religião dominante, uma que abraça, em vez de rejeitar, a vida secular. “O coração dessa mensagem é: seja lá como você vive, seja lá o que você faz para viver, isso é válido. Quem você é não é definido pelo que você faz. Isso é novo em Nova York, porque aqui nós adoramos rotular as pessoas.”