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Fascistas Poloneses Atacaram um Festival Familiar em Londres no Sábado

No fim do "Music Day", um grupo de skinheads invadiu o palco, atacou vários membros da multidão e da equipe do evento, e deixou um homem hospitalizado por ferimentos a faca.

Nacionalistas poloneses e participantes do Music Day se enfrentaram em Tottenham no sábado, 21 de junho.

No sábado, dia 21 de junho, um grupo de cerca de 20 nacionalistas de extrema-direita poloneses atacaram o público num evento familiar chamado Music Day, realizado no Parque Markfield, em Tottenham, zona norte de Londres. O festival foi anunciado como “um dia de celebração da música em conjunto com celebrações em todo o mundo”, e começou como um evento musical familiar e pacífico. Mas, perto do fim da festa, um grupo de skinheads invadiu o palco, atacou vários membros da multidão e da equipe do evento, e deixou um homem hospitalizado por ferimentos a faca. A multidão conseguiu fazer que os skinheads recuassem para um canto do parque até que quatro veículos da tropa de choque chegassem, dando um fim às brigas e prendendo várias pessoas por perturbação da paz.

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A filmagem acima mostra os participantes do festival e os fascistas atirando objetos uns nos outros, inclusive fogos de artifício. Outro vídeo mostra um homem usando uma camiseta com a frase “Wielka Polska”, “Grande Polônia”, sendo preso. Os agressores eram de um grupo de imigrantes poloneses de extrema-direita chamado Zjednoczeni Emigranci Londyn (Emigrantes Unidos de Londres). A polícia confirmou que um polonês de 22 anos foi acusado de agressão comum racialmente agravada, agressão comum religiosamente agravada e agressão comum, acrescentando que ele foi preso por agressão racialmente agravada depois de arrancar um quipá da cabeça de um homem.

Conversei com Rob, um dos organizadores do evento, sobre o que aconteceu.

VICE: Oi, Rob. Como as coisas acabaram desse jeito no sábado?
Rob: Você sabe, o evento foi claramente marcado como familiar, mas acabou se tornando o Armagedom. Realizamos esse evento há anos e nunca tivemos nenhum problema. O dia estava ensolarado e todo mundo estava se divertindo.

Você já tinha ouvido falar do grupo antes?
Bom, quando estávamos montando a estrutura do evento, duas pessoas do conselho local apareceram e nos alertaram que “o BNP” [o Partido Nacionalista Britânico, um grupo de extrema-direita] estaria realizando um comício [na área] hoje. Então, eles sabiam que havia uma possibilidade, mas não faço ideia de por que eles nos apresentaram como o “BNP”, quando esses caras eram claramente nacionalistas poloneses. O conselho nos disse que eles estavam cientes da situação e que haveria presença policial no parque o dia todo. Mandamos um texto alertando as pessoas, mas achamos que tudo ficaria bem. Só que – no momento em que os caras apareceram – não havia polícia por perto. Foi quando tudo começou.

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A polícia realizando algumas das prisões.

Vocês conheciam o Zjednoczeni Emigranci Londyn antes disso?
Sabíamos que eles frequentam o parque e estão na comunidade há algum tempo. Já vimos os adesivos e as pichações racistas deles por aí, e tivemos alguns impasses com eles, palavras trocadas aqui e ali, mas nada violento. Eles estendem suas bandeiras nacionalistas e já demonstraram um comportamento agressivo, mas nada assim. Esse foi o primeiro confronto físico; realizamos esse evento aqui no ano passado e nada assim aconteceu.

Como a briga começou?
Estávamos no set do último DJ quando o grupo apareceu. Eu diria que eram uns 50 deles, mas só uns 10 ou 20 estavam instigando confusão. Fui para lá com um amigo assim que eles apareceram, e nós entramos na frente deles. Antes de qualquer coisa, um cara roubou uma cerveja do nosso bar, abriu a garrafa e saiu andando. Tentamos impedi-lo, tiramos a cerveja da mão dele e dissemos que ele tinha que pagar. Aí outro cara subiu no palco. Ele estava obviamente embriagado. Nesse ponto, mais deles começaram a se juntar atrás do palco. Dissemos que eles tinham que ir embora, mas ninguém tocou neles. O cara no palco disse para sairmos da frente para que ele pudesse descer, e nós deixamos; ele passou andando pela gente pacificamente para voltar para sua turma.

O que aconteceu depois?
Houve um impasse quando eles avançaram em nossa direção, havia mais gente do nosso lado, estávamos frente a frente. Houve uma conversa entre os dois grupos em polonês – um dos nossos estava confrontando o grupo em polonês sobre por que eles estavam causando problema, depois pediu que eles fossem embora. O cara que roubou a cerveja começou a gritar em polonês: “Vocês vão fazer isso, caras?”.

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Imediatamente depois disso, o skinhead que estava discutindo com meu amigo em polonês deu um soco na cara dele. Ele caiu no chão e tentou se apoiar na roda de uma das vans. Quando isso aconteceu, eles avançaram contra nós. Um dos nossos levou uma facada e caiu no chão. Socos, garrafas e fogos começaram a ser jogados e os fascistas recuaram para o jardim de rosas.

Os nacionalistas presos sendo levados pela polícia.

Parece que foi horrível.
Havia bebês lá, sabe? Eles estavam jogando garrafas quebradas e havia crianças em carrinhos de bebê. Você consegue imaginar o que teria acontecido se um bebê fosse atingido por uma garrafa?

O cara que foi esfaqueado está bem?
A facada foi superficial e não atingiu o rim, ele vai ficar bem. Mas muitas outras pessoas ficaram feridas – dois dos nossos amigos foram atingidos na cabeça. Tivemos sorte de ter dois paramédicos entre o público.

Onde a polícia estava enquanto isso tudo acontecia?
A polícia nos deixou na mão. Eles sabiam [que os nacionalistas] podiam aparecer e, quando mais precisamos, eles não estavam lá. Não podia ter havido mais avisos, então ficamos desapontados quando vimos que a polícia não estava posicionada lá o dia inteiro. Nós os vimos no parque antes; me disseram que eles prenderam uma pessoa antes do ataque principal.

Adesivos de grupos de extrema-direita poloneses no Parque Markfield.

Num comunicado, os Antifascistas do Norte de Londres se referiram ao Zjednoczeni Emigranci como “um grupo mais hardcore relativamente pequeno”. Formado por imigrantes ultranacionalistas poloneses, eles têm cerca de 350 membros no Facebook. A página deles na rede social foi tirada do ar depois do incidente de sábado, mas antes estava cheia de iconografia ultranacionalista, racismo e links para vídeos e artigos sobre hooliganismo polonês.

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O grupo é conhecido pela comunidade local e, de acordo com vários moradores, tem sido uma presença constante no Parque Markfield. Um skatista local disse ter visto um encontro deles no parque três meses atrás, e que um grupo de “200 caras estavam balançando bandeiras nacionalistas, soltando fogos e falando em megafones”.

Um comerciante local e policial aposentado, que preferiu se manter anônimo, disse que seu negócio foi invadido três vezes pelo mesmo grupo nos últimos dois anos. “Isso tem acontecido há certo tempo, alguns anos já. Eles tinham quase 500 pessoas no parque ontem”, ele disse. “Eles vêm congregando aqui, construindo lentamente o grupo nos últimos três anos e meio. O grupo vem causando muitos problemas, bebendo, provocando estragos e roubando pessoas.

“Temos trabalhado com o conselho e as autoridades, mas isso só está piorando. Agora temos uma partido fascista polonês tentando controlar o país. Eles são jovens e cheios de energia, e isso é muito preocupante.

“Precisamos de ajuda e proteção das autoridades”, ele continuou. “Nossas crianças frequentam esse parque, e esses caras estão fora de controle. Já vi um deles ser preso umas seis vezes no parque, mas ele continua voltando e nada acontece.”

A Unite Against Fascism organizou uma manifestação em frente à Prefeitura de Tottenham na segunda-feira sob o slogan “Fora Nazistas de Haringey”. Enquanto isso, os North London Antifascists alertaram: “Não vamos parar até que toda pichação e adesivo do ZE seja removido ou coberto, e que seus eventos tenham tanta oposição dos antifascistas que eles tenham que desistir deles… se eles ousarem tentar intimidar as comunidade da zona norte de Londres de novo, vai haver oposição e vamos impedi-los”.

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Tradução: Marina Schnoor