FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

O que É Al-Qaeda?

A Al-Qaeda (árabe para “A Base”) tem suas raízes na guerrilha afegã que lutava contra a ocupação soviética nos anos 80. Junto com outras facções fundamentalistas islâmicas, a Al-Qaeda lutou para expulsar os Vladimiris das terras dos pashtuns.

Ilustrações por Johnny Ryan

Lembra daquele caminhão-bomba que foi detonado no estacionamento subterrâneo do World Trade Center no ano passado? Ele abriu uma cratera de 30 metros de profundidade, o equivalente a quatro andares de um prédio. Alguns especialistas dizem que se tivesse explodido poucos metros mais perto de uma coluna de sustentação, poderia ter derrubado as duas torres.  Já pensou que carnificina? Dá pra sequer tentar imaginar o que aconteceria se as duas torres tivessem desmoronado? Seis civis foram mortos no ataque, e isso já foi uma tragédia. Se as torres tivessem caído mesmo, provavelmente os EUA entrariam em guerra.  “Então”, você deve estar se perguntando, “Quem foram os porra-loucas que fizeram isso? A vontade que dá é de quebrar os seus pescoços terroristas igual o Van Damme no filme Timecop—O Guardião do Tempo que, aliás, é um dos melhores filmes do ano!”. Ramzi Yousef, o homem que acendeu as dinamites no caminhão-bomba, é um kuwaitiano que é membro de uma organização terrorista nova, que você nunca ouviu falar, até agora. O nome dela é Al-Qaeda. Parece que esses terroristas vivem nas montanhas do Afeganistão, e não vão sair de lá tão cedo. A Al-Qaeda (árabe para “A Base”) tem suas raízes na guerrilha afegã que lutava contra a ocupação soviética nos anos 80. Junto com outras facções fundamentalistas islâmicas, a Al-Qaeda lutou—muitas vezes com a ajuda de armas fornecidas pela CIA—para expulsar os Vladimiris das terras dos pashtuns. Mas o líder da Al-Qaeda tem uma linhagem um pouco diferente dos déspotas muçulmanos habituais. Osama bin Laden é um bacana descendente de uma das famílias mais poderosas da Arábia Saudita. Na verdade, alguns membros da sua ilustre família são chapas de uns figuras católicos importantes que governavam os EUA. Sorte a nossa que não são amigos do Bill Clinton. Quando os soviéticos deixaram o Afeganistão, completamente derrotados, as facções fundamentalistas que tinham se unido para lutar contra eles, em vez de gritarem, “Vencemos!” e saírem pra tomar um chá e relaxar um pouco, começaram a lutar entre si para ver quem ia controlar o país. Enquanto isso, o Osama e a sua turma ampliaram sua guerra santa para incluir batalhas contra qualquer ato do Ocidente que pudesse influenciar os povos islâmicos. E é aqui que nos encontramos agora—encarando um ninho de abelhas com um zangão gigante do lado de fora (o Osama é realmente bem alto) dizendo: “Não perturbe”. Então, levando em consideração essa mania que os EUA têm de meter o nariz onde não é chamado, e isso inclui o Oriente Médio, ações mais violentas da Al-Qaeda são só uma questão de “quando”, “onde” e “como”. Bombas no metrô? Ataques químicos? Envenenamento de água potável? Tudo é possível. A única coisa improvável é que eles consigam atacar o WTC outra vez, que, nesse momento, deve ser o lugar mais seguro de Nova York. A Al-Qaeda se tornou muito mais assustadora do que o IRA, o Hezbollah ou o RAF. 1994 pode ser um ano decisivo para essa nova célula terrorista. Aqui vai uma espécie de guia prático sobre essa organização, onde você faz as perguntas e nós tiramos as suas dúvidas.  Você: Então, me explica melhor, quem são esses caras?
Vice: Você pode chamá-los de Al-Qa’ida, El-Qaida, Al-Qaeda ou Al Qaida. No árabe falado, tem quatro sílabas. Seria mais ou menos “Au-Ca-E-Da”. Mas tanto faz, porque na verdade não dá para colocar palavras árabes no alfabeto ocidental. O Bin Laden diz que é como costumavam chamar o acampamento. Assim como eles, o nome cresceu e se tornou um, digamos, estado de espírito. A OTAN e as Nações Unidas os consideram um grupo terrorista. Bin Laden, antigo membro do Maktab al-Khidamat Mujahidin, desenvolveu seus talentos terroristas contra os russos no Afeganistão. Agora ele e seu bando de lacaios estão numa missão de recrutamento e treinamento que tem como objetivo massacrar o Ocidente e suas imoralidades. Você: Espera aí, o Islã não prega a fé em Alá e o amor ao próximo?
Vice: A Al-Qaeda justifica tudo através do Corão e cita precedentes históricos como desculpa para explodir tudo. Seu co-fundador, Mamdouh Mahmud Salim, aponta para os ensinamentos de Ibn Taymiyyah, um intelectual do século XIII, para justificar a Jihad que sua organização trava com o Ocidente. Taymiyyah afirmou que os assassinatos dos mongóis que invadiram suas terras foram justificados, pois a invasão colocava em perigo o estado muçulmano. Salim simplesmente trocou as palavras “mongóis” por “imperialistas infiéis do Ocidente” e voilá: a justificativa para a Jihad. Ele também disse que tudo bem matar qualquer um que ajude, hospede ou tolere infiéis. E se algum muçulmano inocente morrer enquanto o Grande Satã é combatido, também não tem problema, porque o Paraíso espera por ele.  É isso que distingue a Al-Qaeda dos outros grupos radicais islâmicos, que focam em teorias religiosas mais abstratas. A Al-Qaeda, desde o início, teme que o Ocidente tome as terras muçulmanas.

Você: Eles quase parecem legais, tipo o Che Guevara. O que eles estão fazendo agora?
Vice: Que nada. O Che era um puta de um idiota. Mas essa é uma história para outro dia. O que é importante você saber é que a Al-Qaeda, assim como largar a escola, não é legal. Uma hora dessas eles devem estar no Sudão, coordenando novos atos terroristas com a Jihad Islâmica Egípcia. Pra você ter uma idéia, o Bin Laden ofereceu, para a sua Arábia Saudita natal, ajuda na luta contra o Iraque durante a Guerra do Golfo, mas o Rei Fahd recusou e preferiu a ajuda dos EUA, que enviou alguns milhares de soldados americanos para lá. Isso deixou o Osama muito puto, e ele saiu esbravejando o quanto a política internacional saudita era uma merda. Isso acabou atingindo sua família super-rica e poderosa, que imediatamente o renegou e cortou sua mesada—que, no fim do ano, totalizava $7 milhões. Você: Pô, esse Osama deve ser um baita de um cuzão.
Vice: E é mesmo. A única coisa boa disso tudo é que, como ele está escondido no meio do nada, ele nunca vai processar a gente por calúnia ou danos morais, então vou aproveitar pra dizer, “Osama bin Laden chupa o pau do próprio pai enquanto a sua mãe come a bunda dele com um consolo enorme e mil virgens mijam na sua cabeça lá do céu e depois cospem na cara da filha dele, que é uma vagabunda”. Que tal poder falar tudo isso sem ser processado?  Você: Tá bom. Mas o que a Al-Qaeda fez até agora?
Vice: Acho que alguém não leu a abertura da matéria. Em 1993 ele explodiu um caminhão-bomba que matou seis pessoas inocentes e destruiu o estacionamento subterrâneo do World Trade Center. Antes desse ataque, a Al-Qaeda bombardeou alguns hotéis em Aden, no Iêmen, onde eles acharam que tinham soldados americanos hospedados. Eles escolheram o hotel errado e mais duas pessoas foram mortas.  Em comparação com grupos mais comprometidos, como o IRA, que fechou o aeroporto de Heathrow, em Londres, em março com ataques de morteiro, às vezes parece que esses caras não estão levando a guerra santa deles a sério.  Você: Qual o jeito preferido da Al-Qaeda de matar pessoas?
Vice: Bombas, claro! Bombas em carros, na maioria das vezes, mas existem rumores de que eles também estão interessados em aviação. Mas vai saber, eles têm mais segredos do que uma freira lésbica. Mas o fato é que até hoje a Al-Qaeda tem usado explosivos como forma de aterrorizar seus opressores. Eles também não têm medo de morrer, o que os torna um pesadelo. Enquanto nós ocidentais gastamos uma fortuna em veículos blindados para proteger nossos soldados e cidadãos, os recrutas da Al-Qaeda são destemidos, eles respondem a um chamado de força maior, e não hesitariam em usar uma granada em volta do pescoço se achassem necessário. Você: E essa história de o Tio Sam ter treinado e bancado esses caras?
Vice: Bom, é verdade. A safra atual da Al-Qaeda aprendeu muito com a CIA, que desembolsou uma grana preta para ajudar as forças mujahidin no Afeganistão nos anos 80 em um programa conhecido como Operação Ciclone. Essa operação ajudou os mujahidin com dinheiro, armas e treinamento para que mantivessem a guerra fria bem fria mesmo. Tudo isso foi feito na surdina, o dinheiro e as armas entravam pelo Paquistão, que parece que treinou 100 mil árabes mujahidin na arte da rebelião. Alguns deles faziam parte da tropa do proeminente líder da resistência afegã, Gulbuddin Hekmatyar, que é um dos camaradas de matança de Osama bin Laden. Você: Então a CIA basicamente está co-lhendo o que plantou?
Vice: Basicamente. Em 1987, a CIA, e conseqüentemente os contribuintes americanos, estava gastando 630 milhões de dólares por ano financiando as operações dos mujahidin no Afeganistão, assim como fornecendo máquinas mortíferas úteis, como os mísseis Stinger e os caças F-16, para o Paquistão. A Ciclone foi uma das operações mais caras (e que ficou mais tempo sob sigilo) da história da CIA.  Você: Vamos supor que eu seja retardado e queira me juntar a Al-Qaeda. Qual a probabilidade de eu conseguir fazer isso?
Vice: Simplesmente se vestir como um hi-ppie fedido incendiário e fazer uma peregrinação para o Oriente Médio não vai adiantar. Eles estão atrás dos fanáticos de verdade. Então é melhor você rever todos os seus conceitos retóricos antitudo antes de qualquer coisa.  Mas se você mora em Nova York, é mais provável que consiga se tornar um membro da organização, pois a Al-Qaeda tem um gostinho especial pela Big Apple e tem usado Nova York como uma base de recrutamento de operacionais desde 1986, quando Bin Laden utilizava o Centro de Refugiados de Kifah e a Mesquita Al-Farooq no Brooklyn para seduzir jovens muçulmanos para a Jihad. Comece a freqüentar esses lugares e aja como se odiasse os EUA e talvez você consiga alguma coisa. Mas é melhor você tomar cuidado, pois tudo indica que em breve a Al-Qaeda, com sua visibilidade crescente, vai entrar para o topo da lista negra do governo dos EUA.