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Jussania e Julia: Então… Diânica, porque vem de Diana, a deusa dos bosques, a deusa primeira. Como eu citei antes, para reverenciar mais o sagrado feminino. Existem tradições diânicas que não aceitam homens, inclusive os rituais nos quais é necessária a presença de um sacerdote – não existem. Mas, por exemplo, na nossa tradição, reconhecemos que o sagrado feminino também existe no homem. Então temos sacerdotisas e sacerdotes. Mas isso vai muito de tradição para tradição. Temos tradições feministas que não aceitam presença de homens e são bem mais radicais. Quanto à homossexualidade, para nós tanto importa. O que importa é a energia da mulher e o que ela é, independente da orientação sexual de cada mulher.
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Pois é. Essa é uma pergunta muito polêmica. Nós já paramos para pensar a respeito, porque, apesar de o sagrado feminino existir, porque todo ser humano é dual – tem as duas energias –, nós decidimos que esse círculo de mulheres trabalharia apenas com mulheres geneticamente nascidas. Por quê? Por conta de todo o histórico do patriarcado que dilacerou, praticamente sucumbiu a energia e o poder do feminino; no fim das contas, a mulher, especificamente, é a mais ferida. Seria muito importante ter um trabalho voltado para homens e transexuais, e torcemos para que esse tipo de trabalho cresça. Porque você consegue trabalhar magicamente as particularidades de cada um. Como seria trabalhar com as cicatrizes de um transexual? Não são menos importantes do que as que discutimos hoje, mas entende que são outras feridas? Isso no caso do transexual que passou a ser mulher, [pois] a mulher que passou a ser homem é geneticamente nascida fêmea. É uma questão energética também: a mulher tem uma energia diferente da masculina. Nosso foco é na energia feminina.Quanto à religião neopagão Wicca, vocês já sofreram tipos de preconceito por não serem cristãs?
Jussania: Fui batizada na igreja católica, mas, quando me declarei e assumi que era pagã, mesmo no seio familiar, houve preconceito – não de forma agressiva, mas houve. Virei chacota, piada, aquela que não vai fazer parte do amigo secreto do Natal. O sistema é muito forte, mas, por exemplo, no meu trabalho eu tive alguns comportamentos velados quanto a isso. Mas também tem muito a ver com o lugar que você ocupa no âmbito do trabalho. Eu tive a sorte de ter uma chefia que, apesar de ser católica fervorosa, respeitava a minha opção. Mas ela chegou a me dar terços para usar, e eu, certa do caminho que sigo, respeitosamente neguei.
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Sobre a questão ética, já li a respeito de manipulações. Sempre aconselhamos a procurar grupos sérios da prática mágica. E estar aberto para as possibilidades é importante, para não adentrar um ritual em que a insegurança seja uma constante antes mesmo de conhecer a prática.
Na nossa tradição, esse tema não está encerrado – e falamos enquanto sacerdotisas, e não como representantes da tradição. O que existe são interpretações com base em concepções que permeiam um pouco o campo religioso, daí toda a polêmica. Se formos considerar simplesmente o aspecto biológico, o feto é um ser humano? A alma é um conceito religioso. Biologicamente, o feto só passa a ser um ser humano a partir do primeiro choro (primeira respiração). Analisando friamente a situação, o que penso a respeito é: mulheres que foram estupradas e são obrigadas a carregar o fruto daquela violência têm o direito, sim, de escolha. Por que não teria? A questão social e política é de que a mulher tem pleno domínio sobre o seu corpo, logo, ela decide. O que acontece de monte são abortos clandestinos sem nenhuma assepsia, [o] que leva a mãe a óbito. Ou seja: o problema não é a prática; é, sim, a legalização. Não importa que a mulher morra? O que importa é a cria do macho? Na maioria das interpretações, o filho é visto assim.
Existem vários movimentos que tocam fundo nesse processo de ter outros olhos quanto à menstruação e, mais especialmente, ao resgate do poder do ventre. Afinal, o sangue expelido não é sujo. A mulher precisa conhecer o seu corpo, resgatar o sagrado feminino sem banalizações - de forma séria. Nós passamos por essa realização, estudamos as questões envolvidas e trabalhamos com isso. É a libertação da mulher; se ela acreditar, ela realiza esse rito mensalmente e perceberá por si só a importância desse contato direto com seu sangue e o caminho do autoconhecimento.