Noite Passada Assistimos Antifas Gregos Tretando com a Polícia

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Noite Passada Assistimos Antifas Gregos Tretando com a Polícia

Mais de 5 mil pessoas protestaram contra o assassinato de Pavlos Fyssas — um ativista antifascista e rapper de 34 anos conhecido como Killah P.

Na noite de ontem (18/09), mais de cinco mil pessoas tomaram as ruas de Keratsini, um bairro do proletariado no oeste de Atenas. A multidão protestava contra o primeiro homicídio político na Grécia desde o começo dos anos 90: o assassinato de Pavlos Fyssas — um ativista antifascista e rapper de 34 anos conhecido como Killah P — que foi esfaqueado na noite de terça-feira por George Roupakias, um membro de 45 anos da Aurora Dourada.

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De acordo com a polícia e novas informações divulgadas pela mídia, um grupo de 20 capangas de extrema-direita, vestindo camisetas da Aurora Dourada e calças militares, emboscaram Fyssas e seis amigos quando eles saíam de um café local, onde assistiram um jogo entre Olympiakos FC e Paris Saint Germain pela Liga dos Campeões.

De acordo com a esposa, Roupakias estava em casa na hora do jogo e só saiu depois de receber um telefonema. Também parece que, um pouco antes de puxar a faca para Fyssas, ele ligou para a esposa pedindo que ela se livrasse da toda a parafernália relacionada a Aurora Dourada que eles tivessem na casa.

Neonazistas assassinando um inocente a sangue frio no meio da rua é realmente um ato abominável digno de uma resposta pública. Mas o que realmente enfureceu as pessoas de Atenas — pelo menos aquelas que marcharam por Keratsini ontem à noite — de acordo com testemunhas e imagens de uma câmera de segurança de uma loja local, é que a polícia estava presente na hora do assassinato e nem sequer tentou intervir.

“Pavlos tinha sido esfaqueado 20 minutos antes e conseguiu apontar seu assassino para o policial que chegou quando os bandidos fugiram. Uma ambulância chegou 50 minutos depois, quando já era muito tarde”, disse uma testemunha.

Depois do assassinato, a polícia invadiu escritórios da Aurora Dourada por toda Atenas. Ao mesmo tempo, o Ministro da Ordem Pública, Nikos Dendias, cancelou sua viagem a Roma e declarou que a reforma no código penal e uma nova definição para organização criminosa logo chegarão ao parlamento, visando deslegitimar as atividades do Aurora Dourada.

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Na maior mobilização social do país este ano, estudantes, esquerdistas, anarquista e antifas — assim como um monte de gente que não acha certo esfaquear pessoas na rua — tomaram as ruas para protestar em 18 cidades gregas, com muitas dessas marchar resultando em confrontos com a polícia.

O fotógrafo Vassilis Mathioudakis e eu chegamos à manifestação de Atenas por volta das 19h, quando as pessoas ainda estavam se reunindo. Sem surpresa, a polícia já mostrava pouca consideração com a etiqueta de protesto; logo depois que a marcha começou, eles passaram a espancar a massa reunida de manifestantes, com policiais da tropa de choque acertando pessoas por todos os lados. Logo, um policial disparou um cartucho de gás lacrimogêneo diretamente na multidão, acertando um jovem azarado bem no rosto. Esse cara acabaria perdendo o olho.

Um pouco depois, moradores do bairro vizinho, Perama — onde nove membros do Partido Comunista (o KKE) foram atacados alguns dias antes — apareceram em massa, alguns deles com uma faixa do KKE. É a primeira vez que o KKE protesta juntamente com outros manifestantes de esquerda desde a greve nacional de 2011, que acabou em confrontos entre membros do PAME (os sindicalistas do Partido Comunista) e os anarquistas, resultando em uma morte.

Grande parte da multidão era formada por adolescentes, e eu me aproximei de um deles para perguntar por que ele tinha vindo protestar. “Este é o nosso bairro e não vamos aceitar que esses filhos da puta fascistas tomem conta dele”, ele disse. Ele e seus amigos eram grafiteiros da cena de hip hop local e disseram ser fãs do Killah P.

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Apesar de toda a violência dos policiais, as passeatas eventualmente conseguiram se juntar. O sentimento entre os manifestantes era ambíguo; por um lado, algumas pessoas pareciam perceber que um monte de esquerdistas confrontando a polícia era exatamente o que a Aurora Dourada queria. Por outro, alguns estavam realmente putos, e sentiam que um confronto era exatamente o que precisavam para a ocasião. Inevitavelmente, algumas pessoas sucumbiram à raiva e jogaram pedras quando o protesto passava por uma delegacia de polícia.

No meio da marcha, a Tropa de Choque apareceu de uma rua próxima e começou a disparar gás lacrimogêneo na multidão, separando a galera em duas partes e empurrando o grupo maior de volta para o ponto de partida. Vi policiais em motocicletas perseguindo a multidão com cassetetes em punho, acertando as pessoas quando passavam por elas.

Moradores idosos da região foram espancados enquanto tentavam ajudar os manifestantes e 40 pessoas foram presas no terraço de um bloco de apartamentos. Centenas fugiram da cena em qualquer direção que parecesse menos cheia de homens de uniforme. Enquanto a polícia e os manifestantes lutavam, pessoas em roupas comuns jogavam pedras nos esquerdistas de trás da linha da polícia e sem que os policiais fizessem nada para impedir. Claro, algumas pessoas presentes suspeitavam que os homens à paisana eram simpatizantes da Aurora Dourada, mas isso não foi confirmado ainda.

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De acordo com a polícia, 130 pessoas foram detidas depois dos confrontos em Atenas, com 34 presos e 31 pessoas hospitalizadas.

Chrysanthos Lazaridis, assessor do primeiro-ministro Antonis Samaras, fez um pronunciamento ao vivo na TV ontem, afirmando que a violência política vem de muitas direções, inclusive da retórica do principal partido de oposição, o SYRIZA. Os manifestantes com quem conversei não estavam satisfeitos com essa análise, já que estavam protestando contra um assassinato político de um ativista de esquerda cujo corpo não tinha nem esfriado.

Esta manhã, milhares de pessoas acompanharam o funeral de Pavlos Fyssas no cemitério de Schistos. Enquanto o rapper era enterrado, as pessoas gritavam “Morte ao Fascismo” e “Um no caixão, mas milhares ainda na luta” — lemas usados comumente em protestos antifas.

A Aurora Dourada, que nega qualquer responsabilidade pelo crime, planejava realizar um comício esta noite no local do assassinato, mas o evento foi cancelado hoje de manhã. Provavelmente o melhor a fazer.

Depois de um período de relativa calma no país mais revoltado da Europa, parece que a Grécia caminha na direção de outro surto de instabilidade e tensão. E com greves organizadas de diversos setores marcadas para a próxima semana, provavelmente não teremos que esperar muito para ver.

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Anteriormente:  Um Membro da Aurora Dourada Assassinou um Rapper Antifa Ontem em Atenas

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