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Tecnologia

"Dark Web É o Novo Caminho para a Liberdade Cognitiva", Diz Advogada

Sites como Silk Road tornaram as drogas psicodélicas mais acessíveis e seguras, complementa a pesquisadora.
Preparação da ayahuasca. Crédito: Jairo Galvis Henao/Flickr

"Poder utilizar drogas psicodélicas é um direito humano e os mercados negros da web são fundamentais para garanti-lo", defende a advogada Charlotte Walsh, professora na Universidade de Leicester, na Inglaterra.

Em sua fala no fórum de drogas psicodélicas Horizons: Perspectives on Psychedelics (Horizontes: Perspectivas sobre os Psicodélicos, em tradução livre), na semana passada, Walsh afirmou que sites de comércio da deep web como Silk Road representam um forte movimento que propaga a "ideia de que devemos poder consumir aquilo que conseguirmos adquirir".

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"A criação de mercados de drogas pela internet pode, na melhor das hipóteses, ser vista como mais um exemplo dos movimentos marginais que ajudam a sociedade a progredir", ela afirmou. "Esses desenvolvimentos também podem ser vistos, quem sabe, como o fim da proibição."

Walsh acredita que a proibição às drogas vai contra o direito fundamental de "liberdade cognitiva" – isto é, a liberdade de controlar nossos processos mentais, a cognição e a consciência.

A advogada lembra que há algumas leis de exceção que permitem que drogas sejam utilizadas em rituais religiosos. Para ela, não é suficiente: as substâncias deveriam estar disponíveis para toda a sociedade como parte do direito individual de controlar sua consciência.

"Assim como a hidra da mitologia, cada vez que uma cabeça é cortada, surgem outras."

Ao citar o livro Drugs Unlimited, do jornalista Mike Power, ela afirma que os arquitetos do Silk Road fizeram grandes avanços na missão contra as leis antidrogas opressivas.

"Em apenas dois anos, os administradores do Silk Road utilizaram tecnologia para conseguir o que milhares de ativistas vêm tentando desde os anos 1960: o direito de comprar e vender compostos químicos naturais ou artificiais que afetam a consciência da forma como desejam, sem a interferência do estado", ela afirmou. "É uma quebra de paradigma que não pode ser facilmente revertida."

Ela afirma também que o Silk Road introduziu estratégias de diminuição de danos que tornaram o consumo de drogas psicodélicas mais acessível e menos perigoso – um argumento que, vale lembrar, o juiz do caso do fundador do site rejeitou completamente.

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Walsh afirma que, apesar do fechamento do Silk Road, o cenário criado pelo site é irreversível.

"Embora Ulbricth tenha pagado o preço com sua liberdade, sites como o Silk Road continuam a proliferar na deep web", ela afirmou. "Assim como a hidra da mitologia, cada vez que uma cabeça é cortada, surgem outras. Há sempre um site novo pronto para substituir aquele que foi fechado – e, partindo de uma perspectiva baseada nos direitos, isso pode ser visto como algo bom."

O ponto de vista de Walsh é apoiado pelos dados. Números do Global Drug Survey de 2015 mostram que mais pessoas compraram drogas na dark web depois que o Silk Road fechou em 2013. Ela afirmou que a proliferação desses mercados irá, por fim, forçar os governos a reconsiderar as leis sobre as drogas e "o alcance do controle pelo estado de nossa liberdade cognitiva".

Como membro do Centro Internacional sem fins lucrativos para Educação, Pesquisa e Serviços Etnobotânicos (cuja sigla em inglês é ICEERS), Walsh trabalha para proteger essa "liberdade". Ela ajuda com defesa legal em casos relacionados a "etnobotânicos" como a ayahuasca e o peyote.

"Devemos trabalhar com o sistema que temos e avançar aos poucos, porque, logicamente, a proibição não vai entrar em colapso de uma vez, mas sim, passo a passo", afirmou.

Tradução: Amanda Guizzo Zampieri