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O que a queda de Renan Calheiros significa para Michel Temer

Presidente do Senado foi afastado por liminar do STF. Novo presidente é o petista Jorge Viana, que pode barrar a votação da PEC 55 em 2016.

Foto: Agência Brasil.

2016 só acaba quando termina — que o diga Renan Calheiros (PMDB-AL). O senador foi afastado da presidência do Senado no fim da tarde desta segunda-feira (5) por decisão liminar proferida pelo ministro do Supremo Tribunal Federa Marco Aurélio de Mello. Concedida a pedido da Rede, a liminar já está valendo, mas ainda precisa ser julgada pelo plenário do Supremo, o que deve acontecer nesta quarta (7). Em novembro o STF havia decidido, com seis votos, também em ação proposta pela Rede, que réus não poderiam ocupar a presidência da Câmara ou do Senado, por estarem na linha sucessória da presidência. A ação poderia estar valendo, mas o ministro Dias Toffoli pediu vistas e o processo permaneceu parado. Quando Calheiros se tornou réu no STF na quinta-feira (1º) ao ser acusado de desviar dinheiro de seu gabinete para pagar a pensão de uma filha em 2005, a Rede voltou e conseguiu apear Renan da presidência.

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Renan foi um dos principais alvos das manifestações "anticorrupção" que aconteceram em parte das capitais brasileiras neste domingo (4). As passeatas vieram no embalo da votação dos "dez medidas contra a corrupção" propostas pelo MPF, que tiveram o texto alterado pela Câmara, e contra o projeto de lei de abuso de autoridade patrocinado por Renan no Senado. Apesar disso, a patriotada primaveril não parece ter mexido com Mello, que na verdade acabou citando outro hirsuto caso na sua decisão contra Renan: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara cassado e agora preso cuja derrocada se iniciou com uma decisão unânime do STF.

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Acontece que, à despeito de qualquer teoria da conspiração flutuando por aí, o regime Temer foi pego de calças curtas pela decisão do Supremo. Com a saída de Renan da presidência, quem assume é o vice Jorge Viana (PT-AC), enquanto o presidente do Congresso (a soma dos parlamentares da Câmara e do Senado) fica na mão do vacilante deputado Waldir Maranhão (PP-MA). E é aí que a porca torce o rabo. Nem bem esfriou o cadáver de Renan e a oposição já está tramando para paralisar a votação da PEC 55 (ex-PEC 241, que congela os gastos do governo por vinte anos), pelo menos até o início do ano, quando a curto mandato de Viana acabaria. Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), "não há clima" para a votação, afinal o país passa por "uma crise institucional grave" e está "à deriva".

Com o terceiro presidente deposto no país em 2016, o argumento de Farias faz sentido, ainda mais diante da fragilidade que se abate sobre Temer e seus asseclas. Depois de rebolar para se descolar do escândalo que derrubou um de seus ministros mais próximos, Geddel Vieira de Lima (PMDB-BA), o ex-interino agora se vê às voltas com os claros sinais de que a recuperação econômica vai ser bem mais lenta do que desejava, com um possível cenário de recessão em 2017, mantendo os altíssimos níveis de desemprego. Para garantir a entrada de investimentos externos – que não se sabe mais se virão, uma vez que a instabilidade representada por Trump fez os investidores correrem ao dólar e aos EUA – o governo aposta nas medidas de austeridade, como a PEC 55 e a Reforma da Previdência, que foi encaminhada ao Congresso nesta segunda. Só que, para isso, em tese, Temer se propôs a "agir rápido", dando uma insuspeita confiança para o "mercado". Porém, se a disposição petista ganhar corpo, Temer vai ter que esperar, o que pode também arrefecer o ímpeto CDF de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara que queria fazer a Casa trabalhar em janeiro para adiantar as mudanças na aposentadoria do brasileiro. Com o ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o presidente do Banco Central Ilan Goldfajn ainda presos ao governo por um fio, é uma péssima hora para encarar mais uma crise política – por isso mesmo, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, se adiantou em garantir que a votação da PEC 55 segue como antes, programada para o dia 13.

A saída de Renan joga mais lenha na fogueira que começa a fustigar o popô de Temer. Ainda na segunda, o chefe da Casa Civil Eliseu Padilha (PMDB-RS), seu último superministro (Moreira Franco, único outro político do "núcleo duro" que permanece no Planalto, tem status de secretário), teve R$ 108 milhões bloqueados pela Justiça de Mato Grosso por degradação ambiental. Com um processo pedindo a sua cassação correndo no TSE – com direito a cheque nominal e tudo – e provável aprovação baixa na esteira da recuperação econômica até então inexistente, Temer começa a temer pelo pior. O PSDB, que entrou com o pedido de cassação da chapa no TSE, reiterou seu apoio ao presidente nesta segunda, numa nota assinada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), dias depois de fofocar por aí sobre uma possível eleição indireta de FHC. Em tese, a suposta sucessão é coisa só para 2017, mas como os capítulos finais de 2016 não estão deixando barato, tudo é possível.

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