Se Apaixonando no LARP

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Viagem

Se Apaixonando no LARP

O fotógrafo alemão Felix von der Osten explica o apelo que o Live Action Role-Playing tem para tantas pessoas e como isso acaba ajudando os participantes a desenvolverem habilidades para o mundo real.

Todas as fotos cortesia de Felix von der Orsten.

O fotógrafo alemão Felix von der Osten ganhou o prêmio de fotografia descoberta de estudante do British Journal of Photography pela série The Buffalo That Could Not Dream feita na reserva indígena Fort Belkap, em Montana. Mas, antes de centrar sua atenção nessa comunidade tradicional do grande noroeste dos EUA, ele estava documentando outro grupo na Alemanha: LARPers. Eu me encontrei com ele para discutir o apelo que o Live Action Role-Playing tem para tantas pessoas e como isso acaba ajudando os participantes a desenvolverem habilidades para o mundo real.

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VICE: Você teve uma razão em particular para começar esse projeto, fora ter o nome perfeito para LARPing?
Felix von der Osten: Eu estava interessado em pessoas que usavam trajes medievais; então, comecei a fotografar no Spectaculum – um festival perto de Colônia. Eu tinha uma amiga na cena que estudava comigo em Dortmund; assim, perguntei se podia fotografá-la e conseguir o contato de outros. As pessoas ficaram felizes em me encontrar e eram muito abertas para falar disso. Há muito equívocos cercando o LARP.

Tipo o que, exatamente?
Muita gente acha que os LARPers estão fugindo da realidade. O mais interessante para mim foi descobrir o que isso realmente significa para eles e por que uma pessoa escolhe ser um servo num pub antigo quando podia ser um rei ou um cavaleiro. Descobri que isso é mais sobre tentar coisas novas, estar em situações sociais diferentes, embora num ambiente protegido. Há sempre aqueles que levam isso mais a sério do que outros, mas nessas condições há a oportunidade de se testar diferentes habilidades sociais.

Eles experimentam traços de personalidade com os quais não estão confiantes o suficiente no mundo real?
Sim, com certeza. Essa é uma das grandes vantagens de participar. Você não tem nada a perder, nada pode te acontecer, é tudo um jogo. Eles falam muito sobre "no jogo" e "fora do jogo". Você pode ser extremamente agressivo no comércio, por exemplo, algo que você nunca faria numa situação real.

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As pessoas acabam vendo o personagem surgir fora do jogo? Isso confunde as coisas?
Não realmente. Não conheci ninguém tão extremo. Mas algumas pessoas são seus personagens no jogo mais do que eles mesmos. Em qualquer subcultura, você sempre encontra esses extremos dos dois lados. Pelo que experimentei, todos são racionais o suficiente para saber o que estão fazendo. Eles estão apenas se divertindo. Esse é o principal objetivo, acho: sair um pouco de sua vida normal e fazer algo diferente.

Você consegue se ver participando disso?
Para mim, poder fotografar isso foi algo intermediário, o que foi bem legal. Pude estar com eles, experimentar isso e fotografá-los ao mesmo tempo, mas sem me envolver completamente. Eu não estava num personagem; então, podia ser estranho abordar alguém que não queria sair do seu personagem para falar comigo.

Como você contornava isso?
Às vezes, eles falavam um alemão muito antigo, e então eu tentava adaptar [o diálogo] no mesmo estilo. Eles podiam dizer algo como "O que você está fazendo com esse estanho aparato de lentes na frente dos olhos?". Porém, se você respondesse brincando também, eles falavam com você. Mas, na maioria das vezes, eles só queriam ser fotografados, porque passam muito tempo preparando as fantasias.

Fiquei realmente surpreso com a atenção aos detalhes que há nesses personagens – não só na aparência, mas também na personalidade.
Sim. Eles pensam em toda a história do personagem, isso é forjado por anos. Mas pode acontecer de o seu personagem morrer num festival de LARP, e todo esse trabalho já era: você precisa pensar num novo personagem.

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O que acontece nesses festivais quando eles não estão posando para fotos ou lutando uns com os outros?
Andando entre as barracas, você pode ver quanta coisa louca acontece. Você pode ser parado por dois caras que querem roubar todo seu ouro, mas, no final, consegue matá-los facilmente. Todos disseram que esta é a parte favorita deles: acampar por vários dias nos festivais.

Parece que há muitas mulheres envolvidas no LARP.
Sim: é quase metade, metade. Falei com uma garota que era serva num bar. Ela adorava estar num ambiente de bar e ouvir as pessoas contando histórias. Outra garota – o nome dela era Cookie – gostava de distribuir cookies e estava sempre rindo. Ela entrava em qualquer situação tensa, fazia alguma palhaçada e as pessoas ficavam felizes de novo.

O que acontece com um relacionamento nesse mundo de fantasia? Isso continua no mundo real?
Um casal de amigos se conheceu enquanto eles estavam nos personagens, mas fora desse mundo ficcional era estranho, porque eles não tinham do que falar. Eles não sabiam nada sobre o eu verdadeiro um do outro – eles só conheciam o personagem do jogo. Então, eles tiveram de se conhecer de novo.

Foi um desenvolvimento interessante, mas eles conseguiram no final. É o que eu disse antes: talvez você não seja esse cara que acha fácil conversar com garotas; no entanto, quando está no personagem, você está mais disposto a tentar coisas que normalmente não tentaria. Você pode testar essas habilidades lá e depois usar isso no mundo real.

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Tradução: Marina Schnoor