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Tecnologia

​Cientistas Querem Extrair Ouro da Nossa Bosta

Depois do "diamante de sangue", conheça o "ouro marrom".
O centro subterrâneo de tratamento de detritos ​HSY Viikinmäki, na Finlândia. Crédito: Hugovk/Flickr

Anualmente, os norte-americanos mandam privada abaixo uma fortuna. Literalmente. Mais de 7 milhões de toneladas de biosólidos – aquele lodo do esgoto tratado – passam por estações de tratamento nos EUA por ano. Em meio à nossa merda estão quantidades surpreendentemente grandes de prata, ouro e platina.

Mas nossos dias de desperdiçar resíduos humanos podem estar contados, caso Kathleen Smith do Departamento de Pesquisa Geológica dos EUA - USGS tiver algo a dizer sobre o assunto. Ela lidera um novo programa de pesquisas que estuda a viabilidade de extração de metais preciosos do esgoto. Como explicará Smith na terça-feira em uma coletiva de imprensa no encontro anual da Sociedade Química Americana, recuperar metais a partir de resíduos poderia reduzir a necessidade de mineração danosa ao meio-ambiente, e de quebra fazer dos biosólidos uma fonte mais segura de fertilizantes.

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"Os metais estão em toda parte", declarou Smith. "Se você conseguir se livrar de alguns dos metais que limitam o quanto destes biosólidos podemos usar no campo e em florestas, e ao mesmo tempo recuperar metais valiosos e outros elementos, todos saem ganhando."

Em estações de tratamento, o esgoto puro passa por uma série de processos físicos, biológicos e químicos, transformando-se então em água tratada e resíduos sólidos. Por volta de 60% destes sólidos são checados rotineiramente em busca de metais pesados como chumbo, arsênio, cádmio, mas poucos estudos verificaram nossos resíduos em busca de algo valioso como, digamos, ouro ou platina.

Mas isso está prestes a mudar. No começo deste ano, um estudo liderado por Paul Westerhoff da Universidade Estadual do Arizona traçou o perfil de mais de 50 metais em amostras de resíduos sólidos de 94 estações de tratamento espalhadas pelos EUA. A maioria das amostras estavam substancialmente enriquecidas com metais raros e preciosos do mesmo grupo da platina, como ouro e prata. Extrapolando a partir destes dados, os autores do estudo chegaram à conclusão de que os resíduos produzidos anualmente por um milhão de cidadãos norte-americanos poderia conter 13 milhões de dólares em metais. Isso dá mais do quatro bilhões de dólares de ouro saindo de nossos bumbuns anualmente.

Partículas microscópicas ricas em ouro e chumbo em uma amostra de resíduos sólidos municipais. Crédito: Heather Lowers, Laboratório Microbiano do USGS Denver

A equipe de Smith agora está diante de uma missão para descobrir quais metais são mais economicamente viáveis de serem recuperados, e como extraí-los.

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"Há uma abordagem em duas frentes", disse. "Em uma parte da pesquisa, estamos estudando como remover alguns metais regulamentados dos biosólidos que limitam seu uso no solo. Na outra, nosso foco é coletar metais valiosos que poderiam ser vendidos, incluindo aqueles de maior importância tecnológica, como o vanádio e o cobre presente em celulares, computadores e ligas metálicas."

Para tanto, a equipe trabalha para modificar os processos de extração usados na mineração industrial para remoção de metais a partir de minerais. "As técnicas de extração tradicionais se comportarão de forma diferente com a matéria orgânica [nos biosólidos]", disse-me Smith, ao telefone. "Mas se encontrarmos um extrator que desempenhe bem seu trabalho, este procedimento poderá ser incorporado aos atuais tratamentos destes resíduos."

Smith e seus colegas também planejam examinar resíduos por todo o país em busca de metais preciosos, a fim de encontrar algum padrão geográfico ou demográfico em sua distribuição. Até o momento, o grupo recolheu resíduos de diversas cidadezinhas na região das Rochosas, áreas rurais e grandes cidades. Impressionantemente, em quase todas as amostras examinadas, a equipe se deparou com concentrações de ouro comercialmente mineráveis.

"O que é interessante é que estamos encontrando quase a mesma concentração de ouro em todas estas amostras", disse Smith. "Parece que existe uma fonte prevalecente no geral."

Ainda não está claro como estes metais preciosos vão parar em nossa sujeira, disse Smith. Potenciais culpados incluem produtos para o cabelo, cosméticos, detergentes. Mas os humanos também podem estar desempenhando um papel mais direto ao concentrar os traços de metal que absorvemos durante a digestão, mandando descarga abaixo fezes fortificadas com prata e ouro.

Seja lá qual for o motivo, uma coisa está clara: nossos esgotos são muitos mais belos do que esperávamos.

Tradução: Thiago "Índio" Silva