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Tecnologia

​A deep web agora tem sua própria revista literária

Os dois editores nos explicaram como o anonimato pode servir pra bons debates e melhores textos.
Tela da revista digital. Crédito: The Torist

O anonimato é um campo fértil para a criatividade e para a inovação. É com base nessa premissa meio Vale do Silício e meio underground que alguns editores elegeram o serviço oculto Tor como o melhor lugar para publicar uma revista literária digital sobre temas sociais.

Editada por Robert W. Gehl, um professor do Departamento de Comunicação da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, e um misterioso editor cujo pseudônimo é GMH, a revista The Torist (um trocadilho com "tourist", turista em inglês, e Tor, uma das redes de anonimato para acessar a internet não-indexada pelos buscadores da web tradicional) teve sua primeira edição lançada nas profundezas da internet no último fim de semana. Trata-se, segundo a dupla, de uma coletânea que une ficção, poesia e não-ficção.

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O projeto nasceu há cerca de 18 meses no Galaxy, uma rede social da deep web. Em entrevista ao Motherboard via conversa criptografada, Gehl e GMH disseram que na época estavam discutindo sobre questões como feminismo e literatura.

"Eu estava muito empolgado com a atmosfera do Galaxy, era muito diferente de todas as outras redes sociais que já havia usado na internet normal", disse GMH. "Pensei que aquela atmosfera diferente poderia resultar num zine muito interessante." Os usuários do Galaxy, conta GMH, não queriam mais ser monetizados pelas grandes redes sociais — eles queriam outras opções.

Os dois editores propõem várias questões na introdução da primeira edição da revista. "Se uma revista é publicada num serviço oculto do Tor, como isso afeta sua produção? Qual são as diferenças entre essa produção e a produção de revistas literárias na internet normal? Qual é, afinal, o público de uma revista literária publicada na deep web?", escrevem.

De fato, ao ler todos os textos da revista de uma vez, Gehl afirma ter "percebido a ansiedade intrínseca à vida num estado de vigilância".

"Receberemos novos textos o ano inteiro"

Após GMH ter sugerido a criação do The Torist, Gehl decidiu abandonar seu pseudônimo e tocar o projeto com seu nome real.

"Pensei nisso por um bom tempo", disse Gehl. "Pensei que, como o GMH, o responsável pela manutenção dos servidores, usa um pseudônimo, eu poderia ser a parte 'confiável' da dupla".

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"O anonimato me permite explorar novas ideias e não me preocupar constantemente com os resultados", disse GMH, que se descreve como um especialista na área de humanas que sempre se dedicou também à área de tecnologia.

Uma das razões pelas quais eles escolheram utilizar um serviço oculto do Tor é enfatizar que sites do tipo têm várias funções além de vender drogas, armazenar pornografia e servir para grupos mal intencionadas se reunirem.

"É uma ideia curiosa — ir contra as ideias tradicionais de anonimato e criptografia", disse Gehl.

Já GMH afirma que seu objetivo é "mostrar o outro lado do Tor: uma forma de usar a internet, mas sempre preservando nossa dignidade e o direito de proteger nossa vida pessoal".

"Acredito que a comunicação, especialmente o que lemos na internet, deveria ser algo privado, passível de interferência somente em circunstâncias excepcionais", acrescentou.

No momento, a dupla tirou férias do The Torist, mas as próximas edições estão por vir.

"Receberemos novos textos o ano inteiro", disse GMH.

Tradução: Ananda Pieratti