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Ajoelhaço. Não, Não é isso que Você tá Pensando

O quão fofo não deve ser receber uma rosa de alguém que nos outros 364 dias do ano só olhou pra sua bunda, fez dos happy-hours uma sessão de sit down comedy machista e, pra provar que "foi tudo brincadeira", ainda pagou como drinque aquela cerveja da...

Com certeza você tem alguma amiga que já sentou o pau no Dia Internacional da Mulher – o pau, aqui, no sentido de 'cassetete', óbvio, porque caso essa sua colega tenha um pau no sentido de 'que recebe boquete', então a homenagem do dia 8 de março não é exatamente pra ela. Mas a real é que ela tem mesmo motivos pra desmerecer essa data. Afinal, o quão fofo não deve ser receber uma rosa de alguém que nos outros 364 dias do ano só olhou pra sua bunda, fez dos happy-hours uma sessão de sit down comedy machista e, pra provar que “foi tudo brincadeira”, ainda pagou como drinque aquela cerveja da loira hoteleira?

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Eu tenho vergonha de gente assim. Mas é que eu sou um cavalheiro, né? De abrir porta e deixar a mina passar primeiro, ir buscar a dona no ponto de ônibus a três quadras de casa e levar algumas Vices pra ela ficar lendo quando a bateria do carro zoa às cinco da manhã. Fazer o quê? Minha mãe me criou assim. Mas a maioria não é como eu. Provavelmente você também não. E provavelmente sua namorada está puta da vida lendo isso agora e pensando “por que ele não é como o Bruno?”.

Antes de me caçar na festa de hoje pra arrebentar minha cara – ou antes que sua mina cole na minha me querendo - vou te dar uma dica: você pode ser que nem eu. É só começar pedindo desculpas. Foi o que eu e mais uns 40 machões tatuados fizemos ontem no Ajoelhaço da Cooperifa. Já é o quarto ano que acontece essa homenagem, e lá a parada é séria. Tanto na hora do sarau quanto na hora da penitência, todo mundo cobra silêncio dos mais exaltados e presta atenção em cada palavra dita no mic. Isso tudo mesmo num dia de jogo do Santos e do Corinthians, com umas comidas delícia indo de lá pra cá junto com a cerveja. Ninguém mencionou gol de time algum, nenhum celular interrompeu os poetas e nem bêbado sem noção levantou a voz na hora errada. Bem parecido com os recantos mais bem frequentados da capital da província. Lá, no M'Boi Mirim, rola respeito e sinceridade, sem nada dessa politicagem pela-saco que se vê por aí.

O Ajoalhaço funciona assim: depois do sarau no bar do Zé Batidão do qual participa uma galera da comunidade  – organizado pelo Sérgio Vaz desde 2001 (sem qualquer apoio governamental ou de ONGs infestadas de europeus bonzinhos) e que junta gente branca, preta, fodidos, playboys, literatos e analfabetos –,  uma vez por ano o pessoal agiliza esse pedido de perdão coletivo na semana do dia feminino. As mesas do boteco são recolhidas, toda testosterona é reunida num canto, e, sob uma torcida de genes XX bradando “Ajoelha! Ajoelha! Ajoelha!”, todo malandro abaixa a cabeça e repete o poema em homenagem às presentes.

Mas isso me redime de tudo, Sérgião? Eu já esqueci data de namoro, peguei uma gordinha que deixou minha mina chateada, deixei ela na mão num dia que ela precisava, já maltratei garotas na balada… “Olha, se vai servir pra perdoar tudo eu não sei, mas só o fato de você estar de joelhos já mostra que você está sendo sincero. O Ajoelhaço é uma forma de praticar aquilo que se fala. É muito legal dar uma rosa pra uma mulher, mas quando você fica de joelhos você é mais sincero, não é?”

Enfim, tanto faz se você acha o Dia Internacional da Mulher o máximo, uma data sexista disfarçada inventada só pra aumentar vendas, ou se não dá de quatro porque acha que é coisa de submissa. A homenagem do pessoal da Cooperifa é a coisa mais legal entre as que têm alguma coisa a ver com o 8 de março e, até agora, a mais verdadeira que eu vi.

PS: Ah, e paixão, fiquei de joelho pra você, tá?