FYI.

This story is over 5 years old.

Vice Blog

É Assim que Seu Cérebro Fica Quando Você Fuma Maconha

Medindo os efeitos da erva usando um capacete de eletroencefalograma, um baseado e um cookie adulterado.

Foto via usuário do Flickr

Rafael Castillo

.

Ana Iorga é uma pioneira do neuromarketing especializada em pesquisas de mercado que usam eletroencefalograma, biometria e testes de associação implícita . Enquanto participava de uma conferência de publicidade em Amsterdã no mês passado, Iorga realizou um experimento inusitado para medir o efeito da maconha no cérebro humano, usando o capacete de eletroencefalograma que ela normalmente leva na bolsa.

Publicidade

"Notei que alguns participantes fumavam um beck durante as pausas e fiquei pensando no que acontecia em seus cérebros nesses momentos", ela me disse. "Como ainda não domino nenhuma técnica de leitura da mente, pensei em comparar as atividades cerebrais deles antes e depois de fumar maconha."

Dois colegas de Iorga toparam se sacrificar em nome da ciência: uma noite, depois do jantar, um deles acendeu um baseado enquanto o outro degustava um cookie adulterado.

"Antes de consumir os produtos, fomos até o bar do hotel e gravamos as atividades cerebrais deles", contou Iorga. "Depois de 15 minutos, repeti as medições. Eu tinha certeza de que veria uma diminuição da atividade cerebral, porque eles disseram que se sentiam mais lentos, mais ausentes e mais relaxados. Fiquei muito surpresa com o resultado."

O cérebro humano contém bilhões de células chamadas neurônios, que se comunicam uns com os outros através de eletricidade. As comunicações simultâneas entre os bilhões de neurônios produzem uma grande quantidade de atividade elétrica cerebral, que pode ser detectada e medida através da tecnologia da eletroencefalografia. Como esses impulsos elétricos são desencadeados periodicamente como ondas, eles são chamados de ondas cerebrais.

Sensores de eletroencefalografia medem a atividade dos neurônios localizados na superfície do córtex cerebral; e, no caso dos dois voluntários, mostraram uma alta frequência e amplitude depois do uso de maconha – com o ritmo cerebral mudando visivelmente se comparado à situação inicial.

Publicidade

Geralmente, estudos afirmam que o THC diminui o ritmo cerebral quando associado a um estado de relaxamento e o acelera quando associado a alucinações visuais ou viagens. Com as duas cobaias de Ana, "ficou claro que o ritmo cerebral acelerou depois do uso e que a amplitude das ondas era maior – o que não significa que as coisas funcionam de modo caótico, mas que o cérebro está num estado de alerta maior", explicou a neurologista Laura Crăciun. "Talvez o cara estivesse viajando ou tendo algum tipo de sentimento bizarro."

Crăciun enfatizou que, no caso do primeiro participante, havia um desequilíbrio entre a eletricidade cerebral no hemisfério esquerdo (que lida com lógica, linguagem e processos matemáticos) e o direito (onde processos de criatividade, intuição, arte e música acontecem) ao longo da sequência de registro das ondas antes de o participante ter fumado maconha. Isso significa que o desequilíbrio não é exclusivamente determinado pelo uso da erva.

Os dois voluntários tinham consumido uma quantidade moderada de álcool no jantar, o que não interferiu muito nos processos. Durante o experimento, os dois não tiveram de executar nenhuma tarefa, com sua atividade cerebral sendo medida em modo de relaxamento.

"Com o participante que comeu o cookie, o efeito foi tanto uma desaceleração – a frequência básica dos dois hemisférios diminuiu – e aceleração da amplitude, que é associada a um estado de relaxamento profundo, como o do sono", relatou Crăciun. "No primeiro registro, o ritmo cerebral é visivelmente mais rápido – no hemisfério direito, porque não vejo uma grande diferença no esquerdo –, além de menos simétrico e constante, mas eu não diria que o efeito é uma 'perturbação' das ondas cerebrais, mas, sim, como num estado de consciência."

Publicidade

Na trajetória do "antes" no vídeo acima, podemos ver as ondas cerebrais da pessoa que está em estado de descanso, antes de fumar maconha. A trajetória contém 14 registros, cada um de um eletrodo diferente (os eletrodos são igualmente divididos entre os dois hemisférios do cérebro).

É possível ver que a trajetória do "depois" é completamente diferente da primeira, com mudanças aparecendo tanto no nível morfológico (maior amplitude, aspecto típico) quanto em seu ritmo (maior frequência, aspecto caótico).

O participante está no mesmo estado de descanso do começo; por isso, sabemos que as mudanças no eletroencefalograma foram desencadeadas pelo impacto das substâncias no cérebro.

Tradução: Marina Schnoor