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O Panelaço Foi pra Paulista

Os paulistanos saíram da varanda pra protestar contra o governo federal. Organização e polícia divergem quanto ao número de presentes.

Hoje (15), a Avenida Paulista, em São Paulo, foi o principal polo do Brasil a reunir manifestantes insatisfeitos com o governo federal. De acordo com a Polícia Militar, um milhão de pessoas estiveram na região. Já o grupo Revoltados Online, um dos responsáveis por convocar o ato, falou em dois milhões. O Datafolha apurou 210 mil presentes.

Com ares de festa e Copa do Mundo, a manifestação pedia o impeachment da presidente Dilma Rousseff, criticava os casos de corrupção – enfatizando o escândalo da Petrobras – e o Partido dos Trabalhadores (PT). Alguns grupos pediam também uma intervenção militar no país. Objetos guardados no armário depois dos jogos do campeonato mundial ganharam vida novamente: camisas da seleção, buzinas, apitos, bandeiras e cacarecos em geral.

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De rosto pintado nas cores da bandeira brasileira, crianças, adultos, idosos e cachorros dividam espaço com grupos nacionalistas como o Carecas do Subúrbio, que teve 20 de seus integrantes presos nas proximidades do Metrô Consolação. Segundo a PM, eles portavam morteiros, soco inglês, máquina de choque e gás de pimenta. Informações recentes do 2º DP, no bairro do Bom Retiro, informam que os acusados tiveram seus materiais apreendidos e foram liberados em seguida.

Enquanto cobriam o ato, jornalistas da revista Carta Capital foram hostilizados e ameaçados pelos manifestantes de cima de um carro de som.

A VICE conversou com diversos presentes, que se dividiam entre a possível eficácia de um impeachment. Para a florista e professora de ioga Nélia Rios, uma reforma política teria mais valor. Com dois filhos morando no exterior, a manifestante segurava uma placa que dizia: "Quero que meus filhos se orgulhem em ser brasileiros". Ela explica: "Eles saíram do país com vergonha. Não querem nem passar as férias aqui".

"A nossa bandeira jamais será vermelha", "Ei, Dilma, vai tomar no cu" e "Lula cachaceiro, devolve meu dinheiro" eram alguns dos hinos mais cantados pelos manifestantes.

A favor do impeachment, o analista Ian Eriberto resolveu ser voluntário e colher assinaturas para um abaixo-assinado. "Acho que ela [Dilma Rousseff] tem de ser presa. Ela, o Lula e o PT inteiro têm de ser dissolvidos. Ela não poderia ser presidente da república com tantos processos, tanta corrupção no governo", afirmou.

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Divergências à parte, quem tirou proveito do domingo verde e amarelo foram os comerciantes de rua. Bandeiras (R$ 20), faixas de cabeça com a palavra "impeachment" (R$ 5) e camisetas baby look com uma imagem da presidente e os dizeres "Impeachment já" (R$ 20) eram alguns dos itens vendidos. O número de consumidores ávidos era tão grande que até o milho cozido (R$ 5) estava em falta. "Estou sem milho agora, mas estou cozinhando mais", relatou um ambulante.

Músicas como "Que País É Este?", da banda Legião Urbana, saíam dos carros de som em direção ao público, que ia ao delírio. Segurando uma criança nos ombros, o pai a incentivava a participar: "Vai, filha. Fala ´Fora, Dilma'". Ainda que incautos, os pequenos pareciam igualmente indignados, carregando cartazes e bradando "Fora, PT" com veemência.

Morador de Parelheiros, o vigilante Cosme Ramos aproveitou o dia de folga para ir ao ato e disse ter levado duas horas e meia até a Avenida Paulista. "Estou aqui lutando, desde a manhã", explicou. "Não vim por coxinha. Vim aqui por interesse próprio."

Fotos de manifestantes abraçando policiais militares e o empréstimo de cartazes para uma rápida selfie foram comuns no ato de hoje. Caso da publicitária Rita Reis, que perguntou a outra manifestante: "Posso usar seu cartaz rapidinho, por favor?". Depois da foto feita por um amigo, Rita falou à VICE que fez aquilo para mandar uma imagem para o filho, que mora em Manaus. Perguntada sobre o político ideal para ocupar o maior cargo no Palácio do Planalto, ela responde "Aécio [Neves]" e prossegue, dizendo que "o PT está há muito tempo no poder. Tudo bem que colocar outro partido vai ser a mesma coisa, mas temos de tentar sempre".