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Por Que Ainda Não Inventaram o Sonic Moralista no Facebook?

Assim como o He-Man, nosso porco-espinho preferido também curtia dar lições de moral ao final de cada episódio de seu desenho animado nos anos 1990. Selecionei as melhores dicas moralistas do Sonic.

No ano de nosso senhor de 1993, foi ao ar o desenho animado oficial do Sonic. Como tudo no Brasil chega depois, ele estreou em Pt-Br em 1994, passando até 1995. Embora uns dez anos após a estreia de He-Man, ele tem algo (fora a animação barata e roteiro tenebroso) em comum com o He-Man — ao final de cada episódio, nosso porco-espinho azul preferido dava lições de moral para os jovens viciados em videogame e televisão, tentando enfiar algum conteúdo educacional moralizante na meninada. Como todo canal privado ou institucional que tenta passar uma mensagem moral padronizada, essas dicas são curiosamente específicas ou ridiculamente genéricas, mostrando a falta de contato que os adultos produtores dos desenhos têm com os moleques consumidores desses produtos.

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É bom reparar que o Sonic do desenho representa o estereótipo de tudo o que eu mais odeio em um ser humano: ele é babaca, arrogante, cheio de si, cheio de certezas, presunçoso, etc. É o modelo de herói certinho que aprendi lendo os quadrinhos do Mickey Mouse, sempre arrumadinho, engomadinho e correto ao lado do desastrado, passional, raivoso, azarado e pobretão Donald — figura muito mais digna da minha empatia tropical.

Fiz uma breve seleção do quadro final do desenho Sonic Sez, no qual ele passa uma lição de moral nem sempre tão clara assim, e nem todas elas envelheceram tão bem. Se você tem dúvidas se está fazendo tudo certinho em sua vida, talvez esses insights de um desenho animado vagabundo licenciado de um personagem de videogame consigam te ajudar a medir um pouco melhor seu sucesso moral.

Gangues

Meu tipo preferido de lição moral para crianças é aquela que, em vez de ensinar aos pimpolhos o que não fazer, dá ideias erradas para os meninos com pouca imaginação, mas muita vontade de cometer o errado. Imagine um padre professor de educação religiosa no interior da Finlândia falando: “Cometer atos carnais com animais, por exemplo, cabritas, é um pecado horroroso e não deve nunca ser praticado!”. Logo em seguida, a criançada, em plena puberdade, depois de aprender o que significa "atos carnais", vai olhar para a cabritinha no sítio ao lado e começar a ter ideias meio pecaminosas. No caso das gangues, deve ter sido algo bem próximo a alguma realidade dos roteiristas desse desenho vagabundo, e capaz que tenha dado mais ideia errada pros moleques do que os ajudou a seguir o caminho direito.

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Todos têm algo a oferecer

OK, agora o porco-espinho tá sendo cuzão mesmo, vamos analisar. Compreendo passar para as crianças a ideia de que todos somos diferentes e que essas diferenças devem ser respeitadas, etc. Porém, o que o babaca do Sonic faz? Vê os coleguinhas de maneira utilitarista pensando no que ele pode proporcionar para os outros, não apenas como um ser autônomo diferente dele. Maldito porco-espinho pragmático. Sem contar que no decorrer de nossas vidas conhecemos pessoas que absolutamente não têm nada a nos oferecer, as pessoas não são coisas úteis e sim pessoas, e todos nós conhecemos filhos da puta com quem não somos obrigados a conviver e sim, isso faz parte do espírito democrático.

Fugir de casa

Não acho que seja legal incentivar crianças a fugir de casa, mas observando o vídeo consigo enxergar porque o pobre macaco robô queria dar o fora do laboratório do Dr. Robotnik — onde ele não é amado e é frequentemente lambuzado de óleo. Em vez de dar um exemplo palpável de uma casa onde a criança se sente protegida, o Sonic apenas fala pro macaco virar homem, engolir seco e continuar aguentando a barra de um lar abusivo e sem amor. Pensando bem, talvez seja sim um bom treino para a vida adulta.

Leis

Com a abstrata premissa de que o juiz é uma figura justa e de que as leis “estão aí por algum motivo”, Sonic, como o bom amigo e conselheiro superior que é, segue o preceito do quadro sobre fugir de casa e, num golpe de amor fati desajeitado, fala para seu amigo Tails calar a boca e aguentar o mundo como ele é, pois as coisas poderiam ser ainda piores. Uma espécie de vovô que viveu na época da guerra e é melhor você comer as ervilhas, quanta gente não está morrendo de fome por aí? Um show de cidadania e espírito livre Sonic, obrigado.

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Graffiti

Sonic chama Tails NA CHINCHA e explica o que é e o que não é arte. Não sem antes ir lá e dar uma bela de uma melecada na parede pública que estava povoada de inocentes graffitizinhos, o que, teoricamente, também é vandalismo. Destituindo o graffiti de seu contexto original, Sonic adiantou o processo da institucionalização da arte urbana fazendo assim avançar a discussão atualíssima de que a maioria do graffiti, quando simplesmente transposto para os suportes tradicionais das belas artes, sem uma pesquisa mais aprofundada de suas particularidades e sobre como traduzi-la para o ambiente interno do atelier, fica uma bela de uma bosta.

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