Fome, frio e ameaça: a ocupação dos estudantes das ETECs continua em SP
Foto: André Lucas/ C.H.O.C Documental

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Educação Ocupada

Fome, frio e ameaça: a ocupação dos estudantes das ETECs continua em SP

Sob ameaça de que o salário dos professores pode atrasar se o prédio continuar ocupado, os estudantes não pretendem sair do Centro Paula Souza enquanto suas pautas não forem atendidas.

Até a tarde desta sexta (29), alunos das ETECs (Escola Técnica Estadual) de São Paulo continuavam ocupando o Centro Paula Souza, na região central da capital. Eles reivindicam que as unidades passem a oferecer merenda, bandejão e vale-refeição aos alunos e contestam os cortes nos repasses à educação. Pela manhã, a diretora superintendente, Laura Laganá, esteve no local. Ela informou que caso o prédio não seja desocupado, o pagamento de salário dos professores poderá atrasar.

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Somente os seguranças terceirizados receberam autorização dos estudantes para adentrar o local, ocupado desde a tarde da última quinta (28). Funcionários e imprensa não passam do portão principal. "Sabemos que o contrato dos terceirizados é muito precário. E não queremos que eles se prejudiquem por faltar no emprego", informou uma das ocupantes à VICE.

Foto: André Lucas/ C.H.O.C Documental

FOME E FRIO

Em sua primeira madrugada, a ocupação seguiu com alguns percalços. "Não tínhamos almoçado. Ficamos com bastante fome a noite inteira", detalha a jovem. Estudantes e pais de alunos doaram bolachas de água e sal, bolachas doces, sanduíches e água. Havia também outra questão: o frio. Além da baixa temperatura na cidade (foi a madrugada mais fria de abril nos últimos 17 anos, registrando 11,8°C), o ar condicionado do Centro Paula Souza não estava regulado de acordo. Segundo a estudante, um funcionário tentou adentrar o local para regular o ar, mas os vigilantes não permitiram sua entrada. "Sentimos muito frio. Tanto que recebemos bastante doação de casaco e cobertor, que foram as coisas mais necessárias."

Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

Sem cozinha no lugar para preparar refeições, os estudantes se contentam, há 24 horas, com alimentos secos, como biscoitos, bolachas, pães, manteiga e frios.

Assim como nas ocupações dos secundaristas no ano passado, os jovens se organizaram em comissões: há turmas que cuidam da limpeza, da segurança, da comida e também da comunicação com os jornalistas.

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Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

NEGOCIAÇÃO COM A DIRETORA

Durante rápida passagem pela unidade na manhã desta sexta, a diretora pediu que os alunos se organizassem em uma comissão de 10 representantes para uma reunião com ela – o que não foi bem visto pelos ocupantes. "Isso é uma maneira muito clara de tentar boicotar o movimento e tentar convencer as pessoas a aceitar uma pauta muito reduzida", justificou a estudante. "Se ela quiser, ela tem que entrar dentro da ocupação e falar com todo mundo porque todo mundo tem direito de ser ouvido. Não vamos agredi-la, muito pelo contrário. Vamos recebê-la como qualquer pessoa. Vamos conversar com ela tranquilamente."

Para os alunos, colocar 10 menores de idade dentro de uma sala de reunião com a diretora do Centro é intimidador. "Sabemos que nessas mesas de negociação muitas vezes fazem-se acordos que só dão migalhas", pondera a aluna.

A diretora superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá. Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

Para eles, que justificam ter organizado diversos atos e outras mobilizações pedindo merenda, a ocupação é a melhor maneira para que suas pautas e reinvindicações sejam atendidas.

Sob ameaça do atraso no salário dos professores, cuja folha de pagamento e administrada pelo Centro Paula Souza, a estudante reforça que o movimento da ocupação é "político". "Não estamos querendo prejudicar ninguém, muito pelo contrário. Não somos nós que estamos os impedindo de receber. Sabemos que é o Estado que está fazendo isso com eles", pontuou.

Foto: André Lucas/C.H.O.C Documental

A MERENDA

A estudante que concedeu entrevista à VICE relata que na ETESP (Escola Técnica de São Paulo) do Bom Retiro, unidade na qual estuda, o bandejão – que oferecia refeições a R$ 5,90 – foi fechado no começo deste ano. "Temos de sair da escola pra comer e é uma comida muito cara. Como as escolas técnicas tem uma maioria que faz curso técnico no período da tarde, eles ficam das 7h30 às 16h45 sem comer e têm de pagar muito caro. Tem gente que não tem dinheiro."

Enquanto um canal de diálogo não for acertado pelos estudantes e pela diretora, os jovens permanecem no local. "A ocupação continua enquanto nossas pautas não forem atendidas", finaliza a estudante.

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