Kimbo Slice foi o primeiro a usar o YouTube para começar uma carreira esportiva
Kimbo Slice posa para foto antes de sua luta contra James Thompson em maio de 2008. Crédito:Getty Images

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Kimbo Slice foi o primeiro a usar o YouTube para começar uma carreira esportiva

Antes de “youtuber” ser profissão, o lutador de rua, falecido aos 42 anos esta semana, se revelou o showman perfeito para a era da internet.

O lutador de MMA Kimbo Slice morreu aos 42 anos, nos EUA, três dias após a lenda do boxe Muhammad Ali. Se Ali era o maior dos ringues, um lutador de técnica inigualável e extraordinária consciência – o atleta perfeito para os turbulentos anos 60 – Slice, que teve infância e adolescênciA complicadas, surgiu aos 20 e tantos anos como o maior do YouTube. Era o showman perfeito para a era da internet.

Slice, cujas lutas de rua eram produzidas pela Reality Kings e então subidas no YouTube, se tornou uma das primeiras estrelas do site. Seus virais, que incluíam ele arrancando o olho de um oponente de sua órbita (visto acima), eram obrigatórios para uma geração de jovens que se reuniam em torno de notebooks pra exclamar "puta merda!" enquanto viam Slice, de mãos nuas, socar seus oponentes sem dó nem piedade.

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Ao passo em que Slice saiu das lutas de rua para o MMA, perdendo uns 20 quilos no meio do caminho, as opiniões quanto a probabilidade de seu sucesso se dividiam. Ele havia perdido para Sean Gannon, policial com histórico no MMA e muitos especialistas presumiam que lutadores mais competentes dariam conta de Kimbo.

As primeiras lutas profissionais de Kimbo na organização Elite Xtreme Combat o colocaram diante das estrelas cadentes de uma era que há muito havia se passado: ele neutralizou o boxeador fora de forma Ray Mercer, conhecido por seu queixo de pedra, e acabou com um Tank Abbott muito distante de seu melhor, um porradeiro possivelmente mais famoso por praticar supino com 270 kg e sua disposição para lutar com mulheres.

Kimbo marcou um embate contra Ken Shamrock, outro veterano esquecido, que acabou nem acontecendo. O oponente de Slice, Seth Petruzelli, comentou que lhe haviam pedido para pegar leve com o novato, mas, mesmo assim, levou Slice ao chão em 14 segundos.

Apesar disso, Slice seguia rentável. Sua fama no YouTube confirmava que as pessoas queriam assistí-lo, independentemente de vitórias ou perdas. O presidente do UFC, Dana White, o colocou no reality show Ultimate Fighter, onde sofreu derrota vergonhosa para o corpulento Roy Nelson e posteriormente ganhou por pontos em uma nada inspirada luta contra Houston Alexander. Seu primeiro embate no UFC, em maio de 2010, foi tedioso; foi despachado sem qualquer dificuldade por Matt Mitrione e dispensado por Dana White.

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Os anos que se passaram entre a saída de Slice do UFC e contratação pela Bellattor, a segunda mais popular organização de artes marciais mistas dos EUA, no início de 2015, caracterizadas por falsas largadas. Ele participou de algumas lutas de boxe meio esculhambadas, fez graça de uma disputa com a falida estrela dos meio-pesados, Roy Jones Jr., e abriu mão de uma carreira no pro wrestling (esporte que parecia ser o perfeito para Kimbo, dado seu carisma), antes de fazer sua estreia no Japão.

As últimas duas lutas no MMA de Kimbo foram o encerramento adequado para sua carreira. Ele e Shamrock (já com mais 50 de anos) travaram luta em que Shamrock, apesar de pelo visto ter colocado Slice em uma posição complicadíssima, acabou perdendo por nocaute técnico, resultado que muitos viram como armado – o que não surpreendeu nenhum dos lutadores, dadas as alegações anteriores em torno de ambos.

Então Slice e o gigantesco brutamontes Dada 5000, que havia aparecido no documentário Dawg Fight e assumido o legado de Slice como rei das brigas de rua, caíram na porrada em três vagarosos rounds até Dada desmaiar de cansaço. Como Slice havia dado positivo para o uso do esteroide Nandrolone, a vitória escorreu por suas mãos; o resultado da luta, que atraiu impressionantes 2,5 milhões de espectadores, foi mudada para no-contest.

Dois meses depois, Slice viria a falecer. Seria tentador dizer que ele não atingiu seu potencial, mas o lutador de rua, que passou a juventude jogando futebol americano, chegou atrasado no mundo das lutas.

"Ele poderia ter sido um kickboxer de nível mundial", disse Ryan Christie, sargento aposentado do exército norte-americano que praticava kickboxe durante estadia na Coreia do Sul. "Sua postura era similar ao do kickboxe holandês, com chutes e socos em série. Kimbo não era espetacular, mas tinha uma boa velocidade e força para sua idade e peso."

Seu antigo oponente, Ken Shamrock, concordou com esta avaliação, comentando no Twitter que Slice deveria ser lembrado como um "guerreiro". "Mesmo quando ele vencia, não parecia ser o suficiente", complementou.

Mas o que importa mesmo é que Slice não era apenas bom, e sim a primeira grande estrela da era do YouTube, onde sempre viverá, deslocando globos oculares de suas órbitas.

Tradução: Thiago "Índio" Silva.