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A nova moeda da Venezuela já pode ser considerada um desastre

Com valor baseado na criptomoeda do governo venezuelano, o "bolívar soberano" causa confusão entre comerciantes e não resolve problemas econômicos do país.
Foto: Um homem exibe a nova nota de dez Bolívares Soberanos após sacá-la de um caixa eletrônico na sede do banco Banesco em Caracas, Venezuela, em 20 de agosto de 2018. (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

O presidente venezuelano Nicolás Maduro lançou uma moeda nova na terça-feira, cortando cinco zeros do antigo “bolívar forte”. A atitude teve como objetivo diminuir os problemas econômicos devastadores, mas, em vez disso, deixou os comerciantes confusos e não fez nada para enfrentar os problemas do país.

Por meio de mudanças radicais traçadas por Maduro na semana passada, o “bolívar forte” foi substituído pelo “bolívar soberano”, desvalorizando a moeda em até 90%. O valor da nova moeda será atrelado ao Petro, a criptomoeda lançada pela Venezuela em fevereiro e proibida pelos EUA de ser comercializada por cidadãos e entidades norte-americanos.

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As mudanças na moeda são parte de um conjunto de medidas que pretendem enfrentar a crise econômica do país. A turbulência causou a escassez de alimentos e medicamentos no país. A hiperinflação atingiu os 82.000% em julho, o que fez um quilo de arroz ser vendido por aproximadamente 2,5 milhões de bolívares. Essas mudanças significam que o mesmo produto custará aproximadamente 25 bolívares novos.

Foi reportado que em todo o país, na terça-feira, as ruas estavam mais silenciosas do que o habitual, com milhares de estabelecimentos fechados. Seus comerciantes não sabiam quanto cobrar pelos produtos, já que tanto os bolívares novos quanto os antigos estavam circulando. Nesse meio tempo, muitos trabalhadores do setor privado também acataram os apelos da oposição para uma greve geral, e o político da oposição Andres Velasquez estimou a participação de 60% da força de trabalho.



“Muitos comerciantes estão tentando compreender as medidas, o impacto nos preços em sua estrutura de custo, e isso fez muitos fecharem suas operações até que eles tenham mais clareza”, Carlos Cardenas, diretor do Latin America Country Risk da IHS Markit, contou à VICE News.

Jesus Rojas, vendedor de frutas na capital Caracas, contou à Reuters que seus empregados não apareceram para trabalhar e que o abastecimento foi limitado por causa da confusão a respeito das mudanças na moeda. “Meus funcionários não chegaram, e os fornecedores não entregam muito porque há muita incerteza a respeito dos salários e dos preços”, afirmou.

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Fotografia de um quilo de tomate ao lado de 5 milhões de bolívares, seu preço e o equivalente a 0,76 dólares em um minimercado em Caracas, Venezuela, em 16 de agosto de 2018. (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)

Em meio ao cenário de confusão pela troca de moeda, os analistas alertam que as mudanças parecem insuficientes para enfrentar os problemas econômicos do país, a exemplo da necessidade de reverter o declínio da produção de petróleo e a obtenção de financiamento para reestruturar o débito. Ao que parece, o governo continuará imprimindo dinheiro para permanecer em flutuação, acelerando o problema da hiperinflação.

“Eles dizem que estão tentando fazer algo para consertar a economia. Mas se trata de uma mensagem política”, ele afirmou.

“A realidade é que eles provavelmente continuarão com as mesmas políticas e essas alterações provavelmente criarão poucos efeitos positivos. É provável que continuaremos a ver a política de impressão de moeda para sobreviver politicamente.”

Matéria originalmente publicada na VICE US.

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